Cadeia de suprimentos: a globalização que salva é a mesma que pune

mercado

Durante décadas, a globalização aumentou a variedade e reduziu o custo dos alimentos. Agora, um combo inesperado – que inclui pandemia de Covid-19, guerra na Ucrânia e outros transtornos a nível global – expôs como essas conexões e trocas comerciais, geradoras de uma cadeia de suprimentos tão complexa, também podem resultar no salto dos preços.

A inflação dos preços dos alimentos atingiu as máximas de várias décadas em 2022 ao redor do globo, superando até mesmo os preços ao consumidor. Embora a inflação dos alimentos tenha freado nas últimas semanas, os preços em todo o mundo ainda estão 25% mais altos do que antes do coronavírus no início de 2020, de acordo com o Índice de Preços de Alimentos das Nações Unidas.

Entre os fatores que fazem os preços aumentar estão as interrupções na fabricação e no transporte, decorrentes das complicações na pandemia e do impacto da guerra na Ucrânia nos preços de energia e grãos. 

A perspectiva é de que essas questões se resolvam, ou ao menos se flexibilizem, daqui pra frente. Além disso, alguns fornecedores estão dispostos a comprar de comerciantes locais. Contudo, mesmo assim,  analistas acreditam que as oscilações de preço se tornarão ainda mais frequentes.

Durante décadas, a globalização aumentou a variedade e reduziu o custo dos alimentos. Agora, um combo que inclui pandemia de Covid-19, guerra na Ucrânia e outros transtornos a nível global revelou como essas conexões e trocas comerciais, que geram uma cadeia de suprimentos tão complexa, também podem resultar no salto dos preços.

A inflação dos preços dos alimentos atingiu as máximas de várias décadas em 2022 ao redor do globo, superando até mesmo os preços ao consumidor. Embora a inflação dos alimentos tenha freado nas últimas semanas, os preços em todo o mundo ainda estão 25% mais altos do que antes do coronavírus no início de 2020, de acordo com o Índice de Preços de Alimentos das Nações Unidas.

Entre os fatores que fazem os preços aumentar estão as interrupções na fabricação e no transporte, decorrentes das complicações na pandemia e do impacto da guerra na Ucrânia nos preços de energia e grãos. 

A perspectiva é de que essas questões se resolvam, ou ao menos se flexibilizem, daqui pra frente. Além disso, alguns fornecedores estão dispostos a comprar de comerciantes locais. Contudo, mesmo assim,  analistas acreditam que as oscilações de preço se tornarão ainda mais frequentes.

Em um mundo globalizado, tanto alimentos e bebidas quanto produtos manufaturados, como carros e smartphones, tendem a ser “Frankensteins”, com produtos originados de diversos países. As pizzas americanas, por exemplo, podem ser cobertas com presunto da Espanha e molho mexicano, e o uísque escocês, às vezes, é feito com cevada ucraniana. 

No geral, quase um quarto das exportações globais de alimentos agora tem um componente estrangeiro, de acordo com dados da Organização Mundial do Comércio.

Mundo globalizado

nível de conexões no comércio de alimentos entre os países

“Quando as pessoas pensam no comércio globalizado, não pensam que um dos principais componentes dele seja a cadeia de suprimentos alimentares. “A maior complexidade dessa cadeia torna o abastecimento de alimentos extremamente vulnerável a choques de oferta”

O Rabobank prevê que os preços dos alimentos permanecerão voláteis no próximo ano, devido a problemas de abastecimento de commodities agrícolas importantes, escassez de energia e altos preços de fertilizantes. Nos EUA, os valores dos alimentos subirão de 3% a 4% no próximo ano, acima das taxas históricas, projeta o Departamento de Agricultura.

Desafios

Os países importam alimentos há milênios, com agricultores no que hoje é a Ucrânia enviando grãos para os estados gregos desde o século VI a.C.

Nos tempos modernos, o volume e a variedade de alimentos que atravessam as fronteiras aumentaram à medida que o mundo se globalizou. Os EUA importaram cerca de 18,3% em valor de seus alimentos e bebidas em 2020, ante 13,2% em 2008, segundo o Departamento de Agricultura. 

Globalmente, a parcela do consumo de trigo proveniente do exterior aumentou para 25% em 2019, de 17% em 1995, de acordo com o International Food Policy Research Institute. No mesmo ano, um país tinha 50% mais chances de formar um vínculo comercial direto de alimentos e produtos agrícolas com outro país do que em 1995, de acordo com a Organização das Nações Unidas para Agricultura e Alimentação.

Ganhos enormes na produtividade agrícola e na fabricação de alimentos, globalização e custos de transporte mais baixos serviram para expandir a variedade e manter os preços baixos para os consumidores.

Além disso, a variedade de fontes de suprimentos pode proteger contra a volatilidade dos preços. Um país que enfrenta uma quebra de safra, por exemplo, pode recorrer ao resto do mundo para comprar o que necessita

No entanto, os acontecimentos dos últimos anos expuseram os riscos de uma cadeia alimentar globalizada. Quando o Covid-19 surgiu, locais de fabricação de alimentos, fronteiras e fazendas fecharam ao redor do mundo, enquanto os custos de transporte aumentaram em meio ao congestionamento dos portos e à escassez de contêineres e transportadores.

No final do ano passado, 90% das empresas de alimentos e bebidas da Europa e dos Estados Unidos consultadas pela Deloitte, uma companhia de contabilidade, disseram ter enfrentado desafios significativos para garantir insumos e colocar produtos no mercado.

A Cuisine Solutions, fabricante de refeições embaladas a vácuo com sede na Virgínia, costumava pagar cerca de US$ 3 mil para alugar um contêiner para trazer ingredientes da Ásia para os EUA antes da pandemia. 

Com menos motoristas de caminhão do que antes do período pandêmico, o custo de levar aquele contêiner do porto de Baltimore para uma das fábricas da empresa na Pensilvânia chegou a US$ 30 mil, antes de se estabelecer em cerca de US$ 4,5 mil agora.

Enquanto isso, o gigantesco peixe pirarucu amazônico que a empresa importava há anos para as refeições da classe executiva tornou-se tão caro que a companhia interrompeu o comércio.

“Estava tudo funcionando perfeitamente e aí veio a pandemia”, disse Felipe Hasselmann, diretor executivo da Cuisine Solutions.

Mais recentemente, a invasão russa da Ucrânia em fevereiro fechou os portos que transportavam uma fatia significativa das exportações mundiais de grãos e óleo de girassol. Os preços desses produtos, assim como dos fertilizantes, dispararam.

Evangelos “Spike” Mendelsohn não percebia o quão dependente sua empresa de alimentos estava do óleo de cozinha ucraniano – até iniciar a guerra no Leste europeu

“Fiquei absolutamente surpreso”, disse Mendelsohn, co-fundador da PLNT Burger, em Washington, que produz alimentos à base de plantas e administra 12 restaurantes.

O Brexit é outro exemplo do tipo de mudança política e econômica que provavelmente introduzirá mudanças duradouras nas cadeias de abastecimento de alimentos. A votação original do Reino Unido para deixar a União Europeia levou a uma queda no valor da libra esterlina, e a saída real, em 2020, adicionou papeladas alfandegárias extras. Ambos encareceram a importação de alimentos.

Julian Abel, dono da Nowt Poncy Food

Julian Abel usa ingredientes de todo o mundo para fazer seus molhos de curry para a Nowt Poncy Food, sua empresa com sede no norte da Inglaterra. Entre os ingredientes internacionais, estão especiarias da Ásia, pimentas de Ruanda e tomates do sul da Europa. Pouco disso pode ser encontrado no Reino Unido.

O preço de um quilo desses pimentões aumentou para 36 libras esterlinas, equivalente a cerca de R$ 229, de não mais de 15 libras antes da pandemia, isto é, R$ 95,52. A papelada extra aumentou não apenas os custos, mas também os atrasos. 

Por exemplo, os números de entrada alfandegária para cada importação agora precisam ser digitados em um sistema governamental. Se apenas um dígito estiver errado, o motorista tem que esperar no porto, custando a Abel um preço que acaba sendo repassado para o consumidor, disse ele.

Alguns fabricantes de alimentos, entre eles Mendelsohn, estão trocando os ingredientes e adquirindo parte dos produtos mais perto de casa. Um charque 

de cogumelo, por exemplo, será feito de fungos provenientes da Pensilvânia, afirmou ele.

Os consumidores não vão perder o gosto pela culinária global acessível. Mas eles devem estar preparados para novos surtos de volatilidade, à medida que eventos de alto impacto prejudicam as mesmas cadeias de suprimentos que trouxeram diversidade de produtos a preços baixos.

Abel conta que, recentemente, ele recebeu uma sobretaxa de combustível de 16% de seu despachante para trazer macarrão da Itália. Uma semana depois, aumentou para 21%, devido à alta do preço do petróleo. “Tudo o que podemos fazer é entrar no modo de sobrevivência”, disse ele.

(1 Libra esterlina = R$ 6,37/ com Wall Street Journal)

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