ETFs complementam ou substituem outros ativos?

por Renato Nobile 

 

Hoje vemos cada vez mais investidores utilizando ETFs no Brasil, mas o que passa despercebido boa parte do tempo é que ETFs têm revolucionado a forma como portfólios são construídos, especialmente para gestores e alocadores profissionais, pois eles buscam eficiência operacional e resultados consistentes.

Um dos principais pontos que destacam os ETFs como ferramentas indispensáveis é a capacidade de fornecer exposição ampla e instantânea a setores, geografias e estratégias específicas, com custos operacionais significativamente menores do que a construção manual de um portfólio semelhante. Em mercados maduros como os Estados Unidos, cerca de 80% dos gestores ativos de renda variável não superam os índices de mercado no longo prazo, principalmente devido a custos elevados e a ineficiências na alocação. ETFs, por outro lado, replicam essa exposição com um TER (Total Expense Ratio) muito inferior, o que reduz o impacto de custos na performance. Além disso, os ETFs eliminam a necessidade de realizar análises individuais para cada ativo, permitindo ao gestor focar em decisões de alocação estratégica e de diversificação de risco.

Outro aspecto relevante é a capacidade dos ETFs de melhorar a liquidez das carteiras. Enquanto muitos ativos individuais, principalmente ações de menor capitalização, apresentam baixa liquidez e custos de transação mais elevados, os ETFs oferecem liquidez intradiária. Isso é crucial para alocadores que precisam ajustar exposições rapidamente sem incorrer em custos significativos. Indicadores como o bid-ask spread médio dos principais ETFs demonstram sua eficiência: para ETFs globais amplamente negociados, essa despesa costuma ser inferior a 0,05%, permitindo ajustes com impacto mínimo na rentabilidade.

Com todos esses fatores, os ETFs têm ganhado espaço por sua eficiência e simplicidade, mas ainda há espaço para uma discussão relevante sobre o papel dos investidores que preferem alocar diretamente em ativos de sua escolha. Para esse perfil, o ato de selecionar ações, títulos ou outros instrumentos financeiros vai além de buscar retorno; ele muitas vezes reflete um interesse pessoal.

Nesse contexto, uma abordagem amplamente discutida é o conceito de “pimenta do portfólio” (hot sauce). A ideia é que esses investidores se permitam destinar uma parcela reduzida, como 15% de seus recursos, para essas alocações mais ativas e pessoais, enquanto deixam os outros 85% em uma alocação mais tradicional e bem estruturada via ETFs. Essa divisão permite que o investidor satisfaça sua vontade de pesquisar e investir em ativos específicos, sem comprometer a eficiência e a diversificação geral da carteira. A chave está em entender que o objetivo dessa alocação ativa não é necessariamente superar os benchmarks, mas sim criar um espaço para experimentação e engajamento sem prejudicar a saúde financeira do portfólio como um todo.

Portanto, incluir ETFs em carteiras não é apenas uma tendência; tem sido o próximo passo na construção de portfólios. Eles simplificam a gestão, aumentam a eficiência de custos, otimizam a relação risco-retorno e oferecem liquidez e flexibilidade que ativos diretos muitas vezes não conseguem igualar, portanto sua popularidade continuará a crescer. Mesmo assim, não precisam ser, necessariamente, uma substituição universal; sua utilidade depende do perfil e dos objetivos de cada investidor.

O texto trata apenas da opinião do autor e não necessariamente reflete a opinião institucional da Nomos Investimentos ou do TradeNews.

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