Isabela Jordão
Há cerca de um mês, o ânimo dos investidores começou a dar o ar da graça no Ibovespa. Junho, ao mesmo tempo em que totalizou o pior mês em fluxo de capital desde 2018, marcou um ponto de inflexão no ano, com entradas consecutivas de dinheiro gringo na bolsa do Brasil.
O saldo negativo de R$ 43 bilhões no final da primeira quinzena terminou o mês reduzido em R$ 3 bilhões, e a tendência de entrada de fluxo se mantém até o momento. O saldo de 2024 estava em R$ 36 milhões até a última terça-feira (16), de acordo com o monitoramento da plataforma Jumba.
A volta do capital estrangeiro coincide com uma subida em torno de 6% do Ibovespa no mesmo período, aos 127 mil pontos – o índice terminou o primeiro semestre com 123,9 mil. “Sem dúvida, quem faz o nosso mercado andar é o gringo”, afirmou Erik Rodrigues, sócio fundador e CEO da Jumba.
Todavia, prossegue, a entrada de dinheiro não foi arbitrária. O conjunto de amenização do cenário político, real desvalorizado – que torna o investimento no Brasil mais barato para o gringo – e uma correção técnico após a forte queda semestral trouxeram de volta os olhos do exterior para cá.
Adicionalmente, a expectativa de lucros das empresas para este ano e o próximo foi revisada para cima, formando um cenário de ativos mais baratos e mais atrativos.
Os fatores concretos estão lá, mas as reações do mercado passaram longe do proporcional, de acordo com o analista técnico Filipe Borges. Em meados de junho, recorda, com o Ibovespa na região dos 119,5 mil pontos, as projeções eram apocalípticas.
“Naquele momento, todo mundo estava falando que o mercado ia cair direto para 110 mil a 111 mil pontos, que estava na cara que o mercado iria afundar e que ninguém queria mais comprar o Brasil.” Ironicamente, houve alta de uns 10 mil pontos nos trinta dias posteriores. “Isso prova, mais uma vez, que as pessoas agem muito mais com o lado emocional do que com o lado racional”, pondera.
Erik Rodrigues pensa parecido. Observando a divergência acentuada entre a intensidade do retorno de capital estrangeiro e a intensidade da alta recente do Ibovespa, ele aponta otimismo exagerado no momento. Ele vê o impulso mais como um ajuste técnico, lembrando também que a Bolsa procura antecipar movimentos.
O comportamento do governo quanto ao fiscal,o andamento da taxa de câmbio, a política monetária dos EUA e o crescimento do PIB nacional são pontos que devem definir se o atual impulso no Ibovespa tem ou não consistência, acrescentou o especialista. “Sem esquecer que ainda temos eleições nos EUA este ano.”
Para Erik, o cenário “é desafiador para nosso mercado, e basicamente estaremos nas mãos dos formuladores de políticas para movimentos mais consistentes”.