Panorama de 20 a 26 de abril
A semana atual do Ibovespa foi marcada por baixa liquidez e comportamento volátil, reflexo do feriado nacional no início do período e da agenda econômica global relativamente esvaziada. O mercado brasileiro operou com cautela, acompanhando de perto os discursos dos membros do Federal Reserve (Fed), que reforçaram a perspectiva de manutenção dos juros nos EUA, além de manter atenção ao cenário geopolítico e à temporada de balanços corporativos.
Para a próxima semana, os investidores voltam suas atenções para o IPCA-15 de abril, que pode fornecer novas pistas sobre a trajetória da inflação no Brasil. No cenário internacional, os dados dos PMIs nas principais economias e as expectativas de inflação do consumidor americano prometem influenciar os mercados. Mesmo com um calendário enxuto, o noticiário político e as declarações vindas dos EUA, especialmente do presidente Donald Trump, podem gerar ruídos e volatilidade nos ativos brasileiros.
Panorama do Ibovespa
O Ibovespa encerrou a semana em alta, sustentando uma estrutura técnica positiva e abrindo espaço para mais valorização nos próximos dias. Após uma forte performance na segunda-feira e dois dias de leve correção, o índice retomou o movimento de alta e já ensaia um pivô de continuação. Segundo Filipe Borges, analista técnico da Benndorf Research, o mercado pode estar prestes a romper a máxima recente: “Se o Ibov superar os 130 mil pontos, abre caminho para os 133.500, o que representaria uma valorização de cerca de 2,5%. E caso esse patamar também seja vencido, a próxima resistência está nas máximas históricas, em 137.500 pontos”.
Apesar do cenário promissor, Borges faz um alerta para possíveis riscos técnicos: “É fundamental que o índice mantenha o suporte nos 127 mil pontos logo no início da semana. Uma perda desse nível pode trazer uma correção mais ampla, com alvos em 122.700”, explica. Ainda assim, o fechamento acima das médias móveis aumenta a probabilidade de continuidade do movimento ascendente.
Dicas de Trades
Vale [VALE3]
As ações da Vale fecharam a semana com leve queda de 1,5%, em um movimento de baixa volatilidade. O papel ainda respeita uma linha de tendência de baixa (LTB) iniciada em 2023, que até o momento não foi rompida de forma convincente. Filipe Borges afirma que está atento a uma possível quebra desse padrão: “Vale tentou romper essa LTB na semana passada, mas falhou. Se conseguir ultrapassar o topo em R$ 59,00, pode destravar uma valorização significativa, de até 36%, com alvo na região dos R$ 80,00”.
Enquanto o rompimento não ocorre, o analista prefere manter uma postura de espera. “O ativo precisa superar esse ponto para atrair compradores. Caso contrário, se perder os R$ 48,00, há risco de uma correção mais intensa até os R$ 39,40”, conclui Borges.
Casas Bahia [BHIA3]
As ações da Casas Bahia viveram uma verdadeira montanha-russa nos últimos meses. Depois de saltarem mais de 300% a partir da mínima de R$ 2,65, os papéis entraram em forte correção, encerrando a última quinta-feira cotados a R$ 5,78 — uma queda de 47% desde a máxima em R$ 11,00. Filipe Borges observa que o ativo ainda não oferece sinais de reversão: “Após consolidar entre R$ 6,50 e R$ 8,00, o papel perdeu força e agora tem espaço para buscar o suporte em R$ 4,80. Abaixo disso, só vejo suporte novamente nos R$ 3,80”.
Na avaliação do analista, o cenário técnico da empresa segue frágil. “Neste momento, não vejo oportunidades de compra em BHIA3. O gráfico ainda aponta para continuidade da tendência de baixa, e é preciso cautela”, reforça Borges.
Nvidia [NVDC34]
A BDR da Nvidia segue pressionada tecnicamente e aprofundou sua trajetória de baixa nesta semana, com queda acumulada de 3,55% no pregão mais recente. Desde que perdeu as médias móveis no início de fevereiro, o papel vem formando apenas pivôs descendentes no gráfico diário. Para Filipe Borges, a estrutura ainda é negativa: “Mesmo com volatilidade, o ativo tenta buscar as médias e logo retoma a queda. Se perder os R$ 12,20, pode haver mais 12% de baixa, até os R$ 10,67”.
Segundo Borges, só há espaço para otimismo se houver uma mudança clara na configuração técnica. “Para pensar em compra, a Nvidia precisa voltar a fazer topos e fundos ascendentes e, principalmente, trabalhar acima dos R$ 14,15”, explica.
Indicadores econômicos
Apesar de uma agenda econômica mais enxuta, os dados desta semana carregam um peso considerável para os rumos da política monetária global. Segundo Leandro Manzoni, economista do Investing, os olhares do mercado estarão voltados para o IPCA-15 no Brasil e para os discursos dos membros do Fed, especialmente após a fala do presidente Jerome Powell em Chicago, que reiterou os riscos das tarifas impostas por Donald Trump sobre os preços e o crescimento econômico norte-americano.
“Powell deixou claro que as decisões do Fed são técnicas e baseadas em dados, não em pressões externas”, explica Manzoni. A preocupação do banco central dos EUA, segundo ele, é evitar que os impactos inflacionários provocados pelas tarifas contaminem as expectativas de longo prazo. O desafio será conciliar os mandatos de estabilidade de preços e pleno emprego sem ceder à pressão política, que se intensifica com as críticas de Trump e rumores sobre uma possível substituição de Powell — ainda que apenas viável ao fim de seu mandato, em 2026.