No início do ano, a China estabeleceu uma meta oficial de crescimento econômico de cerca de 5% para 2023. Considerando a pouca expansão da economia do país devido às consequências da política Covid-zero e que faltam quatro meses para o fim do ano, é pouco provável que a taxa seja atingida.
A recuperação econômica que aconteceu ficou limitada a alguns setores, como alimentação e artigos de luxo. Porém, mesmo esses líderes de mercado pararam de elevar suas perspectivas para a China, cautelosos quanto aos dados econômicos fracos. Empresas de bens de consumo adotam uma postura mais moderada.
Além dos investidores, a própria população chinesa está preocupada com os rumos do país. Segundo o especialista em China João Ascoli, a grande autonomia obtida pelo governo central do país gerou muitas dívidas improdutivas.
A estrutura chinesa é um governo centralizado que tem a mão forte, mas foi a primeira vez que muitos sentiram essa mão de forma negativa. Mesmo que tenha funcionado bem por um momento, criando infraestrutura e tornando melhor a qualidade de vida dos chineses, chegou um momento que o modelo deixou de funcionar.
“Antigamente, o governo vinha e tinha um poder de transmissão na economia; hoje não tem mais esse espaço”, afirmou em live com Max Bohm na semana passada, transmitida no Instagram.
Por enquanto, as commodities resistem melhor que outros ativos. O consumo de combustíveis, por exemplo, teve aumento.
Entretanto, mesmo que o país não alcance o PIB, Ascoli afirma que o país ainda pode crescer entre 3% e 4%. “Nós vamos ter que nos acostumar a ver a China crescendo menos, pois chega um momento que não tem mais espaço pra crescer”, explicou.
O governo deseja mudar o foco de uma economia liderada pelo consumo para os investimentos. A mudança seria útil para a demanda por combustíveis e alimentos, mas os metais puxados pelo setor de construção ficariam de fora.
O setor de construção representa cerca de 40% da demanda por aço e minério de ferro da China. As apostas nos estímulos ajudaram a manter os preços acima dos US$ 100 por tonelada.
Para Ascoli, não existe upside com o minério a curto prazo, pois seria necessário aumentar a demanda no próprio país. Mas, mesmo que a margem esteja apertada, não necessariamente irá acontecer um desastre.
“A gente só vê notícia ruim, mas a demanda continua lá. O minério tem espaço pra cair? Tem, mas teria que mudar muita coisa daqui para que o valor baixasse.”
No momento, é importante acompanhar a demanda do produto final na China, pois esse é um fator que pode gerar demanda, principalmente do aço, que é destinado à construção.
Como a China afetará o investidor brasileiro?
Vale [VALE3], CSN [CSNA3], Usiminas [USIM5] e Gerdau [GGBR4] possuem relação com o mercado chinês e podem ser as empresas mais impactadas pela desaceleração, já que 30% das exportações delas são destinadas à segunda maior economia do mundo.
No momento, as empresas se mantêm firmes apesar do mercado chinês. A Vale, por exemplo, registrou um avanço em suas ações nesta sexta-feira (25), agora a R$ 62,40. O movimento acontece antes da temporada de pico da atividade de construção na China, que acontecerá no próximo mês.
Max Bohm, Estrategista de Ações da Nomos, declara que o importante é não focar todo o dinheiro em um único papel, além de sempre pensar a longo prazo quando se trata deste tipo de investimento.
“O que eu sempre recomendo é: tenha apenas 10% de Vale na sua carteira”, concluiu.