Recessão ou não, eis a questão: os EUA e a corrida contra os juros altos em 2024

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Após um ano de temores de que os Estados Unidos poderiam entrar em recessão a qualquer momento, a maior economia do mundo encerrou 2023 com indicadores demonstrando que o país continua resiliente. 

Para 2024, a expectativa é de desaceleração, ou “soft landing” com inflação mais comportada e enfraquecimento do mercado de trabalho, que ainda deve permanecer em patamares de pleno emprego, de acordo com Renato Nobile, gestor e analista da Buena Vista Capital.

“Uma recessão não está descartada, porém a probabilidade de ocorrer diminuiu com os dados mais robustos da economia, melhores resultados corporativos e menores custos de energia”, explicou. 

Atualmente, apesar de ter parado de subir, o juro americano está em níveis restritivos muito altos. Segundo Beto Saadia, diretor de investimentos da Nomos, o cenário é uma “corrida contra o tempo”, visto que quanto mais tempo nesse patamar, maiores são os riscos de uma ruptura na economia, que “geralmente vêm de repente”. 

“É da noite para o dia, principalmente por conta de notícias da quebra de alguma empresa relevante, bancária ou não, do principalmente do de setores frágeis dentro da economia”, afirmou. 

Saadia ressaltou que o mercado de trabalho é o maior peso na inflação do país e já era fato consolidado que o setor seria o último a ser derrubado, por conta da própria natureza do ciclo de alta de juros nos Estados Unidos. 

O primeiro impacto grande, ele prossegue, acontece nos setores mais cíclicos, como o imobiliário, depois nos balanços das empresas, então nos setores da economia, para no fim mexer com o mercado de trabalho.

“Isso já era sabido, mas, mesmo assim, o mercado de trabalho está muito resiliente, em função de um crescimento da economia que estava inesperado”, argumentou.

Ainda assim, o diretor frisa que muitos indicadores de inflação e de empregos melhoraram bastante ao longo do ano, principalmente nos últimos 6 meses, entretanto boa parte do mercado ainda não entende os dados como suficientes para uma vitória do BC americano. 

No fim das contas, nem o próprio Fed espera alcançar a meta de inflação até 2026. Todavia, o mercado está bastante otimista e passou a precificar a possibilidade do ciclo de cortes começar em março, de acordo com o analista da Benndorf Research Marco Ferrini.

O especialista, por outro lado, prefere adotar uma postura mais conservadora e acredita que o ciclo começará na reunião de junho, tendo em mente que a economia americana permanece robusta e a inflação é persistente. 

“Também há necessidade do Fed reancorar as expectativas de inflação após um período de extrema distorção e incerteza sem precedentes como foi a pandemia”, destacou.

Mesmo sem alcançar a meta ou desafogar o mercado de trabalho com mais oferta de empregos para reduzir a pressão salarial, Beto Saadia enfatiza que a sinalização do Fed foi “bem mais relaxada”, pois o próprio BC enxerga que, mesmo não tendo corrigido algum dos indicativos, alguma coisa pior pode acontecer na economia enquanto a taxa permanecer no patamar atual. 

Sendo assim, o diretor afirma que, independentemente dos dados do mercado de trabalho, é fato que o ciclo de cortes começará ainda este ano.

“A redução de juros é necessária justamente por conta de outros setores da economia que estão com riscos muito altos de quebra, o que pode virar uma bola de neve para a economia como um todo”, concluiu.

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