O Comitê de Política Monetária (Copom) vai divulgar hoje (03) a taxa básica de juros da economia às 18h. A expectativa do mercado financeiro é que a Selic seja elevada em 0,5 ponto percentual, passando dos atuais 13,25% para 13,75% ao ano.
A taxa Selic é a taxa básica de juros da economia brasileira determinada pelo Banco Central (BC). Por ser utilizada como referência, ela acaba por estabelecer todas as demais taxas da economia do país. “No fundo, a taxa Selic seria, de uma forma leiga, a taxa que o Banco Central determina como a taxa justa de empréstimo pro governo”, afirma Rodrigo Correa, estrategista de investimentos da BS.
Ele explica que isso acontece por, teoricamente, o governo brasileiro ser a instituição mais forte e estável financeiramente do país. “Quando um banco toma empréstimo ou quando uma empresa toma empréstimo, eles sempre têm uma taxa maior do que a Selic, porque quem toma a taxa Selic é o governo, que é considerado, pela teoria, a referência de risco mínimo ou de risco zero de um país. Então, ninguém tem melhor condição de crédito que o governo do Estado brasileiro”.
Impacto na B3
O Copom, formado pelo presidente e a diretoria do Banco Central, se reúne a cada 45 dias, e alguns fatores influenciam na decisão da taxa, como a inflação, o estado das contas públicas, a atividade econômica e o cenário externo. O objetivo do encontro é definir a política monetária, a fim de estabilizar a economia do Brasil.
Crédito e consumo andam lado a lado e, caso a taxa aumente, os financiamentos ficam mais caros e o consumo tende a cair, dado que os preços aumentam também. Por isso, a tendência é de que uma elevação da Selic cause uma redução das compras.
Entretanto, o analista de investimentos alerta sobre a expectativa do mercado quanto a reunião de hoje. “É a questão de expectativa que impacta ou não impacta a B3. Se o mercado está esperando 0,5 p. p. de aumento isso já está precificado e, em teoria, não deveria mexer com mercado acionário, com os mercados de renda fixa, com nada, porque o mercado já se antecipa e os preços se ajustam”.
Rodrigo acrescenta que o efeito na bolsa se dá pela quebra das expectativas dos investidores. “Se for para mais da expectativa, é um impacto restritivo, as bolsas vão tender a cair, renda fixa vai ficar mais atrativa ainda. E o oposto também é válido. Se o Copom decide não aumentar a taxa, isso, em teoria, seria um uma sinalização positiva pra mercados de risco, bolsa, fundos imobiliários…”
Defasagem do impacto
Apesar da atenção voltada para a divulgação às 18h, especialistas esclarecem que, independentemente do que for decidido hoje, não perceberemos qualquer consequência imediata.
“A taxa Selic só vai causar um impacto real na economia 12 meses depois. Ela tem uma defasagem de impacto, ou seja, isso tudo que a gente tá vivendo hoje, esse arrocho na economia, é causada por um aumento que aconteceu por volta de 12 meses atrás”, afirma Beto Saadia, planejador financeiro e especialista em alocação e fundos de investimentos.
Beto ainda acrescenta que os efeitos que serão sentidos nos próximos meses são fruto de aumentos de meses anteriores. “Tem muita alta que foi ao longo do ano passado e desse ano que nem impactou ainda a economia”.
De acordo com os especialistas consultados, o dia da decisão não tem tantas implicações no mercado financeiro. “A sinalização futura, os comunicados, a ata que que sai depois são importantes, mas o mercado está sempre olhando mais pra frente. Ele está olhando os contratos de DI [Depósitos Interfinanceiros] futuros que são negociados na bolsa”, disse Beto.
Sintonia entre bancos
Na última semana, o Federal Reserve divulgou um aumento de 0,75 ponto percentual na taxa de juros. No dia 16 de julho, o Banco da Inglaterra (BoE) também seguiu o movimento e elevou a sua principal taxa de juros em 0,25 p. p. A expectativa de aumento no Brasil expõe um alinhamento entre os bancos mundiais.
“Essa sincronização de bancos centrais ao redor do mundo não é tão comum. A gente está vendo isso agora muito por um efeito da crise atual causada pela pandemia do Covid, que fez com que, por efeitos do combate ao vírus, todo mundo tivesse que ficar em casa, e isso causou um impacto na economia. […] Tudo parou, isso teve uma sincronia de crise muito grande, foi a maior que se tem notícia desde a Segunda Guerra Mundial”, afirma Rodrigo.
A pandemia de Covid-19 levou a uma recessão sincronizada e, agora, depois de pouco mais de dois anos, os países começam a se recuperar e a economia, a retomar. O pagamento de auxílios, medida tomada por diversos governos, retomou a renda das pessoas e reduziu a taxa de desemprego, gerando aumento da demanda. Entretanto, por ainda estarem em processo de recuperação dos efeitos pandêmicos, a oferta não conseguiu acompanhar o ritmo, como aconteceu no Brasil.
O estrategista BS explica que “a demanda acabou voltando mais rapidamente do que a oferta na economia de maneira geral. Isso tem causado um fenômeno inflacionário global. Então, a inflação tá alta não é no Brasil. É no Brasil, nos Estados Unidos, é na Inglaterra, é na Europa, de maneira generalizada”.
Trading em dia de decisão do BC
Com o mercado já precificado, Filipe Borges, analista da Benndorf Research, esclarece que não há surpresas no day trading hoje caso o Copom siga o esperado. Entretanto, caso haja um salto na taxa Selic desalinhado à expectativa, a bolsa tende a ter um movimento negativo, principalmente as empresas de tecnologia, como a Intelbras (INTB3) e a LocaWeb (LWSA3). Caso o movimento seja oposto e a taxa Selic caia, os bancos tendem a sentir mais a pressão.
“Mas a ideia é que venha alinhado, porque os resultados estão vindo positivos, então não deve vir nenhuma surpresa nessa próxima divulgação”, complementa Filipe.