MGLU3 e VIIA3: como fica o resto do varejo após o caso AMER3

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A repercussão ao rombo de R$ 20 bilhões da Americanas [AMER3] respingou negativamente em ações de companhias correlatas. 

Em todo o período antes do início das negociações de AMER3 nesta quinta-feira (12) – adiado sucessivamente pela B3 até as 14h20 –, Magazine Luiza [MGLU3] e Via [VIIA3] ficaram entre as maiores quedas do Ibovespa, tipificando a aversão ao risco generalizada em relação ao varejo. 

Sérgio Rial, agora ex-CEO da Americanas, declarou em videoconferência pela manhã que as incongruências na maneira de reportar a “conta fornecedores” não é um problema exclusivo da companhia, mas sim que se arrasta desde os anos 90 no setor, devido a diferentes formas de reportar essa rubrica.

Para a analista de varejo da Levante Corp. Carol Sanchez, ainda é cedo para concluir se há alguma similaridade entre a gestão contábil de Americanas e a de outras varejistas, como Magalu e Via. 

A recomendação é aguardar as informações a serem divulgadas pelo comitê independente formado para apurar as contas da Americanas, liderado por Otávio Yazbek, ex-diretor da Comissão de Valores Mobiliários (CVM). 

Enquanto os detalhes do caso permanecem obscuros, investidores se atém ao histórico de inconsistências das varejistas. 

Desempenho de MGLU3 em 12 de janeiro de 2023. [Fonte: Bloomberg]
Enquanto Magalu passou pelo filtro dos investidores, revertendo a queda na cotação ao longo do dia, assim como os BDRs do Mercado Livre [MELI34], em viés positivo o pregão inteiro, a Via suscitou à memória dos investidores o aumento do volume de processos trabalhistas descoberto em janeiro de 2022.

“Foi uma surpresa bem negativa, e inicialmente era só um passivo que eles tinham encontrado, depois encontraram mais dois”, relembra Carol. Apesar de não ter sido uma dificuldade de mesma magnitude da de Americanas, o acontecido gerou um baque nas ações da Via, assim como perda de confiança na empresa. 

“É justamente essa questão da perda de credibilidade que eu acho que está sendo colocada em xeque agora”, sintetizou a analista da Levante. 

Outra pedra no sapato das varejistas

Com as dificuldades enfrentadas pelo setor de varejo nos últimos dois anos, a incerteza trazida pela Americanas foi a cereja do bolo. 

Ao final de 2022, Magazine Luiza e Via acumulavam queda de 26% e 64% respectivamente. Apesar do ano negativo, ambas reduziram perdas se comparado a 2021, quando estiveram no top 3 de maiores perdas do Ibovespa. 

Vitor Polli, analista da Levante, pontua que o maior faturamento do e-commerce no Brasil ao longo do ano passado em relação a 2021 “é positivo e pode sinalizar, mesmo que de forma ainda não muito expressiva, a recuperação do setor.” 

Outra contribuição positiva para o segmento no ano passado foi a Copa do Mundo, que ocorreu, de maneira atípica, no quatro trimestre, “contribuindo para o aumento das vendas durante a antecipação da Black Friday”, explica o especialista. 

Além disso, desde o Dia das Crianças, as varejistas anteciparam campanhas promocionais em aproximadamente duas semanas quando comparado a 2021 e 2020, visando estender o prazo de vendas sem que fosse necessário diminuir tanto os preços, “o que parece ter funcionado”.

Os menores descontos também são resultado de estoques mais ajustados ante a maioria das varejistas de e-commerce possuíam em outubro de 2022 em relação ao mesmo período de 2021, o que virou uma corrida desesperada para reduzir preços, com o objetivo de limpar os estoques com maior rapidez.

Desempenho de VIIA3 em 12 de janeiro de 2023. [Fonte: Bloomberg]
O diretor financeiro da Magalu, Roberto Bellissimo, afirmou recentemente que a varejista estava conseguindo vender sem precisar ser mais agressiva do que o planejado. Já o vice-presidente comercial da Via, dona das Casas Bahia e Ponto, disse que, mesmo com a antecipação da Black Friday, a empresa vinha sentindo maiores impactos por conta do ambiente econômico desafiador.

Ainda assim, era esperado que o “efeito Copa” tivesse maior impacto nas vendas, acrescenta Vitor, “impulsionando o faturamento com o crescimento da venda de TVs e portáteis para casa, o que parece ter funcionado apenas nas primeiras semanas de novembro, quando as varejistas  buscaram antecipar vendas da Black Friday para antes do primeiro jogo do Brasil na Copa, fator que acabou diluindo as vendas ao longo do mês, fazendo com que a data oficial do evento na sexta-feira perdesse um pouco o brilho.”

E o futuro?

”Além do cenário econômico difícil no ano, há um 2023 ainda com elevado grau de incerteza política, sem perspectiva de melhora na renda no curto prazo após a troca de governo, o que tem levado o consumidor a controlar mais os gastos”, explica Vitor.

Por estes motivos, a Levante recomenda que o investidor se mantenha cauteloso, considerando os números reportados nos últimos trimestres pelas varejistas do e-commerce.”No curto e médio prazo, com a inflação ainda rodando em patamares altos, renda da população bastante comprometida com itens discricionários, altos níveis de inadimplência e encarecimento do crédito, além de uma competição cada vez mais acirrada, na qual há briga por preços, promoções e entregas mais rápidas, é difícil traçar um cenário de melhora substancial para o e-commerce”, afirma o analista.

A Levante se mantém neutra tanto para MGLU3 quanto para VIIA3, e destaca o desempenho de Mercado Livre [MELI34], para o qual estão mais favoráveis. “Acreditamos continuar como o melhor player do setor. […] A companhia vem apresentando um sólido crescimento tanto no e-commerce quanto no Mercado Pago, seu braço financeiro. Este último tem contribuído de forma bastante expressiva para o forte aumento da receita por cliente da companhia”, diz Vitor.

Ele acrescenta que o cenário macroeconômico pode continuar fazendo preços, afetando ações mais sensíveis à taxa de juros, como é o caso das empresas citadas. Contudo, ainda assim, a Levante acredita que o Mercado Livre está à frente de seus pares, “com melhor sortimento, tráfego e qualidade de serviço.”  

 

*Reportagem escrita em conjunto com Isabela Jordão. 

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