A varejista chinesa Shein solicitou confidencialmente o registro de uma oferta pública inicial (IPO) na Bolsa de Hong Kong nesta terça-feira (8), após não conseguir avançar com o processo de listagem em Londres. A decisão reforça a tendência de saída de empresas internacionais da Bolsa de Valores de Londres, que perdeu 88 companhias somente em 2024, segundo o Financial Times.
A tentativa da Shein de abrir capital no Reino Unido foi iniciada há cerca de 18 meses, mas não teve aval final dos reguladores. O entrave envolveu divergências sobre a linguagem do prospecto, especialmente na parte referente à divulgação de riscos. A principal preocupação girava em torno da cadeia de suprimentos da empresa, com destaque para a atuação em Xinjiang, região chinesa marcada por denúncias internacionais de violações de direitos humanos.
Embora a Autoridade de Conduta Financeira (FCA) do Reino Unido tenha aprovado uma versão do documento no início de 2025, a proposta não avançou por falta de concordância da Comissão Reguladora de Valores Mobiliários da China (CSRC). A listagem em Hong Kong, portanto, surge como uma alternativa mais viável e com menor resistência política, além de representar um recado indireto aos reguladores britânicos, que enfrentam a pior captação por IPOs em três décadas.
A Shein também chegou a considerar um IPO nos Estados Unidos, mas esbarrou em obstáculos semelhantes. A Comissão de Valores Mobiliários dos EUA (SEC) teria rejeitado a proposta devido a preocupações geopolíticas envolvendo a China.
A Bolsa de Hong Kong é vista como um ambiente mais flexível para empresas chinesas, especialmente na forma como comunicam riscos regulatórios e políticos. A medida também está em linha com o esforço de Pequim para incentivar que companhias nacionais priorizem a capitalização em mercados mais alinhados com o governo central.
Se aprovado, o IPO em Hong Kong encerrará um processo que se arrasta há mais de três anos.