Enquanto os índices acionários de Wall Street cambalearam entre perdas e ganhos em meio a projeções sobre se o Federal Reserve vai subir os juros de novo ou não, o Ibovespa encerrou o pregão desta terça-feira (11) com 4,29% de alta.
O desempenho expressivo do benchmark da B3, que fechou com 106 mil pontos – vistos pela última vez na máxima intradiária de 3 de março – deve-se única e exclusivamente a fatores internos.
Max Bohm, estrategista de ações da Nomos Investimentos, cita o IPCA de março como principal driver da sessão. Uma declaração do ministro da Fazenda, Fernando Haddad, sobre quando o arcabouço fiscal será entregue ao Congresso colaborou para o bom humor.
Para Victor Benndorf, sócio-fundador e analista chefe da casa de research que leva seu sobrenome, o noticiário do dia apenas apoiou uma correção do Ibovespa, até então em assimetria em relação aos juros futuros.
“Os DIs aqui estão caindo há pelo menos duas semanas”, portanto o Ibovespa estava atrasado em relação à curva, e a correção veio de uma vez só. “Ou os juros voltavam para cima ou o Ibovespa precisava andar.”
Adicionalmente, Victor descreve uma correção em VALE3, “bastante atrasada no pull back frente os pares globais”, como adicional para a disparada do índice hoje.
Oportunidades à vista?
Para quem procura operações no curto prazo, Max Bohm aponta os setores cíclicos domésticos – varejo, construção civil, logística e consumo – como mais propensos à valorização ante a queda dos DIs.
Entretanto, pondera Victor Benndorf, o impacto da mudança na curva de juros é mais técnico do que prático.
Quem comprou ações enquanto o Ibovespa estava entre 97 e 98 mil pontos fez bem, na visão do analista. Agora, o especialista já não vê mais oportunidades de swing trade por enquanto.
“Temos o primeiro alvo de Ibovespa já nos 109 mil.” A estratégia de operações da Benndorf Research pressupõe não lutar contra a tendência do índice.
“O investidor realmente precisa separar o joio do trigo. Das empresas muito amassadas, parte é short-squeeze”, oscilações de curto prazo e descoladas de fundamentos.
Assim, conclui Victor, o investidor não deve confundir o otimismo de um dia com a zeragem de posição vendida por parte dos grandes investidores.
“Apesar de vermos um valuation relativamente descontado no Ibovespa, o mercado atual é de consolidação”, e quem quiser operar nesse mercado precisa entender que o contexto é de trading range, um intervalo sem tendência clara, “com upside técnico bastante limitado”.
O especialista alerta para a diferença entre pull backs, correções repentinas na contramão da tendência principal, com pontos de compra para longo prazo. O investidor “precisa manter a carteira dinâmica”, defende.
Investimento de longo prazo
Em um horizonte mais amplo, a Benndorf não espera grandes viradas na atividade econômica e consumo em 2023. Os juros futuros (DIs) podem estar caindo, mas a casa considera que, se a taxa Selic ceder diante da mecânica natural do mercado, será algo “muito marginal”.
“Uma coisa é o DI cair, outra é o Banco Central realmente reduzir a taxa de juros”, frisou o sócio-fundador. Mais demorado ainda seria essa queda marginal na Selic fazer diferença real na economia.
“O investidor agora precisa entender que estamos num jogo técnico”, sintetizou Victor Benndorf.
Por consequência, não vale a pena esperar forte aceleração nos resultados das companhias para este ano. “Melhor ficar com empresas de alta qualidade a preços razoáveis do que comprar barganhas sem vantagens competitivas para enfrentar um cenário mais difícil”, recomenda Victor.
Ele aponta a valorização das commodities no mercado global e uma recuperação mais expressiva da economia chinesa como projeções mais sólidas ainda para o primeiro semestre de 2023.
Quanto aos riscos macroeconômicos, Max Bohm destaca a possível demora na aprovação do novo arcabouço fiscal, assim como possibilidades de alterações no texto. No exterior, a economia americana ainda pode revelar sinais de forte recessão econômica.
O maior risco para investidores, entretanto, não está atrelado ao mercado, “mas ao investidor que não sabe qual jogo ele quer jogar”, observa Victor Benndorf.
“Quem é mais técnico precisa de muita agilidade nesse mercado, enquanto o buy and hold permite ao investidor assimilar melhor esse vai e vem sem grandes necessidade de giro nas carteiras.”