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O diretor de Planejamento do BNDES, Nelson Barbosa – que foi ministro da Fazenda e do Planejamento no governo de Dilma Rousseff (PT) – disse, em entrevista ao jornal Folha de S.Paulo, que a instituição pretende reduzir seu nível de dependência de recursos do Tesouro Nacional, buscando novas formas de financiamento, e, para isso, estuda a criação de um novo título.
A ideia parece muito boa, em tese; com a captação via instrumento próprio, o investidor estaria emprestando dinheiro para uma atividade econômica que ele sabe qual é e consegue ponderar melhor os riscos, dando mais transparência e credibilidade às operações.
A ideia do banco é criar mais título como os já conhecidos CDBs, LCAs e LCIs. O BNDES acredita que, criando uma Letra de Desenvolvimento, poderia captar mais recursos e aumentar a participação do banco no crescimento do PIB.
Atualmente, o banco pega recursos com o Tesouro Nacional, ou seja, quem investe em títulos públicos – em que o risco de crédito é do governo central – acaba tendo seu dinheiro emprestado por tabela para o BNDES financiar projetos como o metrô na Venezuela, o porto de Cuba e agora o gasoduto na Argentina, e, quando o calote acontece, o governo assume o prejuízo e emite mais dívida para pagar aos credores, empurrando o problema para frente.
No passado, os governos petistas quase quebraram o país repassando recursos do Tesouro para o BNDES operar um esquema de financiamento insolvente e muito parecido com uma pirâmide financeira.
O banco pegava dinheiro com o Tesouro e emprestava na outra ponta por uma taxa de juros menor do que aquela a qual o Tesouro havia acordado com os credores. Sendo assim, mesmo que todos pagassem em dia, a operação já geraria prejuízo aos cofres públicos de qualquer forma, como de fato gerou e acabou por implodir o governo Dilma, que “pedalava” o orçamento transferindo dinheiro de um lugar para outro ao tentar cobrir um rombo de R$ 54 bilhões.
O problema dessa ideia do BNDES é que o mercado precifica os títulos de acordo com o risco e as condições de juros do momento, e o governo não goza atualmente de credibilidade suficiente para tornar este título tão atrativo.
Se hoje qualquer um que empreste dinheiro ao Tesouro Nacional recebe uma taxa livre de risco (Selic) de 13,75% ao ano, quanto deveria exigir de retorno para emprestar seus recursos para o BNDES financiar um gasoduto na Argentina?
Eu nem emprestaria, mas, se alguém quiser arriscar, provavelmente vai exigir muito mais do que 13,75% ao ano!
Será que o banco captando dinheiro à 18% ou 20% ao ano conseguirá emprestar na outra ponta a uma taxa interessante?
Será que a Argentina tomaria um empréstimo para pagar 20% ou 25% ao ano? Será que você, investidor, acredita que a Argentina vai pagar essa dívida? Será que esse título vai ter alguma garantia?
Será que eles acham que o mercado vai emprestar dinheiro ao BNDES por um retorno inferior à Selic, sabendo que o banco durante os governos petistas perdeu rios de dinheiro financiando projetos dos “amigos do rei” sem o menor critério?
Será… Será… Será…?
Diante de todos esses “serás”, fico com aquele do samba enredo da União da Ilha de 1978, que pelo menos resistiu bravamente a todos os governos que tivemos desde então:
“Como será o amanhã?
Responda quem puder.
O que irá me acontecer?
O meu destino será como Deus quiser…”