A desvalorização do petróleo Brent na semana se aproxima de 9,5% nesta quarta-feira (04). Suficiente para afastar a cotação dos US$ 95 do fechamento da semana passada, mas não para dissipar projeções do barril a U$ 100 novamente.
Dados recentes de redução no consumo de gasolina nos EUA influenciam no humor do mercado. A demanda americana está no nível mais baixo em 22 anos, conforme nota do JP Morgan hoje.
Todavia, ainda há de se considerar que o Brent foi de US$ 70 a US$ 90 nos últimos três meses. Há um mês, o Brent fechava cotado a US$ 90 pela primeira vez desde novembro do ano passado.
Contexto global
Além da resiliência da atividade econômica dos EUA e dos cortes na oferta de petróleo pela Opep+, o fortalecimento da demanda global reforça projeções de valorização do barril. Ainda assim, é difícil afirmar para onde vão os preços, diz João Abdouni, analista da Levante Corp.
“O que podemos comentar é que o mercado consome 102 milhões de barris por dia, com tendência de crescimento entre 1% a 2% ao ano.” Adicionalmente, como os investimentos no setor foram baixos desde 2016, a relação entre oferta e demanda seguem apertadas.
O aumento da adesão do mercado às práticas ESG estagnou investimentos em novos campos de petróleo – abrindo margem para empresas aptas a atender as produtoras de petróleo existentes, como a OceanPact [OPCT3].
Enquanto a demanda cresce, a oferta se encontra restrita. Arábia Saudita e Rússia, detentores do maior excedente, reduziram as extrações este ano. Em reunião da Opep nesta quarta-feira, o governo saudita confirmou a manutenção do corte de 1 milhão de barris por dia na produção de petróleo até o fim do ano.
A manutenção do corte pela Arábia Saudita já era esperada, destaca o head de equities da Eleven, Carlos Daltozo, frisando também que os estoques de petróleo estão em nível apertado no mundo todo.
Na outra ponta, os EUA têm vendido suas reservas estratégicas SPR, que estão nas mínimas desde 1983. “É verdade também que, desde a descoberta do Shale Gas, a maior economia do mundo passou a ser autossuficiente em petróleo e pode ter reservas menores”, completa Abdouni.
A China também entra na equação. Desde o início da guerra entre Rússia e Ucrânia, o gigante asiático vem reduzindo as reservas em dólar e aumentando os estoques de petróleo. Segundo o especialista da Levante, pode haver uma queda nos preços da commodity caso a segunda maior economia do mundo reverta o movimento.
No curto prazo, um propulsor de desvalorização do petróleo “é um volume maior vendido por Arabia Saudita e Rússia ou então a redução das novas reservas chinesas”.
Quem dá mais lucro
Todas as petrolíferas listadas na B3 se beneficiam com preços mais elevados de petróleo, conquanto os custos de produção se mantenham os mesmos ou diminuam.
As chamadas junior oils tendem a sair mais na frente, por terem gastos mais enxutos, acrescenta Cesar Frade, mestre em economia e sócio da Quantzed. O cenário para o setor é positivo “principalmente se houver uma redução de juros a nível mundial”.
A Eleven vê mais potencial para a 3R Petroleum [RRRP3] e Prio [PRIO3], dados os aspectos microeconômicos das duas empresas. Ambas têm apresentado crescimento da produção nos últimos meses, por conta das aquisições realizadas.
A Levante tem a Prio como top pick do setor. João Abdouni descreve a companhia como sendo a de melhor execução no ambiente local, além de não sofrer com interferência do Estado.
A Petrobras [PETR3; PETR4], por outro lado, recebe olhares desconfiados diante de um petróleo valorizado. Caso o Brent volte a subir, ela precisaria reajustar os preços dos combustíveis – já defasados no mercado internacional, pontua Daltozo.
“A gente vai ver o quanto há de ingerência política se ela demorar muito a fazer esse repasse, um cenário que a gente vê como muito possível.” A Eleven tem recomendação neutra para a estatal.
Já a Levante não mencionou preocupações do tipo. A companhia, diz Abdouni, tem menor necessidade de acompanhar a paridade internacional quando os preços sobem muito.
“A liderança da empresa tem realizado ajustes para cima nos preços quando isso é extremamente necessário, o que não é o melhor cenário para o acionista, mas deve fazer com que a empresa siga lucrativa ao menos em 2023.”