Apesar da reação levemente positiva das ações preferenciais do Bradesco [BBDC4] à revisão positiva do Itaú BBA para o banco na última quinta-feira (05), um quadro mais amplo revela uma postura ainda cabreira do mercado quanto à capacidade de recuperação da companhia.
O BBA subiu a recomendação de “underperform”, equivalente a venda – para “market perform” – neutra –, atribuindo preço-alvo de R$ 16,00.
Todavia, as recomendações neutras para BBDC4 são maioria entre os posicionamentos coletados pela Bloomberg. Das 16 casas com cobertura ativa para a empresa, apenas três indicam compra das ações – incluindo o Morgan Stanley.
Entre as duas casas que recomendam venda do ativo, a Eleven Financial vê a inadimplência do Bradesco ainda em trajetória de forte alta.
“Até vermos essa inflexão, a gente prefere ficar mais cauteloso no papel, porque isso [a inadimplência] machuca o lucro, que machuca a rentabilidade”, diz Carlos Daltozo, head de equities da casa. A rentabilidade do Bradesco hoje se encontra abaixo da dos outros três grandes bancos – Itaú, Banco do Brasil e Santander.
O problema com a inadimplência
Na intenção de contornar o ainda alto nível de inadimplência, o Bradesco tem buscado maior presença no segmento de gestão patrimonial e no mercado de capitais, por meio da própria asset.
Adicionalmente, o banco segue equilibrando suas ofertas de crédito, oferecendo para clientes pessoa física linhas não colateralizadas – como cartões de crédito e empréstimos pessoais – e linhas focadas em capital de giro para o segmento pessoa jurídica.
Desde o ano passado, o Bradesco vem reduzindo a liberação de crédito. “A questão é que os outros bancos fizeram isso um ano antes, no final de 2021”, pontua Daltozo. Ele projeta mais dois a três trimestres de provisionamento alto para a companhia.
Provisionamento de crédito é a prática contábil de reservar capital para cobrir possíveis perdas com empréstimos ou financiamentos concedidos pela instituição financeira.
Varejo e juros, as pedras no sapato
O Bradesco já provisionou 100% da dívida da Americanas, eliminando o impacto do ocorrido para os próximos balanços.
A Levante Corp., entretanto, avalia cuidadosamente a exposição do banco ao varejo, setor de maior exposição do banco, ainda que a participação equivalha no máximo a 10% da carteira total.
“Percebemos que o Bradesco tem um alto nível de exposição aos principais players desse segmento, os quais, devido à sua alta sensibilidade aos ciclos econômicos, também têm enfrentado desafios significativos, incluindo altos índices de inadimplência e forte competição com a entrada de empresas chinesas no setor”, explica Matheus Nascimento, analista da casa.
Além disso, o custo de capital segue impactando consideravelmente os balanços das varejistas, prossegue o especialista, tornando o nível de endividamento um ponto crítico que afeta diretamente a carteira do Bradesco.
Como investir
A visão da Eleven para o Bradesco antagoniza com uma recomendação de compra para Itaú [ITUB4], “pela consistência e qualidade dos resultados”. Daltozo diz que o Banco do Brasil [BBAS3] registra a melhor evolução de indicadores, mas não é a melhor alternativa de investimento por conta da ingerência política.
A estatal, porém, é a preferência da Levante entre os grandes bancos. “Em nossa análise, está sendo negociado a múltiplos descontados”, justifica Matheus Nascimento. Ele vê potencial para BBSA3 ser negociado a até 1,1x o valor patrimonial, especialmente por conta do foco do BB no segmento agropecuário.
“Isso inclui, por exemplo, o Plano Safra, que atingiu este ano o seu nível recorde e desempenha um papel fundamental no fomento desse setor.”
O analista destaca também a infraestrutura tecnológica do Banco do Brasil como “valioso gatilho” para contribuir com um valor de mercado mais elevado – o que deixa a estatal “tão competitiva quanto o Itaú”, o segundo na lista de preferências da Levante.