DISCLAIMER: o texto a seguir trata apenas da opinião do autor e não necessariamente reflete a opinião institucional da Nomos Investimentos ou do TradeNews.
No mercado financeiro usamos a expressão “eventos de cauda” para nos referirmos a eventos improváveis de se concretizarem, mas que, quando ocorrem, causam grande impacto nas carteiras de investimentos.
Para entender melhor o poder dos eventos de cauda e como eles acontecem, imagine uma sequência de possibilidades aleatórias, como a votação de candidatos à presidência, por exemplo. Normalmente temos mais de 10 nomes aptos a receber votos e, em tese, todos eles poderiam vencer a eleição, mas, a maior parte dos votos acaba se concentrando em apenas 2 ou 3 nomes.
Agora vamos usar as eleições de 2022 para deixar o exemplo ainda mais claro e te dar a real dimensão do perigo.
Imagine que após diversas pesquisas, o mercado atribuísse 99% de chances de o vencedor das eleições de 2022 ser Lula ou Bolsonaro, ou seja, existiria ainda 1% de chances de o candidato eleito ser um nome totalmente diferente daquele esperado pelo mercado, sendo que, dentro desse 1%, ainda existem candidatos mais bem cotados, como a Simone Tebet, e outros menos, como Padre Kelmon.
Quando esse 1% acontece, chamamos de evento de cauda, nome não dado por acaso. Quando colocamos os dados estatísticos em um gráfico, ele normalmente tem o formato de sino, como mostrado abaixo, no qual as maiores probabilidades se concentram no meio do gráfico e as menores nas pontas, ou seja, nas caudas do gráfico.
Quanto mais afastado do centro do gráfico, mais improvável é que o evento aconteça, e quanto mais improvável, maior será seu impacto no mercado caso ele ocorra, justamente por ninguém estar preparado.
Quando um evento muito afastado do centro do gráfico acontece, chamamos ainda de evento de cauda longa, para reforçar que era realmente muito improvável, mas ocorreu!
Já pensou se o vencedor das eleições de 2022 fosse o Padre Kelmon?
Provavelmente o impacto no mercado seria enorme, não pelo Padre em si, mas por conta de a maioria das expectativas estarem ajustadas para outros cenários e agora precisarem ser reajustadas para o novo momento.
Eventos de cauda acontecem a todo momento, mesmo assim são ignorados pela maioria dos investidores.
Quem poderia imaginar uma pandemia fechando o mundo inteiro?
Poucas semanas antes de o país ser fechado, estávamos com as ruas lotadas por conta do Carnaval, sem a menor preocupação com a Covid. No entanto, logo após a folia houve um lockdown, e os mercados caíram mais de 50%, sem dúvidas uma grande oportunidade para comprar ativos com um belo desconto.
Mas o que os OVNIS derrubados pela força aérea americana tem a ver com isso?
Simples, eles são um exemplo clássico de evento de cauda longa potencial.
Não importa se estamos lidando com marcianos verdes a bordo de um disco voador ou com países testando uma nova tecnologia militar mais avançada que pode gerar conflitos armados e redesenhar a geopolítica global, o fato é que ninguém está preparado para nenhuma das duas coisas e, por definição, cenários improváveis (eventos de cauda) têm um grande potencial de abalar os mercados caso aconteçam.
Ok, agora você deve estar se perguntando o que fazer para se proteger dos marcianos, certo?
Manter sempre um caixa disponível para aproveitar as oportunidades geradas por esses eventos!
Com a renda fixa beirando os 14% ao ano com baixo risco, não faz sentido algum estar com o capital 100% alocado em ativos mais voláteis para ganhar menos do que isso.
Warren Buffet, um dos maiores investidores de todos os tempos, tem aproximadamente 140 bilhões de dólares no caixa da Berkshire Hathaway, sua empresa de investimentos, e todo esse dinheiro está lá apenas esperando uma boa oportunidade de investimento, que normalmente acontece em decorrência de um evento de cauda que tira do jogo os mais apressados ou os menos experientes.
Quando um evento de cauda acontece, sua carteira inevitavelmente é impactada e a melhor coisa que você pode fazer para amenizar essas perdas é aproveitar os ativos em promoção para surfar a retomada.
Como todo evento de cauda, essa história maluca de OVNIS pode não ser nada, apesar de termos tido 277 avistamentos nos últimos 14 meses contra apenas 144 nos 14 anos anteriores, mas, em algum momento, esse ou outro evento de cauda qualquer irá nos atingir, e precisamos estar preparados para o fato de que jamais estaremos preparados para tudo. Por isso, canja de galinha, uma boa dose de cautela e um bom caixa para aproveitar oportunidades não fazem mal a ninguém.