Como disse Elon Musk quando divulgou que pretendia comprar o Twitter, as redes sociais assumiram a função de praça pública da era moderna. É lá que a gritaria acontece, e os ruídos da política, e principalmente dos diversos agentes de interesse que têm algum poder de escalar suas posições nas redes sociais, dificultam bastante a nossa compreensão dos fatos como eles realmente são.
Se você quiser uma pequena prova do que estou falando, basta olhar para o resultado das eleições do último 30 de outubro e comparar com as pesquisas de intenções de voto divulgadas uma semana antes do pleito. A realidade foi bem diferente, não é?
O primeiro grande exercício de qualquer investidor, antes de aprender sobre gráficos, números e fórmulas, deveria ser observar a própria capacidade de capturar a realidade como ela é e de saber separar o que é fato do que são apenas narrativas.
No final de 2021, todas as previsões indicavam que 2022 seria um ano terrível para economia brasileira, com inflação de 2 dígitos, desemprego em alta e PIB negativo. Mas aconteceu exatamente o contrário, e quem montou suas posições com base no primeiro cenário provavelmente perdeu boas oportunidades.
Eu conheço muita gente que, por medo do ano eleitoral, deixou o dinheiro na conta corrente perdendo para inflação…
O fato é que, enquanto a praça pública se via alvoroçada com temas mais ideológicos e que despertavam paixões acaloradas, mas que eram irrelevantes para a economia, o Congresso aprovava medidas como o marco da cabotagem, a Lei da Liberdade Econômica e o marco do saneamento, que vai atrair mais de 400 bilhões em investimentos até 2033 e já está provocando uma verdadeira revolução no Brasil.
Nesse mesmo período, o Ministério da Infraestrutura estava a todo vapor, viabilizando a concessão de projetos à iniciativa privada que já atraíram mais de 1 trilhão de reais em investimentos privados para os próximos anos.
Enquanto a equipe econômica se concentrava em atrair investimentos sem usar o próprio caixa e a suavizar os efeitos da pandemia reduzindo impostos, o Banco Central, que agora é independente e está menos suscetível à interferência política, proativamente começou a subir os juros antes dos demais países do mundo. Essa antecipação, além de conter a inflação no início, evitou que fosse necessário elevar os juros para níveis que paralisariam a atividade econômica de vez.
Quando as notícias davam o tom de preocupação com o arcabouço fiscal, mesmo reduzindo impostos, tivemos o primeiro superávit em muito tempo, as estatais voltaram a dar lucro e esse dinheiro foi usado para equilibrar as despesas extraordinárias com o Auxílio Emergencial, fazendo que nossas contas públicas fechassem no azul… Quem diria!
O resumo de 2022 até agora é que todos os que tentaram prever o futuro erraram! Dos jornais especializados até os institutos de pesquisas, passando por entidades internacionais e casas de análise, ninguém acertou absolutamente nada.
Achou ruim? Calma que ainda pode piorar. Ou você acha que é só fazer tudo ao contrário do que estão dizendo que vai dar certo?
Colocando os eventos assim, em perspectiva, parece obvio que teríamos um ano muito bom e que ninguém estava vendo isso, mas é sempre bom lembrar que a nossa capacidade de explicar o passado é também muito perigosa, pois cria em nós a ilusão de que podemos prever o futuro, quando na realidade jamais poderemos.
É curioso que, há exatamente um ano, todos esses que erraram tinham a certeza de que estavam prevendo o futuro baseados em evidências concretas. Talvez você esteja com essa mesma sensação, agora que tem “novas evidências” sobre a economia, mas, antes que o otimismo invada o seu coração e te convença a contrariar tudo e todos e a seguir seu feeling, lembre-se: 100% do que você sabe é sobre o passado! 100% das decisões que você precisa tomar hoje são sobre o futuro. Então, muito cuidado para não confundir as coisas.
Se o primeiro grande exercício do investidor é aprender a identificar o que é fato e o que é mera narrativa, o segundo maior exercício é o de não ceder à ilusão de que futuro pode ser previsto.
O que a maioria dos investidores não percebe é que não se trata de prever para onde o vento irá soprar, mas sim, de ter um destino bem definido, um rumo bem traçado e de ajustar continuamente as velas para que se chegue até lá da melhor maneira possível, muitas vezes sem fazer grandes movimentos. Ou seja, um bom planejamento é mais útil do que boas previsões.
Previsões sempre mudam durante a jornada. Bons planos sempre nos dão a resposta do que fazer quando isso acontecer.
Um dos grandes desafios do nosso tempo não é o de descobrirmos grandes oportunidades, ou acertarmos o melhor momento do mercado, mas o de nos mantermos emocionalmente sãos e plenamente conscientes da realidade diante da enxurrada de informações inúteis ou viciadas que recebemos todos os dias.
Não entre em 2023 sem um planejamento financeiro bem feito, sem objetivos bem estabelecidos, sem veículos de investimento adequados a esses objetivos e, principalmente, sem alguém para te ajudar a voltar à realidade quando a enxurrada de notícias confundir os seus sentidos.