O IPP brasileiro registrou queda de 1,29% em dezembro, ante novembro, acumulando alta de 3,13% no ano, terceiro menor valor desde o início da série histórica, em 2014.
Esse foi o quinto mês consecutivo de deflação e a maior redução dos últimos 3 meses. Contrastando de forma significante com o IPCA, que voltou a subir nos últimos 3 meses do ano e em dezembro registrou a maior alta mensal em 6 meses, indicando que não há repasse dos produtores aos consumidores em um movimento de reconstrução das margens.
Em dezembro, os preços de 15 das 24 atividades apresentaram variações negativas ante o mês anterior, com destaque para as variações de indústrias extrativas (-7,21%); refino de petróleo e biocombustíveis (-5,46%); madeira (-2,96%); e outros produtos químicos (-2,79%).
As maiores contribuições com o resultado vieram de refino de petróleo e biocombustíveis (-0,68 p.p.), indústrias extrativas (-0,33 p.p. de influência), outros produtos químicos (-0,25 p.p.) e metalurgia (-0,08 p.p.).
Entre as atividades que fecharam o ano com as maiores variações, destacam-se: papel e celulose (19,45%), impressão (19,17%), perfumaria, sabões e produtos de limpeza (16,99%) e fabricação de máquinas e equipamentos (15,71%). Já as principais influências foram refino de petróleo e biocombustíveis (1,23 p.p.), outros produtos químicos (-1,21 p.p.), alimentos (1,20 p.p.) e metalurgia (-0,87 p.p.).
As indústrias extrativas foram impactadas no mês pela redução dos preços do minério de ferro e do petróleo bruto, principalmente, enquanto o cobre e o gás natural compensaram parcialmente as variações negativas.
Destacamos que a variação negativa do petróleo, em linha com o mercado internacional, é positiva para as cadeias produtivas, visto que gera uma redução dos preços ao longo de todo o processo produtivo, mas que não está chegando aos consumidores.
Em linha com o petróleo bruto das indústrias extrativas, o refino de petróleo e biocombustíveis voltou ao campo negativo em dezembro computando a terceira queda mais expressiva do ano. Os quatro itens que mais impactaram o resultado somaram -5,13 p.p. e são todos derivados do petróleo bruto.
Os outros produtos químicos também foram influenciados pela queda do petróleo no período, mas também pela redução dos preços dos fertilizantes ao longo do segundo semestre após pressões significantes nos primeiros seis meses do ano causadas pela guerra na Ucrânia.
Já a metalurgia recuou refletindo a demanda menor do setor industrial em meio à desaceleração da economia brasileira nos últimos meses de 2022 e a queda de alguns metais nas bolsas internacionais, como o alumínio.
Por último, os alimentos voltaram a subir após quatro meses puxados pelos resíduos da extração de soja e pelo açúcar cristal, que foram parcialmente compensados pelas carnes e miudezas de aves congeladas e pelo leite esterilizado / UHT / Longa Vida, que continua seguindo a tendência dos meses anteriores onde houve aumento da produção.
Apesar da nova deflação nos preços do setor industrial, as pressões inflacionárias sobre os consumidores prevaleceram no final do ano passado e devem ganhar mais ritmo no começo de 2023 com o fim ou redução de alguns auxílios fiscais e a retomada de impostos.
Ao mesmo tempo, a economia brasileira também está em desaceleração e deve começar a registrar aumento do desemprego em breve já que as empresas buscaram reduzir seus custos nos últimos meses de 2022 à medida em que a demanda perdia ritmo e as incertezas políticas e fiscais cresciam após as eleições, fatores que devem contribuir para o crescimento limitado previsto para esse ano.
Por fim, esperamos um aumento da inflação aos produtores nos próximos meses com o retorno do ICMS e aumento da demanda chinesa, bem como a recuperação de algumas commodities nos mercados internacionais, nomeadamente o minério de ferro, o cobre e o alumínio, todos relacionados à reabertura da China, que também pode puxar o petróleo conforme a demanda energética do país crescer ao longo dos próximos meses.