O Banco Central Europeu (BCE) divulga nesta quinta-feira (08) a tão aguardada taxa de juros de setembro. O insistente agravamento das pressões inflacionárias na Zona do Euro deve forçar o BCE a ampliar a dose do aperto monetário. A expectativa no mercado é de que a instituição suba juros em 0,75 ponto percentual, mas analistas não descartam uma segunda elevação consecutiva de 0,5 p.p., à medida que a interrupção no fornecimento de gás russo aumenta as incertezas sobre a atividade.
Em agosto, a inflação ao consumidor (CPI) do bloco acelerou à máxima histórica anual de 9,1%, resultado acima do esperado. Mais uma vez, o índice foi influenciado sobretudo pela disparada nos preços de energia, que saltaram 38,3% na comparação de 12 meses. Ainda assim, a escalada nos custos de vida é disseminada: o núcleo do indicador, que exclui o setor energético, avançou a 4,3%.
O cenário complicou o trabalho do banco central: se por uma lado uma eventual crise de energia pode impulsionar ainda mais a inflação, do outro, o risco é de um enfraquecimento agudo da economia, que forçaria o BC a moderar o aperto.
A taxa de juros têm sido o foco dos investidores nesse momento. Entretanto, pouco se fala sobre as outras outras duas taxas oficiais do Eurosistema, que também serão divulgadas às 9h15: a taxa da facilidade permanente de depósito e a taxa da facilidade permanente de cedência de liquidez.
Elas são fundamentais para a condução da política monetária europeia, e para sinalizar a respectiva orientação, seja dovish ou hawkish. Entretanto, tendem a serem vistas como meras coadjuvantes da protagonista taxa de juros – o que pode ser um erro.
A taxa de facilidade permanente de depósito é aplicada nas operações de absorção de liquidez, e define os juros que os bancos recebem pelos depósitos realizados junto ao BCE pelo prazo overnight (entre noites).
Já a facilidade permanente de cedência de liquidez define a taxa de juros overnight do mercado interbancário. Ou seja, as partes podem utilizá-la pra receber crédito entre noites de um banco central nacional, a uma taxa de juros previamente estabelecida em troca de ativos elegíveis.
Enquanto a taxa de juro da facilidade permanente de cedência de liquidez estabelece, normalmente, um limite máximo para o juro overnight, a taxa de depósito estabelece, habitualmente, um limite mínimo.
Assim, em um ambiente normal de liquidez, é demarcado um corredor para a evolução da taxa de juro overnight do mercado interbancário.
Nem o Federal Reserve nem o Banco Central brasileiro decidem sobre essas mesmas taxas de juros específicas. Marco Ferrini, analista de macroeconomia da Benndorf Research, explica que ambos possuem outros nmecanismos, como a taxa de redesconto e a taxa de depósito compulsório, que são maneiras diferentes de indicar a política monetária.
Além das taxas já mencionadas, existem alguns outros pontos discutidos nas reuniões do BCE, como a possibilidade de compra de títulos públicos e privados – o quantitative easing –, operações de refinanciamento direcionadas de longo prazo e o forward guidance, comenta Marco.
“Provavelmente o mais relevante, o forward guidance, é advogado costumeiramente pelos bancos centrais em geral, não só pelo Banco Central Europeu”, afirma ele.
Ele é uma ferramenta utilizada para influenciar, com as próprias previsões dos bancos centrais, as expectativas do mercado sobre os níveis futuros das taxas de juros.
Esses tópicos secundários servem para reforçar o posicionamento das autoridades monetárias diante de um determinado cenário.
“Recentemente, em julho, nós vimos o Banco Central Europeu encerrar o seu processo de quantitative easing, sinalizando uma desaceleração da expansão monetária – realmente um início de período de contração monetária, que vem se confirmando agora também com as altas da taxa de juros. E, até então, o BCE não vinha oferecendo um forward guidance muito claro”, disse o analista.
Apesar de subjetivo anteriormente, a expectativa é que o atual forward guidance venha mais assertivo, junto com altas fortes da taxa de juros, já que o bloco está em desaceleração.
“A taxa de inflação continua batendo as máximas históricas, então a gente está esperando um momento de contração monetária bem forte pra dar uma segurada na inflação”, afirma ele.
Além disso, o BCE finalizou o flexibilização quantitativa, diminuindo a liquidez do sistema. A atitude é reforçada pelos aumentos das taxa de juros e pelo discurso forte do presidente do Fed Jerome Powell, em Jackson Hole.
“A gente espera uma resposta igualmente forte do mercado europeu, visto que eles estão mais para trás da curva de juros”, concluiu Marco.