DISCLAIMER: o texto a seguir trata apenas da opinião do autor e não necessariamente reflete a opinião institucional da Nomos Investimentos ou do TradeNews.
Quero falar de um efeito que creio que todos nós sentimos facilmente ao dar uma volta pelas grandes cidades no Brasil: nós, brasileiros, como povo, empobrecemos nos últimos anos.
Dependendo da região da cidade (e falo com São Paulo/SP em mente), vemos muitos desamparados e “à margem” da sociedade. A pobreza e a miséria crescerem palpavelmente no Brasil. E não foram só os pobres e os menos favorecidos que sofreram esse efeito. A maioria esmagadora sofreu esse empobrecimento.
O PIB per capita, ou seja, a geração de riqueza de um país divida pelo número de habitantes, pode ser comparado entre vários países e dá uma ideia, na média, de como nos desenvolvemos como país. Na última década, desempenhamos muito mal nesse quesito. Ou seja, se considerarmos onde estávamos e onde estamos agora, fomos “muito mal no filme”.
Tivemos a primeira década desse século muito boa, seguida de uma década muito ruim. Enquanto crescemos 15,4% por ano (320% no total) entre 2001 e 2011, na segunda década, o resultado foi desastroso – regredimos 5,5% por ano (ou queda de 43% no total). Quando olhamos os últimos 20 anos em conjunto, o Brasil teve um desempenho ainda ruim em nossa condução econômica (+4,5% ao ano ou 139% nos 20 anos). Perdemos apenas para o México e Argentina na lista acima.
A primeira década foi boa pelos ganhos que tivemos com a exportação de commodities, em função do superciclo entre 2001 e 2007. Sendo o Brasil um dos maiores exportadores de muitas commodities, a alta dos preços de commodities (gráfico 2) nos enriqueceu primeira década desse século.
Já as crises vividas na década passada, destacadamente a crise da Dilma, de 2015-2016, e a crise da Covid em 2020 (gráfico 3), respondem por grande parte do desastre que tivemos na última década (mas não tudo).
Mas o fator atividade econômica não explica a história toda. Podemos isolar o efeito câmbio do total e chegaremos à tabela abaixo:
Em ambas as décadas, o fator “outros”, que representa principalmente crescimento econômico quando se desconta o câmbio, foi positivo. No primeiro período, tanto o câmbio quanto a atividade foram positivamente influenciados pelo boom de commodities.
Porém, o efeito cambial do segundo período foi brutalmente negativo. Tão negativo que acabou com o valor de crescimento de PIB per capita em dólares NO PERÍODO TOTAL. Esse efeito, o impacto da desvalorização cambial, afeta 100% dos brasileiros que vivem, ganham e gastam em reais. Você e eu e toda a torcida do (…), entendeu?
O desenvolvimento de um país pode nos interessar no coletivo, mas muito pouco no individual. O país pode estar crescendo e prosperando muito, enquanto eu e você podemos estar estagnados, ou o oposto – você e eu crescendo independentemente do país (o que é mais fácil de acontecer). Então, a lição principal dessa análise é: como me protejo dos efeitos materiais ruins do meu país (desvalorização cambial)?
Graças ao amadurecimento do nosso mercado financeiro, hoje a proteção contra os efeitos terríveis do empobrecimento coletivo que temos experimentado como nação através da perda de valor do real é acessível a uma parte cada vez maior da população.
Antes, era necessário ser cliente private (milionário) ou usar de doleiros para se proteger. Hoje não mais. A XP (e outras plataformas de investimentos) oferecem investimentos globais a partir de valores relativamente baixos. No caso da XP, a partir de R$ 10 mil, ou seja, um valor realmente acessível a todo aquele que faz poupança e preza por seu futuro.
Não se engane! A tendência no nosso Brasil de médio e longo prazos é ter sua moeda desvalorizada em relação a moedas de países maduros. E se você não se proteger desse efeito, seu patrimônio e poder de compra serão diminuídos contra sua vontade.
Essa tendência vem majoritariamente de governos ruins com políticas econômicas desastrosas, que não conseguem manter o poder de compra da moeda brasileira perante a outros países.
A continua depreciação do real brasileiro frente ao dólar americano e outras moedas de países maduros (euro, libra inglesa, iene japonês, yuan chines) é quase certa se continuarmos a ter a qualidade de políticos e das políticas econômicas que temos e tivemos no passado. Esse ponto é crucial ser entendido por todo brasileiro, sem exceção.
Por quê? Porque grande parte da nossa queda de PIB per capita vem da depreciação da nossa moeda. Então, precisamos entender o tamanho e impacto dessa depreciação em nossos ativos e nos proteger desse efeito.
Países com governos que gastam mais do que têm levam suas moedas a se desvalorizar, seja via choques econômicos, seja via inflação mais alta. Basta estudar o passado e qualquer um chega a essa conclusão. Por isso não podemos permitir um governo leniente com a inflação.
Qualquer semelhança com o atual estado das coisas – governo querendo subir a arrecadação para fechar suas contas, em vez de cortar custos – não é mera coincidência. Se tal dinâmica se instalar (resolver o ajuste fiscal na base de arrecadação, sem lidar com corte de despesas), certamente teremos saudade do nível atual do câmbio. Lembra-se de quando o câmbio era R$ 2,00 / US$? Não faz tanto tempo assim…
Uma das formas, individualmente falando, mais eficazes de se manter o patrimônio contra a corrosão do poder de nossa moeda é internacionalizar parte do patrimônio. Outra é passar a ganhar dinheiro em moeda forte – mas essa não está disponível abertamente a todos. A primeira opção está.
Esse processo de internacionalização do patrimônio, com as facilidades que temos atualmente e a diminuição dos valores de acesso ao mercado global, torna-se mais do que desejado, torna-se, para todo aquele que sabe que a vida não é uma corrida de 100 metros, mas uma maratona, obrigatório.
Então, se você ainda não tem parte de seu patrimônio investido em ativos globais, comece o quanto antes. Hoje temos acesso a renda fixa (i.e. bonds), renda variável (i.e. ações) e, em um futuro muito breve, fundos em plataforma internacional direto da XP.
Avalie sua carteira e decida-se por internacionalizar PARTE de seu patrimônio. O valor de quanto internacionalizar depende do momento de vida, do perfil (se conservador ou agressivo) e principalmente da consciência sobre e entendimento do fenômeno de empobrecimento constante a que estamos sujeitos. Depende também do mix de quanto das suas receitas acontecem já em moeda forte.
Exemplos extremos de países que tomaram essa rota em maior ou menor grau estão aí para quem quiser averiguar: Argentina e Turquia são exemplos ainda democráticos e de alerta aos brasileiros. Exemplos autoritários existem muitos – cito apenas nossa vizinha Venezuela, mas há muitos países africanos e asiáticos que poderiam entrar nessa lista.
O pouco caso com o valor da moeda é comum entre países emergentes. E empobrece toda uma população por barbaridades de seus governos. Economicamente, é um crime contra essas populações permitir que o seu poder de compra vire pó.
Não permita que você venha a ter saudades do tempo em que o dólar americano custava 5 reais brasileiros.
O alerta é sério e vem em bom tempo. Se você não tem parte de seu portfólio em moeda forte, considere fortemente mudá-lo. Procure seu assessor e proteja-se. Seu “futuro eu daqui a alguns anos” agradecerá seu “eu de hoje” por essa proteção e diligência.
IMPORTANTE: não tenho nenhuma previsão de desvalorização de nossa moeda no curto prazo (para 2023, por exemplo). Esse não é um texto para atuar em seu portfólio taticamente, mas para atuar estrategicamente, pois o problema é o médio a longo prazo.
Não é sobre o próximo trade (ou investimento), mas sobre o percentual de ativos que você compra e CARREGA em seu portfólio. Se fosse apostar, para o médio e longo prazo, entre a (i) manutenção ou (ii) perda do poder de compra de nosso real, apostaria no segundo – tomando por base nossa história. O tempo dirá se tenho razão ou estou sendo alarmista.
Mantenha parte importante de sua carteira em ativos globais!
Bons investimentos!