Terreno para alta da Selic está em franca pavimentação

IMG_5837
Isabela Jordão 

 

A política monetária dos gigantes das Américas voltou a contrastar. Pelo menos essa é a expectativa do mercado, que calibra as apostas de um novo aumento dos juros no Brasil em 18 de setembro – provável data do primeiro corte das taxas nos EUA em mais de quatro anos.

Caiu drasticamente ao longo de agosto a perspectiva de manutenção dos juros no Brasil. De acordo com o monitoramento da B3, já não há dúvidas sobre se o Banco Central vai subir juros. A questão é quanto, se 0,25 ou 0,50 ponto percentual.

Projeção para a reunião do Copom de setembro, até 30 de agosto. [Fonte: B3/Beto Saadia]
Curiosamente, o cenário é oposto e semelhante ao dos EUA. Sem violações da lei da não contradição por aqui. Plataformas de monitoramento do mercado americano, como a CME Group, mostram um mercado dividido igualmente entre 0,25 ou 0,50 p.p. para a próxima decisão do Federal Reserve, só que em ajuste de baixa.

Enquanto a terra do Tio Sam tem medo de recessão, por aqui a economia mostra um misto de fatores surpreendentemente bons e preocupantemente ruins, cuja única solução, segundo os agentes de mercado, são juros mais altos.

O dólar se estabilizou em alto patamar, a Agência Nacional de Energia (Aneel) determinou bandeira vermelha patamar 2 para o mês de setembro e a má recepção ao Projeto de Lei do Orçamentária (PLOA), apresentado no início desta semana, fundamentam a percepção. A cereja do bolo é o PIB, divulgado na última terça-feira (03).

A economia nacional cresceu 1,4% no segundo trimestre de 2024 na comparação anual. O setor de serviços – cuja inflação permanece firme – e a indústria cresceram 1% e 1,8% respectivamente, enquanto a agropecuária recuou 2,3%.

No acumulado dos últimos quatro trimestres, o PIB expandiu 2,5%, mesma variação do trimestre anterior. Indústria e serviços cresceram 2,6% cada, enquanto a agropecuária permaneceu estável.

A força do PIB não é necessariamente uma notícia boa, diz o diretor de investimentos da Nomos, Beto Saadia. “É um crescimento muito além de esperado, mas um crescimento artificial, acima do potencial, ou seja, um crescimento gerador de inflação”, explica. Ele atribui o movimento resultado dos estímulos injetados pelo governo na economia desde o período eleitoral de 2022.

Os impulsos fiscais – da PEC da Transição aos quase  R$ 40 bilhões injetados por meio do pagamento de precatórios – puxaram a indústria, em ciclo que culminou na subida dos serviços, os quais compõem a ponta final do consumo no ciclo econômico.

Por outro lado, mas igualmente corroborando a tese de um novo aumento da taxa Selic, o consumo das famílias cresceu 1,3% na base trimestral, pelo efeito da massa salarial e crédito maiores. Trata-se do principal destaque positivo no PIB para Marco Saravalle, sócio e CIO da MSX Invest.

Na virada do ano, relata, o setor financeiro esperava aumento da inadimplência de modo geral. A hipótese felizmente foi frustrada pelo aumento das carteiras de crédito, sinal do bom manejo financeiro das famílias.

“Ou seja, a geração de emprego continua forte, atividade continua forte, e isso continua se traduzindo em consumo, de uma forma geral”, diz Saravalle.

O crescimento da economia brasileira no segundo trimestre já deve começar a se traduzir em revisões do PIB para cima, para próximo de 3%, a partir do Boletim Focus da próxima semana, acrescentou o especialista.

Ele frisa também que os números reforçam para o Copom que a atividade econômica está muito forte, “precisaríamos estar realmente em um patamar mais elevado da taxa de juro”. Saravalle aposta em um aumento de 0,50 p.p. na próxima reunião da autarquia.

“O consenso depois desse PIB é que talvez a gente vai ter um aumento de juros agora em setembro, mas, talvez, a gente não saiba a magnitude”, completa.

Beto Saadia também espera um aumento de 0,5 p.p. no dia 18. Como fator adicional para a decisão, ele cita o impacto que uma sequência de fatores climáticos tem tido na economia do país. Além das enchentes no Rio Grande do Sul, o agro precisou encarar em 2024 as queimadas recentes e os efeitos do El Niño — preparando-se para o La Niña, previsto para outubro.

Compartilhe em suas redes!

WhatsApp
Facebook
LinkedIn
PUBLICIDADE

Matérias Relacionadas

PUBLICIDADE

Preencha o formulário e receba a melhor newsletter semanal do mercado financeiro, com insights de especialistas, notícias e recomendações exclusivas.

PUBLICIDADE
Are you sure want to unlock this post?
Unlock left : 0
Are you sure want to cancel subscription?