Resumo de Junho: Fim de semestre com inverno abaixo de zero

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Zerar os ganhos de 2022 não foi suficiente. No último mês do primeiro semestre de 2022, o Ibovespa derreteu 11,5%. A variação semestral (no caso, também anual) é menos dramática, de “apenas” 5,99% de queda, dos 104 mil e tantos pontos para a triste marca de dois dígitos de milhares: 98 mil pontos. Para muitos, tal patamar havia ficado para trás, em novembro de 2020.

Poderia ser pior. Pelo menos não estamos em bear market. Infelizmente, não é possível dizer o mesmo do S&P 500. Um dos principais índices de Wall Street amargou em junho o pior semestre desde que Richard Nixon ocupava a Casa Branca (dica: mais de meio século atrás). O tombo foi de aproximadamente 21% em 2022. Cortesia do Fed. 

Claro, a inflação também incomoda na Europa – tanto que uma gama de autoridades monetárias do Velho Continente decidiu elevar juros após no mínimo 10 anos sem fazê-lo. Ainda assim, foi a dúvida sobre a força da maior economia do mundo para suportar um aperto monetário que vitimou índices mundo afora, à exceção da China, o gigante asiático. 

A retomada da economia chinesa, aliás, foi um dos fatores que pontualmente animaram o investidor brasileiro. Entretanto, a empolgação durou pouco, e as preocupações com os rumos do hemisfério norte ocidental logo somaram-se às incertezas quanto ao caminho que o Congresso daria às contas do Brasil. 

 

mercado nacional 

Se dependesse do Banco Central, sairia tudo conforme o planejado. O Copom subiu a taxa de juros em 0,5 p.p. na primeira quinzena do mês, conforme o previsto. Todavia, existe um Fed notoriamente disposto a compensar o tempo perdido e uma guerra na Ucrânia que impedem a autoridade monetária brasileira de colocar um ponto final no ciclo de aperto da Selic. Afinal, não se sabe o quanto a macroeconomia global vai atiçar ainda mais o dragão da inflação por aqui. Sem falar na frouxidão fiscal, que exige rigidez adicional no aspecto monetário para compensar o expansionismo do outro lado.

Se, por um lado, o IPCA de maio veio abaixo do projetado, o IPCA-15 de junho veio acima das expectativas. Além disso, a economia brasileira deu sinais de força melhores que a encomenda. A despeito do PIB ter crescido aquém da projeção, o setor de serviços mostrou resiliência surpreendente, que levou analistas – como os do JP Morgan – a subirem as expectativas para a economia brasileira em 2022. O volume de vendas do varejo brasileiro teve a quarta alta mensal consecutiva, enquanto a taxa de desemprego medida pela Pnad Contínua caiu para o menor nível desde 2015.

As sinalizações de recuperação da economia nacional até ressoaram momentaneamente entre os investidores, mas se apagaram rapidamente diante do desenrolar incerto das propostas em Brasília. A PEC para reduzir o ICMS sobre combustíveis se arrastou no Senado o mês inteiro, sendo aprovada no dia final do semestre. O pacote inclui benefícios sociais que custarão R$ 41,25 bilhões fora do teto de gastos. A decretação de um estado de emergência foi o deus ex machina encontrado pelos parlamentares para possibilitar o estouro da âncora fiscal. De todo modo, está aprovado o teto de 17% para os impostos estaduais sobre combustíveis e energia.

Em outro esforço legislativo para tentar amenizar a pressão inflacionária, o Congresso aprovou uma medida que obriga distribuidoras de energia elétrica a utilizarem os recursos de impostos recolhidos indevidamente para abater na conta de luz. 

Energia e Estado envolvem duas empresas entre os maiores destaques no mercado de capitais no mês. A começar pela Eletrobras, cujo processo de capitalização finalmente saiu do papel. A oferta subsequente da companhia foi precificada acima do mínimo exigido pelo TCU e teve demanda superior à oferta. O governo efetivamente deixou de ser acionista controlador da ex-estatal em 13 de junho, data da estreia das novas ações. Os ativos preferenciais da empresa renovaram a máxima histórica no último dia do mês. 

O que a Eletrobras injetou de ânimo, a Petrobras sugou. Pouco após a petrolífera anunciar um reajuste de preços – o primeiro do ano para a gasolina –, o então diretor da estatal, José Mauro Coelho, renunciou ao cargo. O presidente Jair Bolsonaro já havia declarado antes a intenção de substituí-lo por Caio Paes de Andrade, então Secretário de Desburocratização do Ministério da Economia. A eleição do novo presidente não foi tão rápida quanto a dos anteriores, mas concretizou-se na penúltima semana do mês.  

Em meio a discussões sobre a política de preços da Petrobras, Bolsonaro e o presidente da Câmara, Arthur Lira, discursaram explicitamente a favor de uma eventual privatização da estatal. Nesse contexto, a empresa foi incluída no Programa de Parcerias de Investimentos (PPI), o primeiro passo para o processo de saída do Estado do comando da companhia. 

 

mercado internacional 

De um lado, inflação. Do outro, recessão. Na percepção dos investidores ao redor do mundo, os bancos centrais se encontram em um beco sem saída. 

A pressão dos preços altos – que só deixou de ser considerada transitória há pouco tempo – se mostrou mais persistente do que se poderia imaginar. O índice de preços ao consumidor da Zona do Euro renovou a máxima histórica novamente. Nos EUA, a inflação ao consumidor renovou o recorde de 40 anos, solapando expectativas de que o aumento dos preços tenha atingido o pico na maior economia do mundo, e o mercado de trabalho americano mostrou-se ainda mais aquecido que o previsto, conforme dados do payroll de maio. 

Para o Fed e outros bancos centrais, é hora de fechar a torneira dos estímulos monetários. O BC dos EUA fez o maior reajuste da taxa de juros desde 1994, de 0,75 p.p., o BC da Suíça elevou os juros pela primeira vez desde 2007, e o Banco da Inglaterra reajustou a taxa pela quinta vez consecutiva. As autoridades monetárias da Suécia e Noruega também tiraram os juros locais de mínimas históricas. 

O BCE ainda não se moveu efetivamente, mas confirmou a decisão de encerrar o programa de compra de ativos e começar o aperto monetário agora em julho, com um reajuste de 0,25 p.p. da taxa de juros. 

A guinada hawkish aguçou temores: será que as economias do Ocidente terão força para aguentar apertos monetários, ainda mais em meio a uma guerra no Leste Europeu? 

O presidente do Fed, Jerome Powell, validou a cautela ao afirmar publicamente que seria “desafiador” fazer um pouso suave da política monetária conforme o planejado. Entretanto, lampejos de esperança surgiram diante dos PMIs dos EUA. Ao virem abaixo do esperado, os indicadores levantaram a hipótese de que o BC americano não vai precisar ser tão agressivo para conter a inflação.

Na Zona do Euro e Reino Unido, os desempenhos da indústria e do setor de serviços vieram em mínimas de 20 meses. Se há dúvidas sobre a ocorrência de recessão nos EUA, na Europa há especulações de que ela já esteja começando. 

O atual estresse do mercado chega como um flashback dos tempos de pandemia. E, da mesma forma, a China foi a única na contramão. A segunda maior economia do mundo relaxou bloqueios adotados em função do recente surto de Covid-19 no país. Na esfera da política monetária, Pequim reforçou a postura acomodatícia sob promessas de mais estímulos à economia local. 

O Japão também reforçou uma política ultra-acomodatícia, o que pressionou o iene ao patamar mais baixo frente ao dólar em 20 anos. Entretanto, a postura expansionista do BC japonês não empolgou o investidor japonês como no país vizinho, e a bolsa nipônica amargou perdas semelhantes às de seus pares no Ocidente. 

 

commodities

Oferta monetária alta e oferta de petróleo reduzida na proporção inversa só poderiam resultar em combustível caro. O cenário ficou ainda mais turbulento após o embargo da União Europeia ao petróleo russo, anunciado no final de maio, de modo que nem a Opep conseguiu contornar a percepção do mercado. De acordo com grandes players, como o JP Morgan, o plano de aumento da produção da Organização é insuficiente para suprir a demanda global. Para completar, os EUA aplicaram novas sanções sobre o Irã, impedindo qualquer acordo adicional.

Todavia, os temores de recessão global (que poderia levar à queda brusca na demanda) levaram à commodity à queda no mês. O mesmo se deu com o minério de ferro, apesar do ânimo injetado pelo relaxamento das restrições na China.

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