Impasse sobre venda não é o único problema: por que Fitch e UBS revisaram Braskem [BRKM5]?

A Braskem [BRKM5] fechou com 0,31% de queda nesta terça-feira (29), cotada a R$ 22,52. As ações, no entanto, chegaram a cair mais de 2% ao longo da sessão, após o UBS rebaixar a recomendação da companhia de neutra para venda. 

O banco suíço também fixou preço-alvo de R$ 20 para BRKM5, menos de uma semana após a Fitch revisar a perspectiva global da petroquímica para negativa, ao mesmo tempo em que reforçou os ratings em BBB-‘/’AAA(bra). 

A mudança de perspectiva, publicada pela Fitch na última quarta-feira (23), reflete principalmente a elevada vulnerabilidade da Braskem à prolongada recessão do setor petroquímico. Enquanto isso, a perspectiva em escala local permanece em estável. 

As revisões negativas de grandes players para a Braskem resultam de três fatores. 

A começar pelo ciclo das resinas plásticas. Em meio à pressão inflacionária global e à consequente desaceleração do crescimento econômico dos países, o consumo de plástico diminui, colaborando para a redução de margens da Braskem. 

No momento, com novas entradas de capacidade predominantemente na Asia e importações destes produtos com um preços baixos para as Américas, as margens da companhia seguem muito pressionadas, pondera João Abdouni, analista da Levante. 

Adicionalmente, o imbróglio quanto ao assoreamento na planta da petroquímica em Alagoas prejudica a empresa, segundo o especialista em mercado de capitais Dierson Richetti. Houve avanços nas tratativas, mas “essa conta ainda não tem fim, por mais que a Braskem já tenha gastado um bom recurso nessa questão”. 

Pesa também na percepção do mercado a questão da venda da Braskem, seja pelo lado da Novonor – antiga Odebrecht –, seja pelo da Petrobras. Já houve algumas propostas na mesa, mas nenhuma foi aceita, recorda Richetti. 

“O governo deseja ficar, uma outra parte tenta vender, então esta instabilidade na própria companhia é ruim.”

João Abdouni frisa que a alavancagem da Braskem está muito elevada, em cerca de 19 vezes a relação dívida líquida/Ebitda, considerando os últimos balanços trimestrais. “Claro que, quando a economia global retornar a um ponto normal, este indicador tende a melhorar, em conjunto com o lucro operacional medido pelo Ebitda.” 

Hora de vender as BRKM5 em carteira?

Para quem já tem posição em BRKM5, Dierson Richetti recomenda avaliar o preço ao qual se adquiriu as ações, posto que, mesmo em viés de baixa, a empresa tem distribuído proventos aos acionistas. 

Já para quem está de fora, o analista comenta que vê o patamar dos R$ 22 como atrativo para compras visando o longo prazo. 

João Abdouni também vê no atual preço um bom ponto de entrada – “claro, para o investidor que tenha o perfil apropriado”. 

As ações da Braskem são uma tese para quem acredita nos ciclos econômicos, explica, lembrando que a Braskem é uma gigante do setor petroquímico, com operações no Brasil, onde é líder com grande vantagem. 

“A companhia também tem operações bastante eficientes no México e nos Estados Unidos, onde são muito eficientes”, acrescenta. 

Descritos os diferenciais da companhia, o analista destaca que investimentos em ações atreladas a commodities às vezes passam por este tipo de apuros, “quando entram novas capacidades e a economia global se retrai, mas então as coisas lentamente começam a melhorar”.

Por conseguinte, a geração de caixa operacional da empresa tende a aumentar. Assim, os resultados melhoram e as ações começam a performar melhor – o que pode acontecer até mesmo antes. “Quando o mercado percebe que o ciclo está virando, as ações têm uma outperformance ainda com os resultados aparentemente ruins”, explica Abdouni.

Ou seja, para o investidor que tem a convicção de que o ciclo deve virar em algum momento, é coerente uma posição em BRKM5. Entretanto, por conta do elevado endividamento e alta volatilidade, Abdouni recomenda que a exposição nas ações de BRKM5 seja pequena, “o que traz um controle de risco adequado para o atual momento”.

 

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