Criado em 1979, o Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) é o indicador de inflação oficial do Brasil, base para as metas do Banco Central. Em síntese, ele mede a variação dos preços de uma cesta de produtos e serviços vendidos no varejo e consumido pelas famílias brasileiras.
Referência para os principais títulos de renda fixa, o IPCA se destaca como um dos indicadores de maior relevância ao se considerar produtos de investimento, pontuaram os especialistas ouvidos pelo TradeNews.
“Nenhum indicador é preciso, mas, dentre os conhecidos, o IPCA é que possui a melhor aproximação, e é por isso que é o principal indicador do BC para acompanhamento da inflação”, explica Ricardo Jorge, especialista em renda fixa e sócio da Quantzed.
Na renda fixa, o índice atua como indexador em títulos do Tesouro Direto, Letras de Crédito Imobiliário (LCI) e Letras de Crédito do Agronegócio (LCA).
O IPCA também respinga na renda variável, mas de modo indireto. De acordo com Marco Ferrini, analista de macroeconomia da Benndorf Research, o impacto se dá através da condução da política monetária.
Uma vez que o Banco Central utiliza o índice como referencial para as decisões sobre a taxa de juros, os números oficiais de inflação consequentemente influenciam nos custos operacionais de empresas e na preferência do mercado por ações de determinados setores, como varejo ou turismo.
“Além disso, o IPCA em níveis elevados ou até mesmo descontrolado pode gerar incertezas, tornando os investidores mais avessos ao risco, impactando as expectativas do mercado e diminuindo os retornos reais de suas aplicações, favorecendo investimentos mais conservadores”, completou Marco.
Mas como funciona?
Medido pelo IBGE, o indicador visa abranger 90% das pessoas residentes em áreas urbanas do Brasil, com alvo nas famílias com rendimentos de 1 a 40 salários-mínimos, independentemente da fonte de renda, cobrindo assim 90% das famílias pertencentes às áreas urbanas de cobertura do Sistema Nacional de Índices de Preços ao Consumidor (SNIPC).
Os dados são coletados nas regiões metropolitanas de 16 capitais brasileiras, cada uma com um peso diferente no indicador.
A cesta de produtos e serviços pesquisados mensalmente envolve alimentos comuns na maior parte do país, como arroz e feijão, além de mensalidade escolar, consulta médica, aparelhos eletrônicos e atividades de lazer.
O peso de cada item na conta varia conforme a presença deles na cesta de consumo médio da população. Os preços são coletados entre os dias 1º e 30 de cada mês em lojas e estabelecimentos de prestação de serviços, concessionárias de serviços públicos. Assim, o resultado indica se os preços permaneceram estáveis, aumentaram ou diminuíram de um mês para outro.
Tudo muda o tempo todo
A cesta de produtos e serviços do IPCA parte da Pesquisa de Orçamentos Familiares (POF), do IBGE, cujo objetivo é mensurar os hábitos de consumo da população. A POF é atualizada periodicamente, e também provoca mudanças no cálculo do IPCA. Tal metodologia leva o índice à proximidade com a realidade das pessoas, garantindo a relevância dos resultados.
A versão mais recente da cesta do IPCA foi feita no início de 2020 e inclui 377 itens no total, que são divididos em nove grupos de gastos. Como os itens consumidos hoje não são mais o que eram há 20 anos, a cesta atual inclui elementos como transporte por aplicativos e serviços de streaming, por exemplo.
Tendo ciência da metodologia utilizada para o cálculo e a população abrangida, frisa Marco, o IPCA é um indicador muito bom da dinâmica de preços da economia nacional, mas não isento de limitações como o fato de que o índice pode não refletir com precisão a experiência individual de cada consumidor, já que diferentes famílias possuem diferentes padrões de consumo.
Além disso, “mudanças nos padrões de consumo podem demorar um pouco a ser refletidas na cesta de produtos e serviços analisada, e como o IPCA é uma média nacional e o Brasil é um país de dimensões continentais, a métrica pode não capturar corretamente as variações regionais”.