Três décadas separam mãe e filha do mesmo presente
Teria sido um aniversário como qualquer outro, não fosse o presente inusitado: ao completar o primeiro ano, em 2020, Teresa ganhou do avô um Plano Gerador de Benefício de Vida (PGBL). A atitude foi diferente até mesmo para Hermano Machado, de 67 anos, que nunca havia presenteado ninguém dessa forma.
A jornalista Clara Araújo, mãe de Teresa, ficou surpresa com o presente, que demonstrava a preocupação do avô com o futuro da netinha. O mais curioso? A última vez que ela havia visto uma pessoa ganhando um presente parecido foi em 1989, quando ela mesma, aos 8 anos, ganhou uma caderneta de poupança da tia.
Clara relembra o momento e como a caderneta de poupança era a “coisa mais incrível do mundo” — a cor azul do documento tornava-o muito bonito. “Quando minha mãe me contou que eu tinha ganhado aquilo, me senti muito adulta e importante, principalmente por ter um dinheiro meu, sabe?”
Naquela época, prossegue, a economia do Brasil estava complexa por conta da inflação, e as idas ao supermercado com sua mãe eram difíceis, com preços sempre subindo muito, o que tornava a poupança ainda mais especial.
“Para pessoas de classe média baixa, como eu era, a caderneta era o investimento. Era quase uma ascensão social na minha pequena cabeça de oito anos”, destacou.
Pouco tempo depois, Clara decidiu que era o momento de retirar o dinheiro para comprar algo que desejava muito: o disco “Xou da Xuxa 4”. Ela tem memórias de quando foi até a Caixa Econômica, enquanto sua mãe e a atendente perguntavam se ela tinha certeza sobre o saque da quantia.
No fim das contas, essa foi a melhor decisão que a jornalista poderia ter tomado na época, pois, logo em seguida, o então Presidente Collor realizou o polêmico confisco das cadernetas de poupança por 18 meses.
“Espero que ela use o dinheiro com sabedoria tanto quanto eu comprando o meu disco da Xuxa”, brinca.
Por outro lado, afirma que “conhecendo o jeitinho da Teresa, e o quanto ela gosta de saber das próprias coisas e de se sentir pertencente, vai ficar muito feliz quando souber do presente”.
Benefícios – além dos financeiros – em presentear investimentos
Presentear um investimento ou ação pode oferecer vários benefícios significativos tanto para quem recebe como para quem dá, segundo o psicólogo financeiro Celso Sant’anna.
Para quem presenteia, ele continua, é uma oportunidade de fortalecer a mentalidade de investidor, aumentando também o compromisso em poupar para si mesmo. Já para quem recebe, pode ser o pontapé inicial de uma relação saudável com a educação financeira e com o ato de poupar para o futuro.
“Adicionalmente, ao receber o presente, a pessoa que já investe verá o presente com muitos bons olhos, enquanto para aquela que ainda não teve o primeiro contato, será a chance real de quebrar medos e preconceitos sobre o mercado financeiro”, alegou.
O psicólogo pontuou ainda que, no caso de presentear uma criança com um investimento ou ação, proporciona-se uma oportunidade única de iniciar sua educação financeira desde cedo, desenvolvendo habilidades de pensamento crítico e tomada de decisão, e preparando a criança para enfrentar desafios futuros com confiança.
“Aos pais, é uma excelente forma de ensinar aos filhos o valor do dinheiro no tempo versus o consumo imediato”, afirmou.
Quero presentear. Qual produto escolher?
De acordo com o Planejador Financeiro CFP® Leandro Vasconcellos, o plano escolhido pelo avô de Teresa é particularmente atrativo para quem está na alíquota mais alta do imposto de renda (IR) – 27,5% –, pois permite que o investidor deduza as contribuições da base de cálculo do IR, até o limite de 12% de sua renda bruta anual tributável.
Entre outros benefícios, o planejador destaca a flexibilidade de investimento, já que possui uma variedade de fundos disponíveis, permitindo a adequação ao perfil de risco do investidor; e o planejamento a longo prazo, incentivando o ato de poupar.
Porém, Vasconcellos salienta que o PGBL é menos atraente para quem declara IR simplificado e para os que buscam liquidez, além da tributação incidir sobre o total acumulado no momento do resgate, e não apenas sobre os rendimentos.
“A principal questão é garantir que a escolha do plano esteja alinhada com os objetivos financeiros de longo prazo, considerando que o PGBL tem foco na aposentadoria e possui regras específicas de tributação e resgate”, frisou.
Sendo assim, o planejador sugere Tesouro Direto, por ser seguro, de baixo custo, ter liquidez e ser acessível para pequenos investidores; Previdência Privada VGBL, para aqueles que não se beneficiam das deduções do PGBL, principalmente para declaração simplificada do IR; fundos de investimento em educação; e ações e fundos de ações, para uma estratégia de maior risco e potencial de retorno a longo prazo.
Cada opção tem suas características, vantagens, e riscos, ele acrescenta. A escolha deve levar em conta o perfil de risco, os objetivos de investimento, e a estrutura fiscal da família. “O importante é começar o quanto antes, para aproveitar o poder de composição dos rendimentos ao longo do tempo”, concluiu.