Terceiro trimestre começa com guerras nos mercados globais; a contra a inflação é a principal

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Juros altos, aversão ao risco e temor por recessão. Investidores foram bombardeados por essas expressões durante todo o mês de setembro, marcado pela postura majoritariamente hawkish entre os BCs ao redor do mundo e o medo do mercado devido às consequências do aperto monetário.

O primeiro dia do mês já contou com a divulgação do índice de gerentes de compras (PMI) industrial decepcionante dos Estados Unidos, que registrou 52,8 em agosto, contra o valor esperado por analistas de 51,8. O desempenho preocupou por ser mais um possível motivador de uma alta de 0,75 ponto percentual nos juros do país na reunião deste mês.

E, neste ponto, a expectativa do mercado se tornou realidade. O Federal Reserve (Fed) subiu os juros como esperado e ainda sugeriu mais aumentos para conter a inflação.

Previamente à decisão, o Goldman Sachs afirmou que não esperava um corte de juros no país antes de 2024, além de acreditar que o Fed realizará mais quatro altas até o final de 2023, atingindo um patamar entre 4,25% e 4,50%.

Obviamente, não foi apenas o PMI norte-americano que sustentou a alta da taxa. Apesar do aumento do desemprego, o payroll indicou um mercado de trabalho ainda aquecido, o que limitou o otimismo em relação a uma possível suavização da postura do Fed sobre o aperto monetário. Além disso, o PMI de serviços apresentou contração da atividade junto ao frustrante avanço do CPI de agosto e à queda nos pedidos de auxílio-desemprego, que reforçaram a expectativa do posicionamento duro da maior autoridade monetária do mundo.

Os Estados Unidos criaram 315 mil vagas de trabalho fora do setor agrícola em agosto, acima do esperado, mas a taxa de desemprego cresceu para 3,7%. O resultado veio um pouco acima da expectativa do mercado, que previa 300 mil, mas a projeção era de que a taxa de desemprego permaneceria em 3,5%, segundo a Refinitiv.

Fonte: The Wall Street Journal

A inflação ao consumidor (CPI) americano avançou 0,1% e frustrou expectativas de analistas, que apostavam em uma deflação de mesma magnitude. No dia, as principais bolsas de Nova York fecharam em forte queda, configurando a pior baixa desde junho de 2020. Já o índice dos gerentes de compras de serviços caiu para 43,7, abaixo da previsão em agosto, apontando para contração da atividade.

Ainda em relação aos PMIs, os índices industriais deste mês na Europa mostraram que a manufatura do continente está sentindo fortemente as pressões inflacionárias e a crise energética deflagradas pela guerra russo-ucraniana. Com resultados abaixo de 50, a manufatura está em seu pior momento em 26 meses na Zona do Euro e em 27 meses no Reino Unido.

Numa tentativa de impulsionar a economia, a libra atingiu mínima histórica durante a madrugada da última segunda-feira (26), após o governo do Reino Unido anunciar que se endividará fortemente para financiar um amplo pacote de cortes de impostos.

No pregão seguinte ao anúncio, a moeda britânica atingiu mínima inédita de US$ 1,03, enquanto o rendimento do bônus do governo (Gilt) de 10 anos saltou aos maiores níveis desde 2008.

Na Alemanha, o setor industrial também sofre, e o PMI do setor do país caiu de 49,3 em julho para 49,1 em agosto. Mas as vendas no varejo mostraram recuperação em julho, com alta de 1,9% em relação ao mês anterior.

Contudo, o setor de serviços alemão também se mostrou abalado. No país, o PMI de serviços teve queda de 49,7 em julho para 47,7 em agosto, abaixo da estimativa prévia e da projeção de analistas consultados pelo The Wall Street Journal (WSJ), de 48,2 em ambos os casos. Já o PMI composto alemão, que engloba serviços e indústria, reduziu de 46,9 em agosto para 45,9 em setembro, atingindo o menor nível em 28 meses.

As quedas continuaram na Zona do Euro e no Reino Unido. 

No bloco, o PMI composto atingiu o menor nível em 18 meses, e o PMI de serviços tocou o menor patamar em 17 meses. 

O PMI de serviços britânico alcançou o nível mais baixo nos últimos 18 meses e o PMI composto diminuiu de 52,1 para 49,6 no mesmo período.

“As prévias dos PMIs europeus […] reforçam a conjuntura de desaceleração que já vinha se desenhando desde o início do ano e que ganhou tração com a guerra na Ucrânia”, explica Marco Ferrini, analista de macroeconomia da Benndorf Research

“Além do nível de atividade decadente, os países do euro sofrem com recordes consecutivos da inflação e a alta instabilidade causada pelo conflito no leste europeu, fatores que reduzem o poder de compra da população e geram medo, contribuindo ainda mais para a perda de ritmo das economias”, complementa.

Com mais de sete meses de duração, a guerra parece distante do fim. Temendo uma crise energética, após cortes de fornecimento de gás russo em agosto e novas interrupções em setembro, a União Europeia tenta preparar planos de emergência para limitar os preços das commodities ou separar os preços da energia do aumento do custo do gás.

O movimento europeu acabou gerando ainda mais tensões em meio às insinuações russas sobre a possibilidade de estender o racionamento. No início do mês, Putin afirmou que, mesmo tendo obrigações contratuais de entrega de energia, o país pode reconsiderar o cumprimento dos contratos caso o teto de preço para o petróleo russo fosse imposto.

“Simplesmente não cumpriremos [os contratos]. Em geral, não entregaremos nada se for contra nossos interesses”, disse ele no fórum econômico de Vladivostok. “Não entregaremos gás, nem petróleo, nem carvão, nem combustível para aquecimento. Não entregaremos nada”. 

As ações do petróleo Brent e WTI tiveram alta de 4,11% e 4,63% no mês de setembro.

Moradora local em frente a caixas de munição perto de sua casa destruída na vila de Nova Husarivka
Fonte: Reuters

Enquanto autoridades russas e europeias discutiam questões econômicas e trocavam ameaças, a Ucrânia retomou mais áreas na região nordeste de Kharkiv, na terceira semana de setembro, entregando à Rússia um de seus maiores reveses desde que suas tropas invadiram o país.

As fortes tensões afetaram os mercados na Europa, que caíram cerca de 5% no continente. Além disso, a expectativa sobre a decisão de juros do Banco Central Europeu (BCE) foi cumprida. O BCE aumentou a taxa em 0,75 p.p., à medida que a interrupção no fornecimento de gás russo aumentava as incertezas sobre a atividade.

No dia seguinte à decisão, o dirigente Klas Knot afirmou que a autoridade monetária pretende continuar subindo juros até que a inflação na Zona do Euro convirja de volta à meta de 2%. Também integrante do conselho da instituição, Peter Kazimir ressaltou que o ajuste mais agressivo nos juros foi “correto e inevitável”.

No mês de setembro, as tensões não envolveram apenas russos e europeus. Em um front de disputa tecnológica, China e Estados Unidos trocaram insinuações em meio às empreitadas de Pequim sobre Taiwan. Desde agosto, a ilha se tornou manchete, enquanto cada uma das superpotências temia que a outra tivesse acesso à forte indústria taiwanesa de chips.

Fonte: Reuters

Contudo, o que surpreendeu em setembro foi o posicionamento dos EUA. Marcado por possuir uma política histórica de “ambiguidade estratégica“, não deixando claro se responderiam militarmente ou não a um ataque a Taiwan, Joe Biden afirmou neste mês que as forças norte-americanas defenderiam Taiwan em caso de uma invasão chinesa. 

Essa foi a declaração mais explícita sobre o assunto por parte dos EUA até então, e provocou uma resposta descontente da China, que disse estar “fortemente insatisfeita e se opôs resolutamente” aos comentários de Biden, alertando que o país se reserva ao direito de tomar todas as medidas necessárias para combater o separatismo.

Entre o G20, como é conhecido o grupo das 20 maiores economias do mundo, o PIB sofreu contração de 0,4% no segundo trimestre de 2022 ante os três meses anteriores. A desaceleração reflete principalmente o resultado da China, cuja economia encolheu 2,6% no segundo trimestre, depois de avançar 1,4% no trimestre anterior. No primeiro trimestre, o PIB do G20 cresceu 0,5% em relação ao quarto trimestre de 2021.

Divulgado em setembro, o PMI industrial chinês de agosto caiu de 50,4 em julho para 49,5 em agosto, com a leitura abaixo de 50 indicando contração da atividade manufatureira. O PMI de serviços do mês anterior também mostrou queda, de 55,5 em julho para 55 em agosto. Com o PMI composto não foi diferente, o índice do mesmo período recuou de 54 em julho para 53 em agosto.

Para Wang Zhe, economista do Caixin, grupo de mídia chinês conhecido pelo jornalismo investigativo, as fortes ondas de calor e surtos esporádicos de Covid-19 foram os principais fatores que pesaram sobre a economia chinesa em agosto. 

“O impacto do clima extremo foi mais significativo do que o dos surtos. A falta de energia resultante restringiu a produção, enquanto os prestadores de serviços permaneceram praticamente inalterados. O setor manufatureiro se beneficiou mais de menores despesas como resultado da queda dos preços das commodities do que o setor de serviços”, avalia.

A contínua desaceleração econômica da China levou muitos especialistas a reconsiderarem quando os chineses irão ultrapassar os Estados Unidos como a maior economia do mundo – e inclusive se algum dia ultrapassarão.

Na primeira semana do mês, o vice-presidente do Banco Popular da China (BPC), Liu Guoqiang, disse que o banco central fortalecerá o apoio à economia, mas evitará inundá-la com estímulos. “Atualmente, ainda há muito espaço para a política monetária na China”, afirmou.

Com o Federal Reserve apertando o espaço para estímulos monetários ao redor do mundo, o BPC manteve em 2,75% a taxa de juros para empréstimos de um ano na semana seguinte. Em comunicado online, a autoridade monetária disse que a decisão “manterá a liquidez do sistema bancário razoavelmente ampla”.

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