Márcio Appel, da Adam: “Nossa posição vai além da pessimista. Eu estou mais com medo mesmo”

marcio appel adam 2024
Isabela Jordão

 

A taxa de juros no Brasil não é restritiva. Para Márcio Appel, gestor da Adam Capital – dona de um dos únicos fundos multimercados que supera o CDI em 2024 –, a Selic está incompatível com a inflação, que ainda deve acelerar.  A casa manteve posição tomada nos DIs em julho, apostando na alta dos juros.

“Nossa leitura é que o quadro fiscal é pior este ano do que o mercado acha, e ano que vem será pior ainda”, disse Appel na call mensal da Adam, realizada nesta quarta-feira (03).

Na visão do gestor, tampouco há vontade política do governo para redirecionar a rota. O próprio arcabouço fiscal seria pouco punitivo quanto o teto é ultrapassado.

E o problema não está no estado presente da economia. Os números atuais são bons, com crescimento acima do potencial, uma balança comercial “muito boa” – apesar do aumento na velocidade de crescimento nas importações – e o pleno emprego praticamente estabelecido.

O prognóstico de deterioração, explica Appel, é “exatamente porque a gente está gastando o máximo em uma situação corrente excelente”.

A questão não se resume ao déficit zero. “O tamanho do governo precisa ser reduzido, e não existe nenhum tipo de movimento político pra reduzir o governo.” O resultado seria uma deterioração de produtividade somada à expansão monetária, “o que leva a uma inflação claramente ascendente pra frente”.

Assim, caso o cenário negativo para a dinâmica de preços do Brasil se concretize, o resultado seria um ciclo vicioso de gasto e inflação. Aliás, a inflação de serviços tem persistido, e a tendência é essa mesma, segundo o gestor.

De junho para julho, a visão da Adam passou a ser mais favorável em relação aos EUA, cuja condução monetária “está muito mais perto de levar a economia para um soft landing que aqui”. O mercado americano agora tem apenas o risco eleitoral no radar, enquanto Europa e China lidam com cenários mais desfavoráveis.

De todo modo, o mundo está mais hostil para o Brasil hoje do que nos anos passados. Os juros nos EUA não estão mais zerados e a China não cresce mais 8% ao ano. Pelo contrário, a segunda maior economia do mundo enfrenta hoje um problema estrutural de deflação, semelhante ao Japão de 30 anos atrás.

A Adam está zerada em posições na Bolsa brasileira. “Nossa posição vai além da pessimista. Eu estou mais com medo mesmo”, concluiu Appel. Ele declara certo arrependimento por ter reduzido a posição comprada em câmbio e permanecido na Bolsa antes, e quer voltar a comprar dólar caso a moeda se estabilize em qualquer patamar frente ao real.

Apesar da alta recente do Ibovespa, o gestor fica receoso de assumir compras com o índice em torno dos 127 mil pontos. Appel atribui a valorização do índice à chamada sobra de reais na economia local – isto é, dinheiro disponível para as pessoas consumirem –, assim como à rotação para setores de exportação.

O fundo Adam de maior exposição ultrapassa 200% do CDI no ano, com rentabilidade de 11,07%.

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