Podemos dizer que a notícia de ontem, da perspectiva dos ratings do Brasil ser alterada de estável para positiva por “expectativas de políticas pragmáticas”, vem a exteriorizar a mudança na expectativa em relação à realidade turbulenta desses primeiros 6 meses do governo Lula 3.
“Sinais de maior certeza de estabilidade das políticas fiscal e monetária podem beneficiar as perspectivas de crescimento do PIB do Brasil, atualmente baixas. Apesar do déficit fiscal ainda elevado, o crescimento contínuo do PIB combinado ao novo arcabouço para a política fiscal podem resultar em um aumento da carga de dívida do governo menor do que o esperado inicialmente.”
A declaração acima, retirada do site da S&P, demonstra claramente que a perspectiva média do mercado sobre o atual governo era muito pessimista e que está mudando, na margem, para mais positiva, ainda que esteja longe de ser brilhante.
Os efeitos de uma mudança de rating para o crédito soberano brasileiro têm impacto não somente nos títulos do governo (soberano) mas também em todas as empresas e bancos locais, pois uma empresa/banco não consegue se dissociar completamente dos riscos do local no qual atua (sejam riscos macro, sejam microeconômicos).
Essa potencial melhoria de rating é também bastante positiva porque está particularmente na fronteira entre o que se define rating de grau de investimento (AAA+ até BBB-) de rating grau especulativo (BB+ e inferiores).
Não estamos exatamente na fronteira (BB+ 🡺 BBB-), mas próxima dela (hoje BB-). Esse fato é relevante porque muitos investidores institucionais (ie. Fundos de pensão, assets, endowments, entre outros) globais têm em suas constituições e políticas de investimento impedimentos de acessar e investir em títulos de grau especulativo.
Dessa forma, abre-se o Brasil e seus emissores locais mais bem avaliados um leque de investidores novos e potencialmente muito grande.
O fluxo de novos investidores externos pode facilmente equilibrar e trazer os créditos a valores mais próximos dos justos que eventualmente ficariam com spreads maiores que devidos por pura falta de liquidez e investidores “qualificados” (numa classificação livre e diferente do que a CVM denomina investidor qualificado) para tomarem esses instrumentos de renda fixa.
Logo, a mudança rumo a voltar a ser grau de investimento, característica essa detida pelo Brasil entre maio de 2008 e setembro de 2015, se considerarmos no mínimo 2 das 3 grandes casas – abril de 2008 e setembro de 2015 (no S&P), maio de 2008 e dezembro de 2015 (Fitch), e setembro de 2009 e fevereiro de 2016 (Moody’s).
Ou seja, o fato é uma constatação de que temos a possibilidade de melhores dias à frente. Não é garantida a mudança de rating, mas a sinalização é sim inequivocamente positiva.
Naturalmente, a classificação do rating soberano como grau de investimentos impacta primariamente o mercado de crédito local, mas seus efeitos podem ir além dele. É um selo de “qualidade macroeconômica” do país, o que leva investidores de outras classes de ativos a também considerarem investir no país.
Ou seja, acaba sendo positivo para a maioria dos ativos, incluindo a renda variável também – pode-se esperar múltiplos melhores em ações de países com ratings de crédito melhor que em países de ratings especulativos.
A variável microeconômica que liga um fato ao outro é que juros menores representam menores custos para as empresas, bem como menores custos de capital. Estes últimos geram valuations maiores, pois os fluxos de caixa descontados são maiores, tudo o mais constante.
Mérito das instituições brasileiras, que, aos trancos e barrancos da política e do nosso sistema eleitoral, têm amadurecido nossa democracia, contra desmandos de governo A ou B (sejam eles quais forem).
Em resumo, boa notícia!
E você? Além dos CDBs bancários e do tesouro (instrumentos mais populares no Brasil), tem explorado, considerado e eventualmente investido em créditos brasileiros? É uma classe de ativos muito interessante que pode fazer parte da maioria das carteiras de investidores. Não deixe de considerá-los.
Bons investimentos!