Autoconhecimento: dicas e ferramentas para entender o próprio comportamento no trading

Gerenciamento de risco e um emocional forte importam mais no trading que sua estratégia operacional

Operacional, emocional e gerenciamento de risco. Foram os três pilares do trading estabelecidos pelo profissional russo Alexander Elder.

Para Rodrigo Cohen, analista de investimentos e co-fundador da Escola de Investimentos, o terceiro é o mais importante e a base dos demais.

O analista técnico da Benndorf Research Filipe Borges concorda. “Um trader disciplinado é o que tem gestão de risco”, define.

Em termos mais práticos, Ricardo Brasil, pós-graduado em análise financeira e fundador da Gava Investimentos, descreve o operador disciplinado como quem “não precisa ficar na frente do computador olhando trade”.

Na falta da gestão de risco, um emocional fora do lugar logo assume as rédeas.

A facilidade de se envolver em ciclos viciosos no trading também se deve muito ao fato de “a jornada do trader ser muito solitária”, de acordo com Paula Sá, cujo histórico no atendimento ao trader na XP Inc. antecede a atual função de head de social trading da Nomos.

Corretoras de investimento têm desenvolvido olhares específicos ao trader. Caso da XP, que recentemente disponibilizou o Trading Data, um relatório quinzenal composto por sete índices relacionados à técnica e disciplina na operação de minicontratos.

O foco do relatório, explicou Paula, é mapear menos o operacional e mais a mentalidade do trader.

Pilares da disciplina

Na prática, o Trading Data visa colocar o trader como que diante de um espelho. A metodologia do relatório atribui uma nota – de 0 a 10 – baseada no comportamento do trader no período analisado.

A pontuação leva em conta a relação entre perda máxima e ganho médio e entre ganho diário contra perda diária, taxa de dias vencedores, taxa de acerto, payoff, estabilidade e preço médio.

A questão é: o que é um trader disciplinado? O Trading Data aborda a questão de forma pragmática, mas operadores experientes divergem sobre o que de fato significa disciplina.

“Trader disciplinado vai se preocupar muito mais com as perdas do que com os ganhos”, define Ricardo Brasil. “Ele vai saber o que fazer desde o início, até o meio, até o fim.”

Filipe Borges corrobora: quem é disciplinado “sabe quantas oportunidades terá no dia, quanto vai buscar de meta no dia e, principalmente, quanto aceita perder no dia”.

Rodrigo Cohen diverge dos dois colegas. Na visão dele, falar em disciplina é um assunto controverso, “porque o ser humano, geneticamente, não é feito para ser disciplinado”. Assim, atrelar disciplina ao sucesso no day trade é o mesmo que condenar um aspirante ao fracasso.

A solução, prossegue, é ter bons hábitos, incluindo a responsabilidade de cumprir o que precisa ser feito – seja entrar em uma posição na hora certa, sair na hora certa ou entrar com a quantidade de contrato certa.

“O principal aqui é, você precisa ter um pouco de disciplina no início. Depois que você tem disciplina aí sim você cria hábitos através da sua disciplina. E depois você não precisa ser disciplinado, porque o hábito já virou um estilo de vida. E aí a partir do momento que você transforma isso no estilo de vida, você automaticamente consegue ter os resultados que você tanto busca.”

Feitas as ressalvas, Cohen enumera foco, dedicação, muito estudo, treino, concentração, resiliência e “um mindset blindado, com reações positivas a tudo que acontece, seja gain ou seja loss” como marcas da disciplina.

Vícios de trading

Operadorares profissionais alertam constantemente quanto a uma série de comportamentos prejudiciais que traders podem facilmente adotar.

Uma delas é o preço médio, ou Martingale, a qual tem por objetivo alterar o preço médio do trade, ao custo do aumento de exposição. Geralmente, faz-se preço médio em operações perdedoras: o trader compra um papel a R$ 9, a cotação cai para R$ 8, ele aumenta a posição, e assim vai.

Filipe Borges não recomenda preço médio para ninguém, definindo-o como uma estratégia muito perigosa para qualquer trader.

“As pessoas que trabalham fazendo preço médio não têm uma estratégia definida, elas param de agir pelo lado racional e começam a agir muito pelo lado emocional, porque viram torcedores.”

O maior problema do Martingale, acrescenta, é justamente a taxa de acerto alta que ele proporciona. Uma vez que o mercado oscila em zigue-zague, é possível sair no zero a zero ou com lucros de uma operação com o preço médio.

No entanto, quando o mercado engata uma tendência contrária à posição do operador, a chance de quebrar o caixa “é absurdamente grande”, segundo Filipe.

Rodrigo Cohen não é tão enfático na oposição ao preço médio. Ele inclusive afirma utilizar a estratégia, mas não contra a tendência do mercado.

“Tem que tomar muito cuidado. Não recomendo usar, principalmente os iniciantes.” Já para traders experientes, há sim possibilidade de utilizar o Martingale sem ferir a gestão de risco, defende.

Ricardo Brasil vai na mesma linha, e diz que “preço médio não é errado se ele for planejado”. A filosofia do especialista compreende que toda operação em bolsa tem início, meio e fim. Quando o trader não planejou o Martingale em nenhuma das etapas, o resultado é desastre.

“Não faz sentido nenhum, você pode aumentar o seu prejuízo.”

Conhece-te a ti mesmo

Integrante do time responsável pela elaboração do Trading Data, Paula Sá ressaltou ao TradeNews que o trader possui características muito distintas do investidor tradicional, demandando um modelo de atendimento e assistência específicos.

“Ali dentro tem uma pegada de neurociência.” O relatório adapta conceitos sobre vieses cognitivos para a linguagem do gerenciamento de risco, acrescentou.

 

Assista à conversa com Paula Sá sobre o Trading Data:

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