O IPCA de abril apresentou variação de 0,61% em abril, desacelerando 0,1 p.p. em relação ao resultado de março. Na comparação anual, o indicador apresentou alta de 4,18%, também abaixo dos 4,65% anteriores. Ambos os resultados ficaram acima das expectativas do mercado, mas próximos do que foi apresentado no IPCA-15. Os três grupos de maior impacto no mês foram Saúde e cuidados pessoais (1,49% e 0,19 p.p.), Alimentos e bebidas (0,71% e 0,15 p.p.) e Transportes (0,56% e 0,12 p.p.). Juntos, representaram 75% do resultado final.
Em Saúde e cuidados pessoais, a variação pode ser atribuída em grande parte aos produtos farmacêuticos (3,55%), após a autorização para promover reajuste de até 5,6% nos preços dos medicamentos. O plano de saúde (1,2%) continuou incorporando as frações mensais do reajuste de 2023. Já no grupo Alimentação e bebidas, que foi a surpresa negativa do resultado, a alta foi influenciada pela alimentação no domicílio (-0,14% para 0,73% em abril).
O tomate (10,64%) e o leite longa vida (4,96%) foram as principais causas da alta. Ao mesmo tempo foram observadas quedas na cebola (-7,01%) e no óleo de soja (-4,44%), este último um sinal positivo que reflete a queda do preço internacional da soja em meio à demanda global em desaceleração e a China mostrando lentidão em sua recuperação.
A alimentação fora do domicílio registrou alta de 0,66%, acelerando dos 0,6% de março. Nos Transportes houve bastante desaceleração (2,11% para 0,56% em abril), que pode ser atribuída à redução dos preços dos combustíveis (-0,44%), que haviam subido 7,01% em março em função da reoneração de impostos. Óleo diesel (-2,25%), gás veicular (-0,83%) e gasolina (-0,52%) recuaram em abril, enquanto o etanol subiu 0,92%. Outro fator que impulsionou o grupo foram as passagens aéreas, que subiram 11,97% após cair 5,32% em março.
O indicador também ficou bem abaixo do número registrado no IPCA-15 (1,44%), uma surpresa positiva. O resultado veio bem em linha com o que estávamos esperando, que era uma variação aproximada com a registrada pelo IPCA-15, mas a divergência em relação às perspectivas do mercado deve ter impacto na curva de juros.
Vemos o principal risco dos próximos meses nessa variação surpresa dos alimentos, mas enquanto a demanda dos países desenvolvidos seguir em contração e a China permanecer lenta em sua recuperação, entendemos que as soft commodities devem continuar sua trajetória de queda.
No mais, caso a redução de R$ 0,30 no litro da gasolina seja confirmada na semana que vem, o IPCA de maio já ganha um fator de desaceleração importante, visto que a gasolina é o item de maior peso no indicador.
Por último, os reajustes dos preços de medicamentos devem exercer menos pressão à medida que se dissipam. Com a economia em desaceleração, vemos espaço para resultados mais moderados a partir de maio, consolidando o cenário de inflação mais lenta e abrindo espaço para os cortes de juros no segundo semestre.