Por Bruna Alleman
Donald Trump não anunciou apenas uma nova tarifa. Ele entregou de bandeja ao presidente Lula a narrativa que ele tanto queria: a de um Brasil injustiçado, soberano e atacado por uma potência arrogante.
A tarifa de 50% anunciada pelos EUA contra produtos brasileiros não é protecionismo. É punição. E isso muda tudo.
Trump acusa o governo brasileiro de censurar redes sociais americanas, desrespeitar liberdades civis e atacar o sistema democrático. E usa isso como justificativa para retaliar, em forma de tarifa, qualquer produto brasileiro que entre nos Estados Unidos a partir de 1º de agosto.
No papel, a medida mira a liberdade de expressão. Na prática, atinge a balança comercial, o câmbio e a estabilidade política brasileira.
O que muda no curto prazo?
– Dólar dispara: Em poucos minutos após o anúncio, o real perdeu força e o dólar passou de R$ 5,58. Investidores correm para ativos considerados mais seguros.
– Bolsa brasileira sente: Ações de empresas exportadoras foram pressionadas. Setores como aço, agro e Embraer entram no radar com potencial de sofrer impactos diretos.
– Mercado incerto: A dúvida agora é se haverá retaliação formal do Brasil e como isso afetará acordos internacionais.
Mas… o que realmente está em jogo?
Essa não é uma tarifa comercial tradicional. É uma tarifa punitiva, com forte viés ideológico e geopolítico. Não é coincidência que, nos últimos dias:
– Eduardo Bolsonaro estava nos EUA;
– O Congresso brasileiro vem sendo questionado por suas decisões sobre liberdade de expressão;
– Lula reforçou alianças políticas e ideológicas com figuras como Cristina Kirchner e o Irã;
– O Brasil passou a liderar dentro do BRICS ideias que nem internamente são consensuais.
Enquanto isso, os Estados Unidos têm superávit comercial com o Brasil, ou seja: exportam mais do que importam. Não há déficit a ser corrigido, há um recado a ser dado.
E esse recado é claro: a guerra comercial virou instrumento ideológico.
O Brasil quer ser protagonista… mas está pronto?
Enquanto defende uma nova ordem mundial via BRICS, o Brasil enfrenta:
– Instabilidade política
– Insegurança jurídica
– Políticas públicas confusas
– Ausência de reformas estruturais
– Um real fragilizado e sem lastro confiável
Não há nada mais danoso a uma sociedade do que a destruição de sua moeda. E como liderar a criação de uma nova moeda se não conseguimos sustentar nem a própria?
Quem é o Brasil hoje para bancar esse crescimento do BRICS?
Faltam os fundamentos: confiança institucional, credibilidade fiscal, estabilidade monetária e coerência política. E enquanto nos envolvemos em disputas ideológicas globais, os EUA e a Argentina, por exemplo, acabam de fechar um acordo que garante tarifa zero para 80% das exportações argentinas e 10% para o restante. Enquanto alguns brigam com os gigantes, outros negociam silenciosamente seus interesses.
A guerra comercial que começou ontem é, na verdade, um teste de força e coerência. Trump soube mirar no ponto exato: entregar um ataque que fortalece a retórica do governo brasileiro, mas fragiliza sua posição global. O Brasil foi arrastado para uma briga diplomática. E nesse jogo, manda quem pode… e obedece quem tem juízo.
O texto trata apenas da opinião do autor e não necessariamente reflete a opinião institucional da Nomos Investimentos ou do TradeNews.