O futuro da geração de valor da Apple: além do iPhone

por Renato Nobile

 

Nos últimos anos, a Apple tem enfrentado um desafio familiar: como continuar impulsionando o crescimento em um mercado saturado de smartphones. As melhorias incrementais em câmeras e processadores não são mais suficientes para estimular os consumidores a atualizar seus dispositivos anualmente. Com o lançamento do iPhone 15 em 2023, ficou evidente que avanços significativos em hardware estão se tornando cada vez mais difíceis de alcançar. Embora o iPhone 16 tenha vindo com funções ligadas à IA generativa e melhorias no sistema operacional que já existem em concorrentes, não parece haver um “superciclo” iminente que levará todos a atualizar seus dispositivos.

Apesar disso, o valuation da Apple permanece em níveis historicamente altos. A empresa já atingiu uma capitalização de mercado de mais de US$ 3,4 trilhões, um patamar difícil de justificar apenas com base nas vendas de hardware. Então, de onde virá a real geração de valor da Apple nos próximos anos? A resposta parece estar na diversificação de seus serviços e na expansão para novos setores, como serviços financeiros e saúde.

O segmento de serviços da Apple tem se tornado uma peça-chave em sua estratégia de crescimento. Em seu último relatório financeiro trimestral, a empresa reportou uma receita de US$ 24,2 bilhões somente em serviços, representando cerca de 28% da receita total. Esse segmento inclui a App Store, Apple Music, Apple TV+, iCloud, Apple Arcade e outros.

A Apple tem investido fortemente em conteúdo original para o Apple TV+, competindo diretamente com gigantes como Netflix e Amazon Prime Video. Além disso, o Apple Music continua a crescer, oferecendo não apenas streaming de música, mas também rádio ao vivo e conteúdo exclusivo. A empresa também lançou o Apple Fitness+, um serviço de fitness que se integra perfeitamente com o Apple Watch, reforçando o ecossistema da marca.

A entrada da Apple no setor financeiro tem sido estratégica e gradual, com etapas muito bem construídas ao longo de uma década. Com o Apple Pay, lançado em 2014, a empresa simplificou os pagamentos móveis, e hoje o serviço é aceito em mais de 85% dos estabelecimentos (eu mesmo só uso meu celular e relógio para realizar pagamentos). Em 2019, a Apple lançou o Apple Card em parceria com o Goldman Sachs, oferecendo um cartão de crédito integrado ao iPhone com cashback e sem taxas anuais.

Em 2023, a Apple anunciou o Apple Pay Later, um serviço de “compre agora, pague depois” que permite aos usuários dividir compras em parcelas sem juros. Esses movimentos indicam uma clara intenção de expandir sua presença no setor financeiro, potencialmente disruptando bancos tradicionais e empresas de fintech.

A saúde é outro setor onde a Apple vê potencial significativo. O Apple Watch evoluiu de um acessório de moda para um dispositivo médico capaz de realizar eletrocardiogramas, monitorar níveis de oxigênio no sangue e detectar quedas. O fone de ouvido Apple AirPods Pro 2 ganhou uma função de aparelho auditivo aprovada pela FDA, auxiliando pessoas com perda auditiva leve e moderada. A empresa tem colaborado com instituições médicas para pesquisas em áreas como doenças cardíacas e diabetes.

O aplicativo Saúde permite que usuários monitorem diversos aspectos de sua saúde, e o envio de dados facilita estudos médicos em larga escala. Com a crescente demanda por soluções de saúde digitais, a Apple está bem posicionada para capitalizar essa oportunidade.

Além dos setores mencionados, a Apple está investindo em áreas como realidade virtual e aumentada (AR/VR) e inteligência artificial (IA). Embora os detalhes sejam escassos, a empresa tem adquirido startups e contratado especialistas nesses campos, indicando planos futuros para integrar essas tecnologias em seus produtos e serviços.

A preocupação com privacidade e segurança também é um diferencial competitivo. A Apple tem se posicionado como uma empresa que protege os dados dos usuários, o que pode ser um fator decisivo para consumidores cada vez mais preocupados com privacidade.

Por fim, enquanto o mercado de smartphones atinge a maturidade, a Apple está inteligentemente diversificando suas fontes de receita. O crescimento no segmento de serviços, a expansão para serviços financeiros e o foco em saúde e bem-estar são indicadores de onde a empresa vê seu futuro. Com uma base instalada de mais de 2,2 bilhão de dispositivos ativos, a Apple tem uma plataforma robusta para oferecer novos serviços e entrar em novos mercados.

Embora o valuation atual possa parecer difícil de justificar apenas com base nas vendas de hardware, a estratégia de longo prazo da Apple sugere múltiplas vias de crescimento e geração de valor. Investidores e consumidores devem ficar atentos a como esses segmentos evoluem, pois eles serão fundamentais para o sucesso contínuo da empresa nos próximos anos.

DISCLAIMER: o texto a seguir trata apenas da opinião do autor e não necessariamente reflete a opinião institucional da Nomos Investimentos ou do TradeNews.

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