A ameaça feita por Donald Trump de aplicar uma tarifa adicional de 10% a países alinhados ao Brics não deve interromper o comércio internacional, mas já provoca instabilidade nas negociações globais, segundo avaliação da Associação de Comércio Exterior do Brasil (AEB) e de especialistas ouvidos pelo InfoMoney.
“O que causa impacto negativo não são os valores das tarifas, mas sim a insegurança jurídica que dissemina pelo mundo todo”, afirmou José Augusto de Castro, presidente executivo da AEB. Ele acredita que a proposta tem mais viés eleitoral do que técnico e reflete o estilo imprevisível do ex-presidente dos Estados Unidos, que tenta retornar à Casa Branca em 2025.
Trump publicou a ameaça em uma rede social no domingo (6), durante a cúpula do Brics no Rio de Janeiro. No dia seguinte, fontes disseram à agência Reuters que a medida só será aplicada se os países do bloco adotarem ações consideradas “antiamericanas”.
Efeitos econômicos
Para Jorge Ferreira, professor de finanças da ESPM, a taxação pode pressionar a inflação americana, que poderia subir para até 6% ao ano entre 2025 e 2026, além de desacelerar o crescimento global. “O PIB dos EUA pode cair 0,5% e os custos de importação podem aumentar até US$ 1,2 trilhão por ano”, disse.
Segundo ele, setores como siderurgia, automóveis, químicos, farmacêuticos e máquinas industriais seriam os mais impactados. Por outro lado, o Brasil poderia ser beneficiado no agronegócio, com redirecionamento de compras da China para carnes, soja, milho, minério de ferro e cobre.
Ferreira não descarta que os EUA enfrentem um cenário de estagflação no médio prazo, combinação de inflação alta com estagnação econômica e desemprego crescente.
Consequências para o Brics
A China seria o país mais afetado, especialmente nas exportações de eletrônicos, semicondutores e químicos. A Índia também sentiria os efeitos em setores como farmacêutico e tecnologia da informação, podendo perder acesso preferencial ao mercado americano.
Já a Rússia, fortemente sancionada, teria pouco impacto adicional. África do Sul poderia ser afetada nos segmentos de vinhos, frutas e minérios. Arábia Saudita e Emirados Árabes, que se aproximaram do bloco, poderiam recuar em sua adesão para preservar relações com os Estados Unidos.
A proposta ainda não foi formalizada, mas reforça a imprevisibilidade política no cenário comercial global, destaca o InfoMoney.
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