ESG deveria ser “TMK”: Tonga da Mironga do Kabuletê

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DISCLAIMER: o texto a seguir trata apenas da opinião do autor e não necessariamente reflete a opinião institucional da Nomos Investimentos ou do TradeNews.

ESG é modinha. Não precisa ser analista de qualquer tipo de investimentos, ou economista, ou qualquer tipo de profissional do mercado financeiro para saber que ESG está na moda. Hoje, praticamente toda empresa listada em bolsa, em seus relatórios trimestrais, reserva uma parte do documento para falar o quão ESG a empresa é ou tem se tornado.

Isso também é válido para gestoras de recursos (assets) e seus fundos que buscam serem mais ESG do que nunca. Até no nome de vários desses fundos descobre-se a famosa sigla.

Do inglês “Environment, Social and Governance”, que seria “Ambiente, Social e Governança”, ou ASG, traduzido ao pé da letra. Mas o que é de fato ESG? Em teoria, seria a tentativa de se estruturar melhor os aspectos, seja da empresa, seja do ativo em questão, sua relação interna (consigo mesmo) e externa (com o mundo), com o suposto objetivo de melhor gerir tal empresa ou ativo.

Na prática, é apenas uma palavra da moda, ou uma buzzword. Até aí, nenhum problema. O problema começa quando se faz disso algo mais do que de fato é.

Por que penso isso?

Porque tais preocupações com o meio ambiente e com as pessoas ao entorno sempre existiram (ou deveriam existir) e mais genericamente estão inclusas na boa análise de riscos que um negócio deveria ter.

É preciso que exista a onda ESG para que uma mineradora como a Vale se preocupe que barreiras não explodam e matem dezenas, se não centenas, além de destruírem o meio ambiente por onde a onda de escória e detritos vazou, como foi em Mariana e Brumadinho? Cito esse caso por ser público, ser um exemplo extremo e tocar tanto no meio ambiente quanto na sociedade que está ligada à empresa. E, indiretamente, por que não, na própria governança da empresa (ou falta dela).

Exemplos de má gestão de riscos de negócio, que não levaram em conta os riscos inerentes do negócio e seu impacto no meio ambiente e nas comunidades que podem ser afetadas por ele, existem aos montes. Então ESG, sob a ótica do ambiente e social, é pura análise de riscos bem-feita.

Sob a ótica da governança, nós brasileiros, e talvez a maioria dos países emergentes, já cansamos de ver situações, infelizmente corriqueiras, nas quais a má governança destrói empresas e ativos. Conflitos de interesse sempre existiram nos negócios, e nada além de uma forte e boa governança pode impedir que conflitos de interesse destruam valor em empresas e ativos (se é que pode em todos os casos).

Não à toa, países maduros, que tendem a ter melhores arcabouços regulatórios e melhores governanças na média, fazem seus ativos negociarem a múltiplos maiores que os emergentes em geral, onde a falta de governança reflete na penalização desses múltiplos.

O que um analista de investimentos – seja ações, crédito, fundos ou o que for – deveria fazer? Deveria, ao avaliar um ativo, avaliar tanto seu potencial de retorno (a parte boa, que todos buscam), como também os riscos envolvidos. E nessa parte de riscos, a boa análise se encarrega de aspectos internos e externos: do ambiente, das pessoas e da governança. Ou seja, do “ESG”.

O mesmo pode ser dito de qualquer gestor ou administrador de negócios ou ativos. Estes últimos devem buscar gerar o maior retorno, dentro da boa convivência com o mundo que cerca tal empreendimento. Se não o fizer, certamente o negócio impactará de forma negativa algum desses elementos e isso se voltará como impacto para o negócio.

O resultado é destruição de valor, de reputação, e em casos extremos, como o da Vale, do meio ambiente e até de vidas. Por esse motivo a análise de riscos é fundamental. Sempre foi e sempre será.

Mas então, por que acho que ESG é apenas uma palavra da moda?

Em primeiro lugar, ESG é uma filosofia que não tem parâmetros claros. Toda confusão deveria ser exposta como tal. Confusões servem para gerar polêmicas e likes, vender artigos e até criar empreendimentos econômicos.

Mas, tirando os que se beneficiam (criador de conteúdo, jornalista, blogueiro e empresário, respectivamente), a sociedade não melhora com tais coisas e, às vezes, piora. Como toda moda passageira, confusões tem aspectos não bem definidos, detalhes não acordados e não existem regras ou parâmetros com os quais se pode julgar se trata-se de algo útil.

Uma palavra curta ou sigla tenta popularizar o movimento, mesmo que não se saiba ou se entenda o que se divulga com tal palavra ou ideia. ESG é exatamente assim. Existem inúmeras formas de se tentar avaliar o quanto uma empresa ou ativo é ESG. Existem inúmeros institutos que tentam definir parâmetros. Mas a realidade é que não existem até hoje esses tais padrões largamente aceitos. É tudo muito volátil e confuso.

Quem se beneficia, no caso, são as agências “certificadoras” de que um empreendimento é ESG (e os donos delas).

Compare isso com a seriedade com que se aborda a questão de governança corporativa. Existem as leis que regem o que são e quais os tipos de empresa (hoje, localizadas no Código Civil), leis das S.A.s, as normativas da CVM, do Banco Central e demais órgãos que fiscalizam os mercados, os parâmetros exigidos de empresas para que a boa governança aconteça e proteja-se investidores de maus gestores e administradores.

São parâmetros bem definidos, leis e normativas claras, na maioria dos casos, sobre o que se espera.

Em segundo lugar, olhemos para os resultados do movimento ESG. Ele não mudou em praticamente nada a matriz energética global.

Olhando a matriz energética mundial, baseado no OurWorldInData.org, de 1970 a 2022, as energias não poluentes passaram de 20% da matriz para, pasme, 23% da matriz. Com toda a narrativa “verde” e ESG das últimas décadas e todos os investimentos que foram retirados em Capex (capital produtivo) na cadeia do petróleo e carvão. Todo esse esforço melhorou a matriz global de forma ridiculamente marginal.

Ou seja, não “melhoraram o mundo” e, potencialmente, nossos filhos viverão em um mundo muito mais inflacionário pela ineficiência de investimentos em Capex.

[Fonte: Our World In Data]
No melhor dos casos, ESG é propaganda. Um empresa bem gerida, que avalia cada passo tomado em relação ao retorno e riscos que comtempla, é uma empresa que gera valor para seus acionistas, para aqueles que trabalham nela, para seus fornecedores, clientes, enfim, os ditos stakeholders. Nesse caso, uma empresa bem gerida é uma empresa “ESG” e merece se destacar pelos meios de propaganda que puder. Até mesmo invocando a modinha de ser “ESG”.

No caso mediano, ESG é greenwashing. Para quem nunca ouviu o termo, greenwashing significa “maquiagem verde” ou “lavagem verde” na tradução literal. É a empresa que não tem práticas que priorizem o meio ambiente, a sociedade e a boa governança, mas tenta se passar por uma que tem tais atributos.

Esse é talvez, o caso mais comum. Empresas se utilizarem de um rótulo vago, mal definido, para tentar se destacar. É o pote de ouro no fim do arco íris. Ou a propaganda malfeita, mentirosa, enganosa, que também abunda por aí. O triste é que esse não é o pior caso.

No pior dos casos, ESG é nocivo e destrói valor para aquele que mais importa: o sócio ou cotista da empresa ou fundo. Hoje, nos EUA, a Meca do capitalismo global e dona do mercado de capitais mais evoluído do mundo, inúmeros litígios têm surgido entre cotistas, sócios de empresas e fundos que questionam na justiça os gestores e administradores de empresas e fundos “verdes” cujos resultados medianos ou ruins foram influenciados por medidas de cunho altamente duvidoso no que se refere a gerar retorno para esses acionistas.

Pensou-se em todos – no ambiente, nas comunidades atendidas e servidas, na governança – menos no acionista. É uma inversão total e completa do motivo existencial de uma empresa ou ativo.

Reflexão final

Quantos, ao buscar um fundo ou empresa, ficaram impressionado pelas práticas ou pelo rótulo “ESG” e, por consequência, acabaram alocando capital? E quantos desses casos eram puro “greenwashing”? Quantos outros acabaram indo além e destruíram valor para os cotistas e acionistas em projetos que não tinham um retorno adequado em nome de serem “verdes”? A questão é séria.

Tendo exposto meu pensamento sobre o movimento ESG, gostaria de finalizar esse artigo sugerindo, em tom mais leve, que ESG seja trocado por TMK. Parafraseando um grande artista brasileiro, Toquinho, ESG deveria trocar sua sigla para TMK – “Tonga da Mironga do Kabuletê”.

Ninguém sabe o que é, nem para que serve, quando você esmiuça a tal filosofia. Assim é o ESG na prática. E em nome dele, muito greenwashing e muitas práticas no mínimo questionáveis foram feitas.

Abaixo às palavras da moda que não geram resultados nem melhoram a vida das pessoas. Viva a boa gestão, sem TMK!

Bons investimentos!

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