DISCLAIMER: o texto a seguir trata apenas da opinião do autor e não necessariamente reflete a opinião institucional da Nomos Investimentos ou do TradeNews.
Os EUA têm um limite de dívida definido pelo Congresso que impede que o Tesouro Americano emita mais dívida que esse limite superior. Atualmente, o limite de dívida americano é de USD ~31,4 trilhões. Esse teto é fruto de necessidades de guerra. Antes de 1917, o Congresso americano tinha que autorizar cada empréstimo individualmente.
Como os EUA são um país que vive em déficits crônicos e constantes, sua dívida cresce constantemente em termos nominais, e o teto assim teve que ser levantado anteriormente muitas outras vezes (uma fonte que consultei, mais de 90 vezes).
Ou seja, é algo corriqueiro da administração financeira do governo americano. E esse teto tem subido independentemente de quem está no executivo – sejam republicanos, sejam democratas – a dívida só cresce (veja gráfico abaixo).
Então, para pessoas normais e sensatas, essa discussão de se ter que “aumentar o teto” não faz sentido. Deveria ser algo simplesmente automático, até porque é um orçamento que existe foi julgado e aprovado pelo próprio Congresso.
Para reforçar o ponto feito, imaginar que os EUA irão entrar em mora e não pagar sua dívida é algo completamente inconcebível do ponto de vista dos mercados financeiros.
O dólar americano (USD) é considerado a moeda reserva global, com risco baixíssimo de calote (na prática, considerado o risco zero do mundo) e com altíssima liquidez e conversibilidade. Nenhuma outra moeda no planeta tem esse status.
A compra da maioria das commodities que há mercado global são cotadas em USD – petróleo, gás natural e commodities energéticas, grãos e commodities agrícolas, ouro, minério de ferro e outros metais industriais ou nobres. Enfim, o comércio internacional é cotado e negociado primária e esmagadoramente em USD.
Então, realmente, um calote americano é algo fora de cogitação. Iria danificar o status de reserva global dos EUA, sua economia, seu mercado financeiro, e iria bagunçar os mercados financeiros de uma maneira impossível de ser imaginada em detalhes. E o aumento do teto depende apenas do Congresso. Pelas contas do tesouro, o dinheiro pode acabar agora, em junho de 2023.
Acontece que a polarização política nos EUA tem aumentado, os nervos estão à flor da pele politicamente, e essa situação tem gerado situações e posicionamentos cada vez mais radicais de parte a parte.
Enquanto os republicanos falam em não ceder para aumentar o teto, como se isso fosse segurar o aumento de gastos (ideologia dos republicanos), os democratas acusam os republicanos de não levar em consideração os cortes de impostos que levavam a aumentar a divida por falta de financiamento dos custos governamentais (ideologia dos democratas). Enfim, parece briga de 5ª série, mas política é política.
Um calote não é do interesse nem de republicanos, nem de democratas. Por isso, recentemente, Martin Wolf, em sua coluna no Financial Times escreveu um texto que resume bem a situação – “A América sofre com seu teatro do absurdo do teto de dívida”.
Realmente, ninguém acredita em um eventual calote. Mas nem por isso o mercado fica inerte. Veja abaixo as taxas de CDS (seguro contra um calote de dívida) para as dívidas curtas do governo americano.
Enfim, vamos torcer para que a irracionalidade não atinja níveis da boçalidade, que poderia atingir a todos sem exceção.
Bons investimentos!