Um mistério Cripto: Quem controla essa stablecoin que vem crescendo rapidamente?

O valor de mercado do TrueUSD mais que dobrou desde março

Um mistério de US$ 3 bilhões está tomando conta do mercado de criptomoedas.

O TrueUSD é uma das stablecoins – criptomoedas atreladas ao dinheiro do mundo real, como o dólar americano, que os investidores usam para negociar dentro e fora do mercado de moedas digitais – de crescimento mais rápido. 

Seu valor de mercado mais que dobrou para cerca de US$ 3 bilhões desde março, o que a torna a quinta maior stablecoin, de acordo com dados da CoinGecko. 

Sua participação no volume de stablecoins em bolsas de criptomoedas centralizadas subiu de menos de 1% no início do ano para 20%, de acordo com o provedor de dados Kaiko.

Ninguém sabe ao certo quem a controla.

Os empreendedores de criptomoedas Rafael Cosman e Daniel Jaiyong An criaram a TrueUSD em março de 2018 como cofundadores da startup TrustLabs de São Francisco. 

A empresa, que mais tarde foi rebatizada como Archblock, obteve financiamento do Founders Fund de Peter Thiel, da StartX afiliada à Universidade de Stanford, da Andreessen Horowitz e da Jump Trading.

A Archblock vendeu os direitos de propriedade intelectual do TrueUSD para uma empresa pouco conhecida chamada Techteryx em dezembro de 2020, mas a Archblock ainda operava o token e era responsável por gerenciar suas reservas, trabalhar com parceiros bancários e supervisionar a conformidade até julho.

Os órgãos reguladores têm pressionado por uma maior transparência nas stablecoins, em parte porque elas são lastreadas em ativos tradicionais, como notas do Tesouro dos EUA de curto prazo, e são suscetíveis a corridas de clientes. 

Se os detentores as venderem em grandes quantidades, as empresas que apoiam os tokens terão de vender ativos tradicionais para devolver o dinheiro dos clientes, o que pode provocar uma venda em massa que poderia afetar outras partes do sistema financeiro. 

Também existe a preocupação de que algumas stablecoins não sejam realmente respaldadas pelos ativos que seus emissores afirmam ter.

“Sempre que a governança de uma stablecoin não é clara, isso é um grande motivo de preocupação”, disse Clara Medalie, diretora de pesquisa da Kaiko. 

“Mesmo que o TrueUSD ainda não seja sistemicamente importante para as criptomoedas, ainda há milhões de traders em todo o mundo que podem estar expostos a isso.”

Além disso, os cofundadores da TrueUSD estão agora presos em uma amarga disputa legal sobre as circunstâncias que envolveram a saída de An.

Suas declarações adicionaram combustível à especulação do mercado de que Sun é o cérebro por trás do crescimento repentino do TrueUSD.

Sun negou repetidamente qualquer envolvimento com a TrueUSD ou a Techteryx. Ele é bem conhecido nos círculos de criptografia como o fundador da empresa de blockchain Tron. 

Ele é o líder efetivo da Huobi, uma importante bolsa de criptomoedas originalmente sediada na China, informou anteriormente o The Wall Street Journal.

Sun ganhou as manchetes por outros motivos, incluindo a possibilidade de entrar em conflito com as regulamentações de valores mobiliários dos EUA. A Comissão de Valores Mobiliários americana (SEC) processou Sun e três de suas empresas em março por supostamente oferecerem títulos não registrados e manipularem o preço de sua criptomoeda Tronix, ou TRX. Ele disse que o processo não tem mérito.

Um porta-voz da Tron disse que Sun não fazia parte da aquisição da TrueUSD e se recusou a fazer mais comentários.

O TrueUSD, também conhecido como TUSD, saiu de uma relativa obscuridade em março depois que a Binance, a maior bolsa de criptomoedas do mundo, removeu as taxas de negociação de bitcoin à vista para a stablecoin. 

Isso gerou uma enorme demanda pelo TrueUSD, pois os investidores correram para comprar a stablecoin para habilitar a negociação gratuita de bitcoin. A bolsa agora controla mais de 90% de todos os tokens TrueUSD atualmente em circulação, de acordo com dados da Arkham Intelligence.

“Estou definitivamente questionando por que a Binance está fazendo isso e por que a Binance está envolvida”, disse Austin Campbell, professor adjunto da Columbia Business School, que trabalhou anteriormente na Paxos, uma emissora de stablecoin e ex-empresa parceira da Binance. 

“Eles claramente tomaram a decisão de priorizar a TrueUSD em sua plataforma”.

A Binance afirmou que não assinou um acordo com Sun ou qualquer outra pessoa para promover o TrueUSD. Seu esforço para impulsionar o token ocorre no momento em que a bolsa vem se reduzindo sob crescente pressão financeira e regulatória. 

Anteriormente, ela havia se concentrado na expansão de sua própria stablecoin, a Binance USD, e no último outono já havia praticamente retirado seus rivais da lista. 

Em fevereiro, no entanto, a SEC ameaçou processar a Paxos, que emitiu a Binance USD, e os órgãos reguladores de Nova York proibiram novas emissões do token. Desde então, a capitalização de mercado da Binance USD caiu de mais de US$ 23 bilhões em seu auge para US$ 3,4 bilhões. 

A Binance disse recentemente que removeria as taxas de negociação de bitcoin à vista para outra stablecoin pouco conhecida chamada First Digital USD, que é emitida pela First Digital Labs, sediada em Hong Kong.

Um porta-voz disse que a Binance favorece stablecoins “que são transparentes, regulamentadas e têm fortes relações com instituições bancárias em mercados que apoiam a inovação”.

“O TUSD é o primeiro de, esperamos, muitos novos produtos de stablecoin oferecidos aos usuários”, acrescentou.

(The Wall Street Journal; Título original: A Crypto Mystery: Who Controls This Fast-Growing Stablecoin?)