Sucesso no day trade é ganhar dinheiro sem perder a cabeça. Um resumo adequado da conversa durante o evento Top Traders XP, promovido pela XP Investimentos na sede da Nomos no Rio de Janeiro na última quarta-feira (03).
Pela primeira vez em solo carioca, o encontro reuniu o analista Gilberto Coelho, o trader profissional Rodrigo Cohen e o ator e trader Márcio Kieling, mediados pela comunicadora Paula Sá.
Gilberto, analista da XP mais conhecido como Giba e famoso pelos calls de operações, ingressou no mercado financeiro em 1989 e atua em mesa institucional há quase 20 anos.
Apesar de ser veterano – o que rende piadas dos amigos sobre ele ter conhecido o próprio Charles Dow –, o analista diz usar bastante algoritmo e inteligência artificial para melhorar a qualidade dos calls, a fim de disponibilizar ao trader pessoa física a mesma qualidade da qual o institucional dispõe.
Já Cohen fez a primeira operação em 2000, mas contou que até hoje sua esposa diz não saber o que ele faz. O histórico inclui mentoria de gestão de risco – “já formava traders quando a Internet era mato”, como declara no Instagram, e, mais recentemente, a autoria do livro “A Vida Não Tem Simulador”.
Kieling, o caçula em termos de vida no mercado financeiro, é mais conhecido pela experiência como ator. Conheceu a bolsa de valores durante a pandemia e desde então se dedica ao ofício.
O protagonista do filme “2 Filhos de Francisco” ainda não se considera trader profissional, colocando-se na condição de aprendiz. “Ainda estou no caminho”, declara, acrescentando o desejo de obter o Certificado Nacional do Profissional de Investimento (CNPI).
Descobrindo onde o calo aperta
O sucesso no day trade é ecumênico: possui vários caminhos, isto é, diferentes fórmulas.
Todas, no entanto, passam pela estratégia operacional, controle emocional e gerenciamento de risco, os três pilares do trading, elaborados por Alexander Elder.
“Como se transformar em um operador e investidor de sucesso”, um de seus livros mais famosos, foi a primeira leitura no assunto de Rodrigo Cohen, que ressalta o terceiro pilar como o mais importante.
Se o gerenciamento de risco for bom, defende, os trades serão bons, ainda que o emocional e a estratégia estejam “mais ou menos”.
Cohen recomenda entrar apenas em operações de relação “dois para um” e jamais entrar em um trade sem embasamento. “Não sabe por que vai entrar em um trade? Não entre.”
Afinal, explica, quando o trader se posiciona sem saber o porquê, o resultado é ruim mesmo se resultar em lucro, pois ele não saberá o motivo do sucesso para que possa repetir.
Cohen também recomenda não deixar todo o dinheiro na conta em corretora usada para as operações. Ele relatou ter seis contas distintas na XP Investimentos, a fim de não se ver tentado a arriscar todo o seu capital no day trade.
“Gerenciamento de risco é o mais difícil para mim”, assumiu Márcio Kieling, acrescentando como o apoio de seu assessor de investimentos tem lhe ajudado a melhorar nessa parte. De sua breve experiência como trader, ele conclui que aceitar a perda e ir controlando “é o que faz a diferença”.
Giba reconhece a dificuldade. “É muito fácil perder qualquer valor que você tenha na mão”, enquanto ganhar é difícil. Assim, ele frisa a relevância de usar os stops, e conta sobre como, em sua experiência com clientes, “todo mundo que não tinha stop quebrou ou me ligou”.
“Trader profissional não move stop”, reforça.
Ainda na esfera da gestão de risco, Giba descreveu a necessidade de selecionar criteriosamente o capital para as operações. “O ‘cara’ que não sabe a quantidade que vai botar já está errado.”
Nesse ínterim, arriscar mais do que se está disposto a perder também seria um caminho fadado ao fracasso. “Se eu posso perder R$ 5, eu não ponho R$ 10”, exemplifica Giba.
Para o trader desejoso de mapear o próprio comportamento, o analista recomenda anotar todos os movimentos operacionais durante 20 dias, a um ritmo de 10 operações diárias. Assim, o operador pode identificar o que tem feito de certo e de errado.
Trader e notícias não se misturam?
Kieling não opera notícias, afirmou sucintamente. Cohen tampouco, mas afirmou se informar para saber quando evitar operações – justamente durante possíveis reações do mercado à divulgação de indicadores econômicos, pronunciamentos de autoridades e eventos similares.
“Opero notícia sim”, contrapôs Giba, diferenciando a elaboração de estratégias de acordo com o calendário e a tentativa de antever as reações do mercado às notícias – prática que não faz e não recomenda.
“Não tem como não operar sem saber notícia”, reforçou. Destacando ser preciso olhar o ofício de trader como qualquer outra profissão, o analista ressalta a importância de estar informado.
“Estratégia”, do português mesmo
O Índice de Força Relativa (IFR) é o favorito de Giba. “Não consigo trabalhar sem ele, fico cego.” O veterano aprendeu sobre o IFR ainda no início da carreira, com um cliente cujo histórico de operações bem-sucedidas devia-se ao uso do indicador.
O Índice, prosseguiu, teria a capacidade de ajudar o trader a “achar o momento de comprar alguma coisa por um preço relativamente barato”, ajudando a responder se um ativo está barato apenas porque desvalorizou e sobre o melhor momento de entrada em uma operação.
Cohen tem uma visão divergente sobre indicadores de análise. Para ele, utilizar o IFR para identificar regiões de sobrecompra ou sobrevenda é o mesmo que usar estocástico, MACD, média móvel ou price action.
“Eu posso ver a mesma coisa de quatro formas ou mais”, resumiu. Para ele, o mais importante é a decisão tomada a partir do que se está vendo.
“O mercado é o mesmo de quando ele foi criado, porque ele está em constante mudança”, define Cohen. “Eu mudo conforme muito de acordo com o comportamento do mercado”.
Assim, o profissional diz fugir de usar muitos indicadores. Ele prefere price action, os padrões de Oliver Vélez, ondas de Elliott, Fibonacci, pivot point e VWAP. Cohen também vê tempos gráficos diferentes, a fim de visualizar tendências maiores e menores.
Kieling se diz o mais simples da roda: usa média móvel de 200 períodos, bandas de Bollinger e só. “Não tem muito enfeite. Quanto mais enfeite, mais a gente fica na dúvida.”