O PIB do Brasil retraiu 0,2% no 4T22, em linha com as expectativas. Na comparação com o 4T21, o PIB cresceu 1,9% e ficou abaixo das projeções de 2,2%. Em 2022, o indicador cresceu 2,9% e fechou o ano em R$ 9,9 trilhões.
Em relação ao 3T22, a Agropecuária (0,3%) e os Serviços (0,2%) cresceram, enquanto a Indústria (-0,2%) recuou. Já em 2022, houve crescimentos nos Serviços (4,2%) e na Indústria (1,6%) e queda na Agropecuária (-1,7%).
No ano, todas as atividades dos Serviços cresceram, com destaque para as Outras atividades de serviços (11,1%), que contabiliza grande parte das atividades relacionadas ao turismo, Transporte, armazenagem e correio (8,4%) e Informação e comunicação (5,4%). Na Indústria a maior contribuição veio de Eletricidade e gás, água, esgoto, atividades de resíduos (10,1%), que contou com bandeiras tarifárias favoráveis ao longo de 2022.
Por outro lado, as Indústrias de Transformação (-0,3%) recuaram muito em função da metalurgia e metais ferrosos, e as Indústrias Extrativas (-1,7%) caíram devido à extração menor de minério de ferro, ambos refletindo o impacto das restrições chinesas. Em último lugar, a contração da Agropecuária foi causada pela queda da produção e perda de produtividade da atividade, que suplantou as contribuições positivas das atividades de Pecuária e Pesca.
Com relação ao trimestre anterior, os Serviços foram puxados pelas atividades de Informação e comunicação (1,8%), Outras atividades de serviços (0,9%) e Atividades financeiras, de seguros e serviços relacionados (0,9%). Em contrapartida, houve queda no Comércio (-0,9%) e em Administração, defesa, saúde e educação públicas e seguridade social (-0,5%).
Já na Indústria, o resultado foi consequência de queda na Indústria de Transformação (-1,4%), na Construção (-0,7%) e na atividade de Eletricidade e gás, água, esgoto, atividades de gestão de resíduos (-0,4%). O único resultado positivo foi nas Indústrias Extrativas (2,5%), retratando o desempenho melhor que o esperado das economias desenvolvidas e o fim da política de COVID zero na China.
O resultado do PIB em 2022 mostra o bom desempenho que a economia brasileira teve até o terceiro trimestre, impulsionada pelo fim definitivo das restrições contra a COVID, que estimulou bastante o turismo, uma das principais responsáveis pela retomada, pela liberação da demanda represada e pelos estímulos fiscais que foram dados ao longo do ano passado, em especial pela “PEC Kamikaze” no segundo semestre do ano.
Enquanto isso, o desempenho do 4T22 aponta para a perda de ritmo da economia, impactada pelos juros e inflação altos, pelas incertezas sobre a economia com o novo governo Lula e pela desaceleração global, mas vemos reflexos positivos do turismo e do desempenho melhor das economias desenvolvidas, bem como da reabertura chinesa.
Reforçamos que nossa expectativa é de mais desaceleração ao menos durante o primeiro semestre de 2023, já que o cenário interno deve ser de juros altos e retomada da inflação ao mesmo tempo que os países desenvolvidos aumentam suas projeções de juros e a inflação persiste, de modo que uma recessão técnica deve se confirmar no 1T23.
Ao mesmo tempo, vemos fatores que podem beneficiar o Brasil durante 2023, como a reabertura chinesa, que vem forte, a reforma tributária e os programas do governo para negociação de dívidas e ampliação do crédito barato, mas ainda falta muita visibilidade sobre essas medidas.