Na linha de frente da luta de superpotências entre os Estados Unidos e a China, Taiwan deu um golpe defensivo de mestre: tornou-se indispensável para ambos os lados.
Ao dominar a fabricação dos semicondutores mais avançados, a gigante Taiwan Semiconductor Manufacturing Company (TSMC) detém uma tecnologia que é crucial para dispositivos e armas digitais de ponta. A TSMC responde por mais de 90% da produção global de chips, de acordo com estimativas da indústria.
Agora, ambas as superpotências se encontram profundamente dependentes da pequena ilha no centro de uma rivalidade cada dia mais tensa.
Essas fundições são tão valiosas para a economia global que alguns se referem ao setor de chips de Taiwan como “silicon shield”, escudo de silício, em tradução livre, que impede um ataque chinês e garante o apoio americano.
Para Washington, permitir que a China, que se mostra cada vez mais poderosa, invada as fundições da TSMC em um conflito ameaçaria a liderança militar e tecnológica dos EUA. No entanto, se Pequim a invadir, não há garantia de que consiga apreender as valiosas fundições intactas. Eles poderiam facilmente se tornar uma vítima da luta, cortando o fornecimento de chips para a vasta indústria eletrônica da China. Além disso, mesmo que as fundições sobrevivessem a uma aquisição chinesa, elas provavelmente seriam cortadas de uma cadeia de suprimentos global essencial para sua produção.
Ambos os lados querem extinguir sua dependência. Washington convenceu a TSMC a abrir uma fundição no país, que fabricará semicondutores avançados, e está se preparando para gastar bilhões na reconstrução de uma indústria doméstica de fabricação de chips. Pequim também tem gastado muito, mas sua indústria de chips está por volta de uma década atrás da taiwanesa em muitas áreas importantes. Analistas dizem que essa diferença deve aumentar nos próximos anos.
Em entrevista, a ministra da Economia de Taiwan, Wang Mei-hua, contou à Reuters que a indústria está profundamente entrelaçada com o futuro da ilha. “Não se trata apenas de nossa segurança econômica”, disse. “Parece estar conectado à nossa segurança nacional também”.
Em declaração posterior, ela minimizou a teoria do escudo de silício. “Em vez de dizer que a indústria de chips é o ‘silicon shield‘ de Taiwan”, afirmou, “é mais apropriado dizer que Taiwan tem uma posição importante na cadeia de suprimentos global”.
O perigo para o país é que as fábricas da TSMC estão bem na linha de fogo. Elas se localizam ao longo da costa oeste de Taiwan “de frente” para a China, a cerca de 130 quilômetros do ponto mais próximo. A maioria está perto das chamadas praias vermelhas, consideradas por estrategistas militares como prováveis locais de pouso para uma invasão chinesa. A sede da TSMC e o aglomerado de fábricas ao redor em Hsinchu, no noroeste de Taiwan, ficam a apenas 12 quilômetros da costa.
A vulnerabilidade do setor foi exibida em julho do ano passado, quando Taiwan mobilizou milhares de tropas para combater uma simulação de ataque chinês na cidade industrial de Taichung, na costa oeste, lar de uma das fábricas, a Gigafab 15.
No exercício de contenção da invasão, paraquedistas “inimigos” caíram na base aérea de Ching Chuan Kang e capturaram a torre de controle, a apenas nove minutos de carro da Gigafab 15. Ao largo da costa, uma frota virtual de invasão chinesa seguiu em direção às praias da cidade.
Os combates envolveram Taichung quando as tropas e tanques taiwaneses contra-atacaram para recuperar o controle da base aérea. Comandantes convocaram ataques aéreos, mísseis e artilharia, usando munição real para atacar os “invasores”. A invasão foi repelida.
Debochando do exercício, reportagens da mídia estatal da China reforçaram seu potencial de destruição: ondas de ataques de mísseis destruiriam as forças da ilha antes mesmo de um desembarque chinês, disseram.
O ministério da defesa da China e o escritório de assuntos de Taiwan não responderam às perguntas sobre o ocorrido.
Questionado sobre a ameaça às fábricas, o ministério da economia de Taiwan disse que nos “últimos 50 anos, a China nunca desistiu de tentar usar a força para controlar Taiwan, mas seu objetivo não é a indústria de semicondutores”. Taiwan, acrescentou, que teve capacidade de “enfrentar e gerenciar esse risco”.
A TSMC não respondeu a perguntas específicas sobre a exposição de suas fundições. Em comunicado, enfatizou que a indústria de chips é global e conta com design, matérias-primas, equipamentos e outros serviços de diversas regiões e muitas empresas especializadas. “Portanto, em vez de uma empresa ou uma região, a colaboração global é vital para o sucesso da indústria de semicondutores”, completou a empresa.
(Com Reuters)