Após um cenário conturbado e único em 2022, as dúvidas sobre o que vem pela frente assolam investidores. “O Brasil não é uma ilha. Então ele de fato sente os impactos de um início de desaceleração de atividade, mas ele também tem seus próprios desafios”, afirmou Rodrigo Sgavioli, head da área de alocação de research da XP, em evento na sede da BRA BS/ em São Paulo.
O conflito entre Rússia e Ucrânia e a política chinesa de Covid-zero geraram pressão inflacionária em todo o mundo, por conta do desarranjo das cadeias de suprimentos. Devido à política de Covid-zero, a China cresceu menos no ano passado, impactando o Brasil, um de seus principais parceiros comerciais. Ao mesmo tempo, o mundo sentiu a crise energética na Europa.
Neste contexto, como aponta Sgavioli, além de mediar problemas externos, o país precisou lidar com demandas internas. Em 2022, “a gente cresceu mais que o esperado e teve um mercado de trabalho também melhor que o esperado, a gente fez esse trabalho no juros [reduzir a Selic] antes dos outros países… Então o Brasil naturalmente já ia enfrentar um arrefecimento no ritmo de crescimento”, explica o analista.
O que é necessário monitorar neste momento é o impacto da economia global no cenário nacional, caso a recessão lá fora seja mais dura que o esperado, segundo Rodrigo. Ele ressalta que a expectativa é de uma recessão leve nos Estados Unidos no final de 2023 ou início de 2024, contudo é necessário estar atento.
O analista também aponta a abrupta reabertura chinesa como uma possível influenciadora dos preços do petróleo. “Ainda pode ter uma série de elevações de preços”, afirma ele. Quando o assunto é Brasil, Rodrigo aponta o “tema da vez” como os riscos fiscais no governo vigente. Ele explica que a preocupação não é a inflação corrente e sim “a expectativa para o que vem pela frente.”
“O nosso cenário para Brasil não é um cenário de recessão, não é um cenário tão duro em um primeiro momento, mas com riscos hoje que podem fazer a gente de fato ter um PIB muito mais pressionado.” A projeção da XP para o PIB de 2023 é de crescimento de 1%, diferente dos 3% que do ano passado.
Investimentos em 2023
“Não tem como negar que é um ano que a renda fixa deve se sobrepor a classes de mais riscos”, afirma o especialista. A principal recomendação do momento é investir em pós-fixado, segundo Rodrigo. “IPCA+ é o preferido em um Brasil que é historicamente inflacionário.” Segundo ele, produtos pré-fixados não são uma boa opção no momento, visto que serão os maiores impactados em caso de deterioração fiscal.
Na renda variável, os fundos multimercado são a escolha favorita, pois o risco e retorno esperados ficam entre a renda fixa e a variável. “Vejo como uma classe que traz um efeito de diversificação amortecedor para os portfólios bem importante”, afirma ele.
Além disso, o investidor deve reforçar a alocação dolarizada, indica o analista, “menos por conta do dólar em si, e mais por uma questão de diversificação regional”. Em um momento de incertezas, ter acesso a um novo mercado, com moeda forte, é uma escolha adequada. Ele reforça que a decisão é ainda mais importante perante cenários duvidosos, mas dolarizar a carteira é uma ação recomendada em qualquer momento, independentemente da opinião política, visto que o Brasil é um mercado, em geral, incerto.
“Vale reforçar que o momento lá fora é muito complexo, então ser muito seletivo na escolha das ações, com um pouco mais de folga se você é um investidor de longo prazo”, explica ele
Para um cenário inflacionário de médio e longo prazo, Sgavioli vê com “muito bons olhos” ter ativo real, investimentos alternativos de modo geral. No curto prazo, os fundos de investimentos imobiliários de recebíveis tem a predileção da XP. Segundo ele, no curto prazo, eles são como “uma casca de renda variável dentro de um portfólio de renda fixa, é o tipo de alocação que protege da inflação”.
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