O que as gigantes de Wall Street têm e as brasileiras não

Grande demais para quebrar. Era essa a fama de empresas como o banco Lehman Brothers, cuja falência foi o marco inicial para a crise do subprime.

Em termos de resiliência, tanto Nova York quanto a B3 têm seus cachorros grandes. O que varia, como era de se esperar, são as proporções. Há empresas brasileiras consideradas grandes demais para quebrar justamente por fornecerem ao mundo matérias-primas até então insubstituíveis, mas nada comparado à dependência global de certas companhias americanas. 

Assim, a diferença crucial entre uma chamada “too big to fail” do Brasil e uma dos EUA começa justamente pelo nome. A expressão “too big” – “grande demais”, em inglês – tem sentido mais profundo entre as americanas. As gigantes de lá de fato são grandes demais no que se refere à dependência do mundo por elas, apontou Bruno Corano, economista e investidor da Corano Capital. 

Dependência, ao invés do valor de mercado, é a métrica mais apurada para identificar uma empresa grande demais para quebrar. Renato Nobile, analista e gestor da Buena Vista Capital, cita o exemplo da crise de 2008. O evento mostrou como Bank of America, Citibank, Goldman Sachs, Wells Fargo e outros bancos têm realmente potencial para derrubar o sistema financeiro global. 

A crise do subprime “destacou o risco sistêmico dessas instituições, levando à implementação de regulamentações mais rígidas, como a Lei Dodd-Frank, para mitigar esses riscos”, comentou André Vasconcellos, vice-presidente do conselho do Instituto Brasileiro de Relações com Investidores (IBRI). 

O fator dependência, acrescenta Renato, engloba não só o serviço prestado, mas também o potencial da instituição enquanto empregadora. O especialista menciona o Walmart como too big to fail devido ao papel no mercado de trabalho americano. A rede de supermercados é a maior empregadora dos EUA.

Adicionalmente, empresas de tecnologia já podem ser consideradas grandes demais para quebrar, devido à posição de mercado, capacidade de inovação e diversificação geográfica, prosseguiu o especialista. 

Companhias como Microsoft, Nvidia, Google, Apple, além de serem gigantescas em número de empregados, têm atuação global e tecnologias utilizadas pelas principais empresas e pessoas no mundo, explica. Ou seja, a quebra de qualquer uma delas traria sérios prejuízos mundo afora. 

Realmente, dada a revolução tecnológica trazida pelos computadores e smartphones, é difícil imaginar a vida comum sem Windows ou Google. A ver se um dia o mundo dirá o mesmo do ChatGPT, a ponto de tornar a OpenAI uma “too big to fail”. 

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