Após vender a Aesop e a The Body Shop no último ano, Natura [NTCO3] agora avalia se separar da Avon, transformando as duas em companhias independentes e de capital aberto, de acordo com fato relevante divulgado no início de fevereiro. De início, as companhias terão apenas listagens separadas, com a Avon ainda pertencendo ao leque da Natura &Co.
Carlos Rodrigo Lima, sócio e analista da Athena Capital, vê a cisão com bons olhos, pois dá continuidade ao foco da Natura na América Latina, após os desinvestimentos prévios, além de possibilitar o fim da estrutura de holding.
Em comunicado ao mercado, a Natura afirmou que a estratégica busca simplificar sua estrutura corporativa e proporcionar mais autonomia para as unidades de negócio da empresa, além de proporcionar aos acionistas maior visibilidade sobre desempenho financeiro, estrutura, perspectivas de crescimento e teses de investimento das respectivas companhias.
Segundo aponta o especialista da Athena, ao separar subsidiárias há redução de despesas, o que no caso da Natura pode atrair o olhar de investidores com restrições à companhia por não gostarem de algumas operações, como a de Avon, a qual não tem muito crescimento e demonstra baixa rentabilidade.
“Ao separar o negócio, em vez de ter uma empresa com duas direções totalmente diferentes, não só geograficamente como em perfil, é possível separar o investidor que faz sentido para cada empresa”, explicou em entrevista exclusiva ao TradeNews.
O analista destacou que, enquanto Avon é voltada para reestruturação e foco na busca pela melhoria de margem da companhia, o case da América Latina é totalmente diferente, concentrado em crescimento e forte expansão de margem.
Por outro lado, Carlos disse que a separação não necessariamente significa que não há interesse por Avon. Na verdade, o analista argumentou que é possível que essa seja só uma etapa para possivelmente vender a Avon para outro player em breve.
Ele salientou também como o setor de beleza é resiliente historicamente, mesmo em épocas de crise, por conta de vendas diretas. No caso de Natura e Avon, esses momentos fazem com que mais pessoas queiram ser consultoras das marcas.
Carlos frisa que NTCO3 é mais resiliente no cenário macro, considerando que a Avon é uma marca voltada para pessoas com renda mais baixa. Por outro lado, prossegue o especialista, enquanto o macro não o preocupa tanto, o quadro fiscal do Brasil é um problema, visto que não é possível prever quais setores serão escolhidos pelo governo para aumentos de tributos.
“Por isso, o mais importante é entender se uma determinada empresa tem vantagem tributária contra seus competidores ou não”, afirmou.
Ao comparar Natura e O Boticário, por exemplo, Carlos ressalta que as duas possuem alguns benefícios iguais, o que mostra que a Natura não tem vantagem fiscal no setor. Ou seja, qualquer mudança fiscal na área causaria aumento de preço vis a vis com os competidores.
Ainda assim, ele disse que fica de olho no risco Brasil, mas não é “o que tira nosso sono”.
Por fim, perguntado sobre qual seria o preço justo para NTCO3, Carlos explica que a Athena prefere olhar a taxa interna de retorno (TIR) da companhia a definir um preço-alvo, “porque todas as empresas são organismos vivos”.
Ele também apontou que Natura possui múltiplos baixos comparados ao setor de beleza fora do Brasil, além de ser uma empresa com crescimento de lucro acima de 10%. Sendo assim, o analista acredita que a perspectiva de lucro seja de 20% para os próximos anos.
“Nós não só vemos um bom crescimento para a América Latina, mas também vemos boa expansão de margem”, concluiu.