O Ibovespa saltou em torno de mil pontos diante da revisão do rating do Brasil pela Standard & Poor’s nesta terça-feira (19). A agência de classificação de risco elevou a classificação da dívida externa de longo prazo do país de “BB-“ para “BB”, com perspectiva estável.
A agência citou a aprovação da reforma tributária como justificativa, afirmando que a medida estende o histórico de implementação de “políticas pragmáticas” no Brasil. “Embora a reforma seja implementada gradualmente, ela traz uma revisão significativa do sistema tributário e provavelmente se traduzirá em ganhos de produtividade no longo prazo.”
O comunicado da S&P destaca também as reformas promovidas desde 2016, as quais incluem a da Previdência, a autonomia do Banco Central, o estabelecimento de regras fiscais e também uma série de reformas microeconômicas em variados setores. Todas contribuem para ancorar a estabilidade macroeconômica no país, segundo a agência.
De acordo com Beto Saadia, diretor de investimentos da Nomos, a notícia foi inesperada e quase inédita. Ele compara a mudança do rating ao período entre 2006 e 2007, quando o Brasil ganhou classificação de grau de investimento.
“Não chegamos lá ainda, eu sei, mas pelo menos estão deixando a gente sonhar”, disse ele à segunda edição da sala de trading ao vivo da Nomos TV, no YouTube, conduzida pelo analista técnico Filipe Borges.
Em junho deste ano, a S&P já havia revisado os ratings de crédito de longo prazo do Brasil, alterando a perspectiva de estável para positiva e reforçando os ratings de crédito soberanos em “BB-/B” de longo e curto prazo.
A torcida não vai ao delírio
Apesar da surpresa com a mudança do rating, a reação do Ibovespa não foi como o esperado. Foram “mil pontos [de alta em apenas um minuto, explodiu muito rápido”, descreveu Filipe Borges.
O especialista esperava um salto de dois a três mil pontos diante da notícia, em ampliação mais significativa do recente movimento de alta desencadeado no índice. Apesar da leve frustração de expectativa, ele abriu posição comprada no Ibovespa, aguardando retomada do fluxo de compra.
Beto também esperava reação mais expressiva. O impulso foi abaixo do previsto porque o mercado já vinha há duas semanas em movimento favorável para bolsa, real e juros, diz, comentando que o fluxo comprador para mercados emergentes está muito forte.
Indo além da revisão positiva do rating do Brasil, o especialista detalha que a América Latina, assim como o Canadá, México e Japão, está recebendo fluxo intenso do mercado de capitais.
“O Brasil ainda tem uma dupla benesse, que é a balança comercial.” Além do dinheiro gringo entrando, o país tem recebido fluxo do comércio, por conta da venda de commodities de todos os tipos, das energéticas às agrícolas. “Isso diminui muito o risco fiscal e também cria entrada de moeda”, explica Beto.
Filipe argumenta que muitas ações ainda têm espaço para subir, e diz não ver sinal de topo gráfico ainda. “A gente acabou de sair de uma consolidação de um mês, em que o mercado ficou travado. Aí sobe dois dias, o pessoal tá achando que o mercado é topo”, comentou.
A valorização contínua do mercado nacional acompanha também o mercado americano, prossegue Beto. Houveram muitos short squeezes no último bimestre. Nos EUA, foram dois apenas em dezembro, com as chamadas Magnificent 7 puxando o desempenho do S&P 500.
A sequência de ganhos do S&P 500 marcou a mais longa sequência de alta semanais desde 2017. O índice subiu 3,3% no mês, enquanto o Dow Jones e o Nasdaq subiram 3,8% e 4,1%, respectivamente.
Reações ao novo rating
A revisão de hoje, apesar de positiva, mantém a nota brasileira em território especulativo, dois degraus abaixo do grau de investimento. A classificação da S&P se equipara às notas atribuídas ao Brasil pela Fitch (BB) e Moody’s (Ba2), ambas igualmente dois níveis abaixo do grau de investimento.
Ademais da revisão, a S&P atribuiu perspectiva estável para a nota. O comunicado descreve a expectativa de que o Brasil tenha progresso lento no enfrentamento de desequilíbrios fiscais e perspectivas econômicas fracas, ambos contrabalançados por uma posição externa forte e uma política monetária que tem ajudado a reancorar as expectativas de inflação.
O Goldman Sachs aprovou a mudança do rating, afirmando que o Brasil estar três degraus abaixo do grau de investimento tendo contas externas boas era exagero. Entretanto, o banco americano destaca que o país ainda tem longo caminho a percorrer para recuperar o grau de investimento.
Para o Tesouro Nacional, a mudança “confirma melhora de trajetória com esforços por reformas para consolidação fiscal”. Em nota após o anúncio, a instituição disse que o Ministério da Fazenda reitera o compromisso com a agenda de reformas, a qual deve contribuir para melhor balanço fiscal do governo, assim como levar à redução dos juros e consequente melhora das condições de crédito.