Rossi (RSID3) pede recuperação judicial, mas não é a primeira incorporadora a fazê-lo

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A Rossi Residencial (RSID3) ajuizou pedido de recuperação judicial perante a 1ª Vara de Falências e Recuperações Judiciais da Comarca da Capital do Estado de São Paulo na última segunda-feira (19), em conjunto com 313 sociedades integrantes de seu grupo econômico.

A causa do pedido é um endividamento de R$ 1,23 bilhão, conforme informações divulgadas nesta terça-feira (20) pelo escritório de advocacia E. Munhoz, representante judicial do Grupo Rossi. O escritório também representou a PDG Realty (PDGR3) no processo de recuperação judicial da incorporadora, encerrado no ano passado.

O relatório aponta que “a partir de 2015, o setor imobiliário brasileiro entrou em uma curva descendente significativa, devido à mudança do cenário macroeconômico e da instabilidade política”. O aumento da inflação, do desemprego e da taxa Selic, prossegue o documento, bem como a desvalorização do real, “tiveram um impacto brutal na economia real e na atividade de incorporação imobiliária, cuja demanda depende diretamente da poupança das famílias brasileiras”.

A crise da incorporadora teria se originado de tal panorama, dada a exposição do Grupo aos setores de baixa e média renda e “uma alavancagem financeira incompatível com a perspectiva futura de geração de caixa oriunda do cenário que se instalava”.

A Rossi encerrou o segundo trimestre de 2022 com endividamento total de R$ 598,8 milhões. Já o Ebitda ajustado ficou negativo em R$ 24,8 milhões no período – uma variação positiva de 63% na comparação anual.

Na apresentação de resultados do 2T22, o Grupo Rossi reportou resultado financeiro líquido negativo em R$ 33,6 milhões, ante um resultado positivo de R$ 213,1 milhões apurado no mesmo período do ano anterior, quando foram obtidos descontos financeiros junto ao Banco do Brasil, que concedeu à Companhia a quitação de dívidas corporativas.

No relatório, o CEO da Rossi, João Paulo Franco Rossi Cuppoloni, comentou que a empresa “permanece focada em seu processo de reestruturação, mantendo sua disciplina de caixa, implementando as últimas negociações para reestruturação de sua dívida bancária e trabalhando para o aumento da nossa eficiência operacional”, mencionando que a performance de vendas continuava estável. “O valor das vendas brutas permanece em linha com o dos últimos 3 trimestres, mesmo com a depreciação dos nossos estoques pela falta de novos lançamentos”, acrescentou.

Em concordância, o relatório do E. Munhoz afirma que “o pedido de recuperação judicial representa uma etapa fundamental no processo de equacionamento econômico-financeira do Grupo Rossi, iniciado em dezembro de 2017, com a reestruturação de dívidas corporativas contratadas junto a instituições financeiras”. Assim, o representante judicial definiu que o processo de recuperação “é o instrumento adequado para viabilizar uma solução global e definitiva para a readequação do fluxo de caixa do Grupo Rossi, a manutenção de sua normalidade operacional e a retomada da expansão de suas atividades”.

Constituída em 1980, a fim de concentrar os investimentos do Grupo Rossi no setor de incorporação e construção de imóveis de médio e alto padrão na região metropolitana de São Paulo, a Rossi abriu capital na bolsa brasileira em julho de 1997. Em 2003, a empresa aderiu ao Nível 1 de governança corporativa da B3 – então BM&F Bovespa –, migrando para o Novo Mercado em 2006. RSID3 chegou a compor a carteira do Ibovespa em 2008.

A Rossi não é a primeira incorporadora listada na bolsa a aderir à recuperação judicial. A já mencionada PDG Realty passou pelo processo de fevereiro de 2017 a outubro de 2021. A construtora Viver (VIVR3) ficou em recuperação judicial de outubro de 2017 a agosto de 2021.

Apesar do encerramento dos processos, PDGR3 e VIVR3 seguem entre as incorporadoras mais alavancadas e de maior risco hoje, conforme aponta Júlio Borba. O analista categoriza Helbor (HBOR3), Gafisa (GFSA3), RNI, (RDNI3), Tecnisa (TCSA3) e Tenda (TEND3) da mesma forma.

O analista destaca o repasse de custos como um dos principais desafios das incorporadoras atualmente, “dado que muitas obras foram iniciadas nos últimos anos, mas os custos de produção aumentaram significativamente também, e se as empresas repassarem todo o aumento de custos (medido pelo INCC), pode ocorrer aumento nos distratos”.

Júlio também enfatiza que os lançamentos e vendas das companhias do setor se encontram nos menores níveis observados nos últimos anos, “dada a piora no cenário macroeconômico e a consequente dificuldade de obtenção de crédito imobiliário, fato que vem sendo amenizado principalmente para as construtoras e incorporadoras de baixa-renda, como a Direcional, Cury e Plano & Plano, por estarem inseridas no Programa Casa Verde e Amarela do Governo Federal, que oferece crédito subsidiado”.

Em fato relevante, a Rossi prometeu manter acionistas e o mercado informados sobre o desenvolvimento dos assuntos relacionados ao processamento da recuperação judicial. As ações da construtora encerraram o pregão desta terça-feira (20) com 10,79% de baixa, cotadas a R$ 2,81.

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