JP Morgan, Credit Suisse, Citi e outros: Recomendações de bancos gringos mexem mais com a bolsa?

tech-daily-ztYmIQecyH4-unsplash

Quando o JP Morgan rebaixou a recomendação da CVC (CVCB3) para “neutra”, em 9 de agosto, e cortou o preço-alvo para o final de 2023 pela metade – de R$ 21 para R$ 10 – os papéis encerraram o pregão com 10,96% de queda. Na direção oposta, o banco americano elevou a recomendação da Cielo (CIEL3) para o equivalente a “compra” pouco mais de dois meses antes, em 26 de maio, e as ações saltaram 11,48% em reação do mercado.

O JP Morgan detém certo poder de influência sobre a bolsa brasileira, mas não exclusivamente. Goldman Sachs, Bank of America, Credit Suisse e outros “bancões” estrangeiros com frequência direcionam as altas e baixas intradiárias na B3, através de recomendações de investimento.

As divisões de análise de instituições brasileiras como Banco do Brasil, Itaú e Bradesco também emitem relatórios de recomendação, cujo impacto na bolsa dificilmente se equipara ao dos gringos. “Eles têm maior influência por conta de o fluxo maior de ordens ser sempre dos fundos estrangeiros”, explica Alexandre Achuí, sócio e assessor da mesa private de ações da BS/ BRA. Os fundos internacionais levam mais em consideração os relatórios de bancos de fora do Brasil do que os dos nacionais, ele completa.

Além disso, o volume de negociação da B3 é reduzido em relação ao de bolsas como a NYSE, “algo em torno de 0,5%”. Dessa forma, o fluxo de capital de estrangeiro é frequentemente decisivo para a formação de tendências no mercado brasileiro.

Para cima ou para baixo, as recomendações dos “bancões” gringos pesam em diferentes graus, dentro e fora do Ibovespa. Em 6 de junho, por exemplo, as ações da Espaçolaser (ESPA3) caíram 6,53% após o Goldman Sachs rebaixar a recomendação para “neutra”.

Como funciona uma recomendação

Divididas entre absolutas e relativas, as recomendações de investimento mais tradicionais são, em português, “compra”, “venda” e “neutra” (ou “manutenção”) – pertencentes à categoria das absolutas, que se referem à expectativa de alta nos preços em relação ao preço vigente. As relativas, por outro lado, se fundamentam no desempenho do ativo em relação a um índice de referência. Os termos mais utilizados são em inglês: “outperform” e “overweight” significam previsão de desempenho acima do referencial, “market perform” e “equalweight” indicam performance em linha com o indicador utilizado, e “underperform” e “underweight” sinalizam desempenho inferior.

Recomendações de MGLU3 em 1º de abril de 2022. [Fonte: Bloomberg]
Na formação das recomendações, segundo Carlos Daltozo, head de equities da Eleven Financial, os analistas olham “óbvio, o longo prazo”, mas levando em consideração o curto prazo. Dessa forma, os analistas elaboram as projeções, na tentativa de identificar mudanças de tendências. “Se uma tendência que era um dos pontos centrais da tese muda, ou desacelera muito o ritmo de crescimento de uma companhia, a gente revisa os modelos e acaba mudando a recomendação”.

De acordo com Niels Tahara, head de análise fundamentalista da Benndorf Research, “os principais pontos para mudança de recomendação são as mudanças nos fundamentos e nas perspectivas  da companhia”. Citando o exemplo das ações do e-commerce, ele destaca as perspectivas como principal fator. “Com a pandemia, a concorrência não estava tão agressiva ainda, mas mudou completamente o ambiente competitivo”, de modo que as anteriormente chamadas “pioneiras” perderam domínio de mercado.

O acirramento da concorrência, aliado ao cenário macroeconômico, mudou a percepção dos grandes bancos sobre ações como Magazine Luiza (MGLU3), que tinha recomendação equivalente a “compra” do Morgan Stanley em abril de 2020 e “neutra” atualmente.

Quem identifica fortes fluxos compradores em determinado ativo pode ter oportunidades diante de si. Movimentações expressivas podem aparecer “quando temos as recomendações de grandes bancos, principalmente bancos que que buscam muito varejo, ou que têm muitos fundos de investimento administrados e geridos por eles”, relata Filipe Borges, analista técnico da Benndorf.

“Quando a gente identifica um único player comprando ou vendendo determinada ação, fica relativamente tranquilo tentar seguir o fluxo nesse ativo através de uma boa leitura do Times and Trades”, explica, em referência à ferramenta disponível em plataformas de operação da fintech Nelogica, a qual permite visualizar os players mais atuantes nas ações e os agressores de cada operação – isto é, quem tomou a iniciativa do negócio.

Operações com PETR4 no Times and Trades em 24 de agosto de 2022. [Fonte: Nelogica]
No entanto, Filipe ressalta que nem sempre as correlações são explícitas. Se a mesa de operações de determinado banco quer abrir ou desfazer posição em um ativo, “ele [o banco] não necessariamente vai fazer ou precisa fazer pela própria instituição, até para tentar driblar um pouco essa parte de fluxo do mercado”.

Precificação

Junto a toda recomendação de investimento, há sempre um preço-alvo, normalmente calculado segundo a capacidade de geração de caixa da companhia no futuro. “Por isso, é importante entender as perspectivas de resultados da empresa, a qualidade da gestão, assim como a estratégia”, enfatiza Niels Tahara. “Muitas vezes, empresas de maior qualidade possuem menor upside [potencial de alta], mas a resiliência e capacidade de atravessar momentos adversos, antecipar as mudanças no ambiente competitivo e se adaptar as tendências faz com que essas companhias continuem gerando valor para o acionista, justificando a recomendação de ‘compra’”. Em contrapartida, companhias mais vulneráveis a cenários adversos têm chances menores de manter a capacidade de geração de valor.

Carlos Daltozo conta que certas instituições financeiras, como bancos, têm métricas mais rígidas para definir preços-alvo. “Por exemplo, se estiver com o upside acima de 20% é ‘compra’, entre 0% e 20% é ‘neutro’, e negativo é ‘venda’”, com variação do percentual de alta ao longo do tempo.

A dinâmica entre recomendação e preço, em certos casos, pode soar contraditória. Como em 17 de agosto, quando o Citi subiu o preço-alvo de Cielo (CIEL3) de R$ 4 para R$ 5,40, mas manteve recomendação “neutra”. Em descasamento aparentemente maior, o Credit Suisse rebaixou a Locaweb (LWSA3) de “outperform” para “neutra” na última quarta-feira (24), mas subiu o preço-alvo de R$ 9,50 para R$ 11.

Segundo Carlos Daltozo, tais situações são normais, principalmente em cenários voláteis como o atual. Ele explica que os analistas frequentemente demoram a ajustar o preço-alvo. “Pode ser que aconteça, porque a gente precisa conversar com a companhia, rever os números, entender os modelos antes de mudar uma recomendação”.

Recomendações de MGLU3 em 24 de agosto de 2022. [Fonte: Bloomberg]
Além das possíveis defasagens temporais, os descasamentos podem ter raiz técnica. “Acontece muito de ter empresas que estão muito ruins, têm umas perspectivas que que não são tão boas no curto prazo, mas no longo prazo sim”, diz Niels Tahara. Da mesma forma, resultados negativos de certas companhias podem já terem sido precificados pelo mercado, abrindo brechas para upsides. Os potenciais de alta, no entanto, têm chances escassas de saírem da teoria – dada a dificuldade operacional.  “Por isso, por vezes, apesar de a ação ter seu preço justo elevado, a recomendação continua neutra ou de venda”.

Compartilhe em suas redes!

WhatsApp
Facebook
LinkedIn
PUBLICIDADE

Matérias Relacionadas

PUBLICIDADE

Preencha o formulário e receba a melhor newsletter semanal do mercado financeiro, com insights de especialistas, notícias e recomendações exclusivas.

PUBLICIDADE
Are you sure want to unlock this post?
Unlock left : 0
Are you sure want to cancel subscription?