Wall Street têm ações de US$ 1.000 e não está preocupada em desdobrá-las

Isabela Jordão

 

A ação da Nvidia em Nova York ultrapassou a cotação de US$ 1.000 faz poucos meses. A empresa fez um desdobramento pouco depois, mas o preço emblemático do ativo continua representando um fenômeno comum no mercado americano: ações assustadoramente caras. 

Quer dizer, caras para os padrões brasileiros. A B3 não tem nenhuma ação com liquidez custando mais de R$ 100 – apenas Comgás [CGAS5] e Bicicletas Monark [BMKS3] custam três dígitos por ativo. A ação de maior preço no Ibovespa é a Sabesp [SBSP3], cuja cotação era de mais de R$ 80 nesta terça-feira (16). 

Ações de valor mais alto na Nasdaq em 16 de julho de 2024. [Fonte: Investing.com/TradeNews]
Já nos EUA, ações custando US$ 100, US$ 500 ou mesmo US$ 1000 são parte do normal. Tal se deve ao ritmo de crescimento das empresas, principalmente as de tecnologia. “Como essas empresas vêm crescendo muito, tanto lucro quanto preço da ação, é muito comum superar os US$ 100”, diz Renato Nobile, analista e gestor da Buena Vista Capital. 

Além disso, as bolsas de Nova York dispõem de liquidez gigantesca, nas palavras de Marco Saravalle, sócio e CIO da MSX Invest. A própria demanda global constante por ativos americanos dá tração aos negócios, de modo que sequer dá tempo de o preço dos papéis se tornar uma preocupação. 

No Brasil, por outro lado, os desdobramentos – ou stock splits – acontecem a fim de tornar o mercado mais acessível por meio da redução do valor unitário das ações. “A gente necessariamente precisa fazer esse movimento, historicamente, quando as ações passam do valor de R$ 100,00, de uma forma mais específica.” 

Em termos comparativos, acessibilidade não é uma preocupação quando a bolsa de valores na qual a empresa está listada já é o coração do mercado financeiro mundial. Nos Estados Unidos, usualmente a valorização acontece ao longo do tempo, então as ações ultrapassam o valor de R$ 100 como consequência natural, completou Saravalle.

Adicionalmente, o conceito de mercado fracionário em Wall Street é distinto do da B3, reduzindo ainda mais a urgência de desdobramentos. No Brasil, o lote padrão é de 100 ações, enquanto pode comprar de 1 a 99 ações como fração. 

Nos EUA, pode-se comprar metade de uma ação – algo parecido com a negociação do Bitcoin. “O fracionário é fracionário de fato”, definiu Saravalle. O modelo traz ainda mais liquidez para as bolsas americanas, o que “justifica um pouco por que as ações não fazem split”.

Sendo assim, não é porque a ação individual custa três dígitos que o ativo está supervalorizado. O preço por papel não tem correlação obrigatória com o valor de mercado da companhia, mas nos EUA, como os splits são menos usuais, “acaba tendo uma relação mais direta”, prossegue o executivo da MSX. 

“O que vale não é o preço por ação, e sim olhar os múltiplos da empresa em relação a crescimento, endividamento, lucro e por aí vai”, explica Renato Nobile. A lógica também vale para ações aparentemente baratas. “Nos Estados Unidos tem muita empresa de altíssima qualidade a preços bastante atrativos, abaixo de 100 dólares, por exemplo.”

Ele cita como exemplos a desenvolvedora de software Palantir, negociada a US$ 28 nesta terça-feira, e a Shopify, cotada a menos de US$ 70. A própria Disney, na casa dos US$ 98 agora, se enquadra na explicação. “É um mercado que tem muita atratividade para comprar empresas com custo individual abaixo de US$ 100”.

Em suma, investir nos EUA é bem mais fácil do que parece. “Com pouquíssimos dólares você consegue acessar, por exemplo, a Nvidia, que está com preço mais elevado, a própria Meta e outras empresas, comprando a fração da ação com pouquíssimos dólares”, sintetiza Nobile. 

Ambos os especialistas lembram que, além de ações fracionadas, os ETFs de Wall Street têm custo bem mais baixo, permitindo diversificação com aportes menores. 

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