Resumo de Março: a fórmula de sucesso continua dando bons resultados

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A combinação de alta das commodities e entrada de capital estrangeiro alçou o Ibovespa à condição de um dos melhores desempenhos mundiais pelo terceiro mês seguido. A fórmula bem-sucedida provocou um tombo de 7,78% do dólar – a maior desvalorização da moeda americana em todo o globo este ano. A cotação em torno de R$ 4,70 já reverbera em forma de planejamento de viagens para Disney e Miami (as ações da CVC que o digam), e o principal índice acionário brasileiro voltou a acenar para os 120 mil pontos, pela primeira vez desde agosto. Enquanto isso, o fluxo do dinheiro dos gringos, que somava R$ 91 bilhões até o dia 30, já superou em R$ 10 bilhões o saldo total de 2021. Pois é, nem a guerra freou o mercado brasileiro 

mercado nacional 

O início de mês foi minimamente conturbado: o investidor brasileiro retornou do Carnaval em plena guerra no Leste Europeu. O conflito, que já se arrasta há cinco semanas, de um lado começou a impactar negativamente as companhias nacionais dependentes das importações de insumos russos e ucranianos, como milho, soja, trigo, fertilizantes e placas de aço. Sem esquecer do petróleo russo, a lei da oferta e demanda se fez explicar novamente, em um aumento generalizado dos preços das commodities em geral – sendo o reajuste dos combustíveis a dor mais aguda no bolso do brasileiro. 

Entretanto, o decorrer do mês mostrou que o desespero quanto ao impacto da guerra não é para tanto (pelo menos não agora). Por mais que 30% dos fertilizantes importados venham da Rússia, a então ministra da Agricultura, Tereza Cristina – exonerada junto a oito ministros no fim do mês, para concorrer às eleições –, afirmou que o Brasil possui estoques garantidos até outubro e trabalha em medidas que visam o aumento da produção nacional desses insumos. 

O fato de a Rússia ter se cristalizado como non grata mundo afora também forçou os olhos do investidor externo a se voltarem ainda mais para o Brasil, uma vez que a economia tupiniquim é a mais similar à da terra de Vladimir Putin, em proporção e estrutura. Tendo a provedora global de índices MSCI excluído a Rússia dos índices de mercados emergentes, o Itaú BBA declarou que a mudança poderia favorecer a América Latina. Não se sabe se a previsão estava correta, mas é fato que Brasil, México e Uruguai têm sido os destaques de 2022 tanto em termos de desempenho dos índices acionários quanto de fortalecimento ante o dólar. 

Mas notícia boa nenhuma abafa completamente o rugido do dragão inflacionário, principalmente com a valorização do petróleo estampada nas tabelas de preço dos postos de gasolina. O assunto inevitavelmente suscita temores de ingerência política na Petrobras. O presidente Jair Bolsonaro chegou a trocar o presidente da estatal, de Silva e Luna para Adriano Pires (declaradamente favorável à política de paridade internacional de preços). Antes da substituição, Paulo Guedes já havia sido categórico ao mandar todos esquecerem “esse troço” chamado reajuste de preços de combustíveis. O Congresso também quis se posicionar a respeito, aprovando projetos referentes ao ICMS e subsídios para motoristas de baixa renda. 

Além da pauta da gasolina, o Governo Federal tratou de reduzir em 25% o Imposto sobre Produtos Industrializados (IPI) logo após o Carnaval. A pretensão era fazer outro corte na alíquota no último dia de março, em 33%, mas Bolsonaro desistiu da ideia para favorecer os produtos da Zona Franca de Manaus. O recente aumento da arrecadação federal foi a justificativa apresentada para a redução de impostos.

Enquanto as estimativas para o IPCA não param de subir no Boletim Focus – com projeção de 6,86% para 2022 na última semana de março –, o Banco Central já dá sinais de puxar o freio no ciclo de alta da Selic. Em entrevista, Roberto Campos Neto declarou que uma taxa de juros a 12,75% a.a. seria suficiente para deixar a inflação dentro da meta do BC. Na reunião de março, o Copom fez um reajuste de 1 p.p. e sinalizou outro aumento de mesma magnitude para a reunião de maio, possivelmente o último do ciclo atual. Todavia, Campos Neto deu abertura para uma mudança de planos em caso de impactos da guerra na Ucrânia. 

mercado internacional 

A invasão russa completou cinco semanas, mais de 4 milhões de refugiados ucranianos e incontáveis soldados mortos e feridos ao final de março. Os números também incluem cinco rodadas de negociação entre delegações da Rússia e Ucrânia, que não produziram nenhum acordo efetivo para o fim do conflito. Em resposta, o Ocidente expulsou os bancos russos do sistema financeiro global Swift, congelou o patrimônio de oligarcas russos e lançou outras rajadas de sanções. 

Para tentar conter o impacto dos bloqueios, o Kremlin subiu a taxa de juros de 9,5% para 20%. Não que EUA, Europa e Reino Unido estejam em condição econômica muito superior, uma vez que a taxa anual de inflação na Zona do Euro renovou o recorde histórico, a 7,5%. Já o índice de preços ao consumidor americano alcançou em fevereiro o maior nível em 40 anos, a 7,9% – no Reino Unido, o indicador ficou em 6,2%. 

A diferença entre as três economias está nas reações dos respectivos bancos centrais. Enquanto o Banco da Inglaterra  (BoE) já fez o terceiro reajuste de alta na taxa de juros, que se encontra a 0,75% a.a., o Fed acaba de começar o ciclo de alta. O primeiro aumento desde 2018 colocou a taxa básica dos EUA em 0,25%, e investidores agora se perguntam se o BC americano não vai adotar um ritmo mais agressivo de aperto monetário.

Em discurso irreconhecível frente aos do ano passado, o presidente do Fed, Jerome Powell, declarou estar pronto para tomar as “medidas necessárias” para reduzir a inflação, mesmo que isso signifique aumentar as taxas de juros mais rapidamente do que o previsto. Na Zona do Euro, por outro lado, o BCE até então descarta a possibilidade de estagflação no bloco. A presidente da instituição, Christine Lagarde, afirmou que a “Europa está entrando numa fase difícil” e que o continente vai enfrentar alta da inflação e crescimento econômico reduzido no curto prazo. 

No outro lado do globo, a China lidou com novos surtos de Covid-19 e as novas restrições impostas na tentativa de contê-los, incluindo um lockdown escalonado em Xangai, um dos pólos financeiros do gigante asiático. O impacto na indústria local veio prontamente. Os dois PMIs industriais produzidos no país apontaram contração do setor em março. 

commodities

Os preços do petróleo atingiram a cotação mais alta desde 2008, a cerca de US$ 140 o barril, após a Casa Branca  anunciar a hipótese (que depois se concretizou) de embargo sobre o óleo e o gás natural russos. A Zona do Euro declinou da sugestão, mas prometeu se tornar menos dependente do combustível eslavo até “bem antes” de 2030.

A Organização dos Países Exportadores de Petróleo e aliados (Opep+) decidiu acelerar o ritmo de aumento mensal da produção da commodity, a 432 mil barris por dia a partir de maio. Já os EUA anunciaram a liberação de 1 milhão de barris por dia das reservas estratégicas durante seis meses, medida endossada pelos países-membros da Agência Internacional de Energia (AIE). O aumento da oferta vem justamente na tentativa de amenizar as cotações do petróleo, que caíram em torno de US$ 40 desde a máxima referida anteriormente, mas ainda assim fecharam o mês com mais de 4% de valorização.

O minério de ferro teve alta ainda mais expressiva, superior a 26%, primeiramente diante da expectativa de estímulos econômicos na China e do aumento da produção de aço em províncias do norte do país, após a retirada de restrições ambientais. Além disso, Pequim reduziu a pressão regulatória sobre os setores de tecnologia e imobiliário, e a produção de aço recomeçou no pólo siderúrgico global de Tangshan. As notícias se sobrepuseram aos temores gerados pelas novas restrições impostas em solo chinês para tentar conter surtos locais de Covid-19. 

criptoativos

Enquanto seus governos se digladiam, os civis da Rússia e Ucrânia recorreram às criptomoedas para driblar as dificuldades impostas pelas sanções, no caso russo, e pela escassez, no cenário ucraniano. Em resposta, o governo ucraniano promulgou uma permissão ao uso regulado das criptos no país, inclusive para o recebimento de doações. Desde que foi invadida pela Rússia, em 24 de fevereiro, a Ucrânia já recebeu milhões de dólares em criptos em apoio às forças armadas. Já o Banco Central russo autorizou o banco local Sberbank a emitir ativos digitais. 

No Brasil, a Melnick, subsidiária da Even, comunicou ao mercado que vai passar a aceitar Bitcoin e Ethereum no pagamento de imóveis. Para realização das transações, a companhia fechou parceria com a Mercado Bitcoin. 

Em contrapartida, os números da inflação americana reduziram os ganhos das principais criptos do mundo. A aprovação da União Europeia a uma lei de proibição a transações anônimas de criptoativos superiores a € 1.000 também pesou negativamente. Ainda assim, Bitcoin e Ethereum registraram o segundo mês consecutivo de alta. 

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