O Barclays não está pessimista. Como boa parte dos agentes financeiros globais, o banco multinacional britânico subscreve o cenário-base de continuidade do crescimento econômico mundial para 2024 – com algumas regiões apenas evitando por pouco uma recessão, vale notar.
Ainda assim, um ciclo sem precedentes de aumento dos juros, um cenário geopolítico tenso e efeitos defasados da pandemia tornam a previsão para os próximos onze meses e meio “particularmente desafiadora”. Foi a partir de tal percepção que os analistas do Barclays compilaram os principais potenciais desastres que ficam à espreita neste ano.
Outro Silicon Valley Bank?
O estresse bancário de março de 2023 destacou que o rápido aumento das taxas de juros nas economias desenvolvidas dificilmente passaria batido. Todavia, os eventos têm sido encorajadores até agora, tanto para os consumidores quanto para as empresas – como deixam claro os dados econômicos dos EUA.
No entanto, diz o Barclays, isso pode estar próximo do fim. “Os consumidores estão ficando sem poupanças excessivas, especialmente aqueles de renda mais baixa.” A inadimplência em cartões de crédito nos EUA já começou a aumentar.
Já as empresas com necessidades iminentes de refinanciamento podem ter dificuldade em encontrar o dinheiro necessário para se manterem em operação. Portanto, a piora na qualidade de crédito é um grande risco para 2024.
EUA caloteiro?
As finanças de empresas e consumidores não são as únicas em jogo para os próximos meses. Governos também estão sendo observados de perto pelos mercados financeiros após anos de generosidade fiscal.
A relação dívida-PIB global atualmente está em 99%, um salto acentuado em relação aos 91% registrados antes da pandemia em 2020. “Com o aumento do custo de empréstimos, alguns países podem encontrar dificuldades, se não impossibilidade, em rolar sua dívida.”
A ironia é que agora não são apenas os suspeitos usuais, como Grécia ou Itália, que chamam atenção. A principal preocupação hoje são os EUA, que hoje tem um governo “extremamente polarizado e dividido”, nas palavras do Barclays.
Em agosto passado, a Fitch rebaixou a classificação de crédito dos EUA semanas após o governo do país chegar à beira de um calote histórico. A agência de rating alertou sobre o crescente ônus da dívida e o que chamou de disfunção política em Washington.
Guerra à vista?
A guerra na Ucrânia, deflagrada em 2022, foi a pedra no caminho das previsões de inflação “transitória” emitidas pelos principais bancos centrais do mundo até então. O conflito no Leste Europeu não é a única fonte de aumento de preços, mas contribui substancialmente.
A dinâmica é um lembrete de que choques podem facilmente desarranjar qualquer previsão.
Há significativas tensões geopolíticas em curso, no Oriente Médio e em torno de Taiwan, que acabou de eleger um novo presidente. Caso haja uma escalada para um conflito de repercussão global, “todas as apostas podem estar perdidas”.
Na dúvida, hedge
Os riscos descritos acima podem ser antecipados pelos investidores, tranquiliza o Barclays. No entanto, o perigo real pode vir justamente do que não se pode prever. Tanto a pandemia de Covid-19 quanto a guerra na Ucrânia estavam fora dos radares da maioria dos investidores mesmo uma semana antes de começarem, lembram os analistas do banco.
Assim, “não há motivo para acreditar que 2024 não terá seus próprios choques guardados para nós”. A lista de antecipações do inantecipável inclui um grande terremoto nos EUA, uma venda de títulos gerada por IA ou uma interrupção cibernética global.
O único remédio para proteger o investidor de tais riscos é uma diversificação adequada e um forte compromisso com os objetivos de investimento. “Como aprendemos com esses dois episódios de incerteza e estresse no mercado [a pandemia e a guerra na Ucrânia], a recuperação pode ser tão imprevisível quanto o choque inicial.”
Uma nova esperança
Trevas e desespero não abarcam todas as possibilidades para 2024. Há também chances de surpresas positivas, como um arrefecimento mais rápido que o previsto da inflação ou algum salto tecnológico fora da curva.
Embora seja difícil ficar animado com a perspectiva macroeconômica para 2024, é importante não subestimar a capacidade do setor privado de se ajustar e navegar em tempos incertos, lembra o relatório do Barclays. Os balanços corporativos nas economias desenvolvidas estão saudáveis e a inovação tecnológica segue firme.
“É por isso que, apesar de todos os riscos discutidos, permanecer investido nos mercados financeiros provavelmente será a estratégia mais apropriada para quem tem um horizonte de tempo mais longo do que alguns meses.”
Publicidade
Quer investir no exterior? Conte com a Nomos! Há um time de assessores especializados prontos para atender você e ajudar a encontrar os melhores ativos e estratégias para seu perfil. Conheça mais clicando aqui.