Relatórios de análise fundamentalista são repletos de siglas e termos técnicos, que se tornam ainda mais recorrentes em temporadas de balanços trimestrais.
Uma das métricas mais usualmente citadas em tais contextos é o Ebitda, sigla em inglês para “Earnings Before Interest, Taxes, Depreciation and Amortization”, ou em português, “lucros antes de juros, impostos, depreciação e amortização”.
O que é o Ebitda?
O nome já explica todo o conceito do que é o Ebitda, mas e na prática? O estrategista da Nomos Investimentos, Rodrigo Correa, sintetiza o Ebitda como uma aproximação da geração de fluxo de caixa, divulgada pelas empresas.
“Não é exatamente a geração de fluxo de caixa, mas ela é uma aproximação contábil”, explica.
O cálculo do Ebitda é bastante simples. Basta somar o lucro líquido da empresa com os juros, impostos, depreciações e amortizações e, em seguida, subtrair os juros e impostos. A fórmula fica assim:
Ebitda = Lucro líquido + Juros + Impostos + Depreciação + Amortização – Juros – Impostos
E qual a sua utilidade?
De acordo com Rodrigo, o indicador pode ser usado como métrica de valuation, “para saber se a empresa está cara ou se está barata e comparar isso com outros pares”.
A vantagem é que qualquer investidor pode acessar tais métricas, através dos balanços operacionais das empresas, disponíveis nos sites de Relações com Investidores (RI) de cada uma.
O analista explica que, ao saber o valor do Ebitda de uma companhia, o investidor consegue obter diversas características financeiras da empresa a qual ele investiga, como o valuation ou o endividamento.
Derivados do Ebitda
Sozinho, o Ebitda pode não fornecer tanta compreensão assim. Para ajudar a clarificar ainda mais a percepção do investidor, entram em cena os derivados do indicador.
O Ebitda pode ser usado de diversas formas, dependendo do que se quer calcular.
Um dos derivados mais utilizados é o EV/Ebitda, ou seja, a relação entre o valor da empresa (em inglês, Enterprise Value ou EV) e o Ebitda. De acordo com o estrategista da Nomos, essa associação é usada principalmente para o valuation de companhias.
Já o DL/Ebitda, ao contrário do EV/Ebitda, refere-se à relação entre a Dívida Líquida (DL) e o Ebitda, a fim de verificar o endividamento de alguma empresa.
Existem também outras três formas de associação do Ebitda à outra métrica:
EBITDA/Despesas financeiras, o qual indica a associação entre o caixa gerado pela empresa (Ebitda) e suas despesas financeiras do período.
EBITDA/vendas, relação que compara o Ebitda da empresa em relação ao volume bruto das vendas.
EBITDA/patrimônio líquido, derivado o qual permite comparar o volume de recursos da empresa com o volume de recursos próprios investidos.
Prós e contras
Como qualquer indicador financeiro, o Ebitda é eficaz para determinados fins e ineficiente para outros.
A principal vantagem no uso do Ebitda é a facilidade em encontrá-lo, já que ele é divulgado pela maioria esmagadora das empresas.
“Então está pronto o número, não precisa construir, como um analista faz na prática para chegar na geração de caixa”, pondera Rodrigo.
Trata-se de uma métrica que elimina os efeitos das diferenças contábeis e fiscais entre as companhias, o que o torna útil para comparações entre empresas do mesmo setor, por exemplo.
Quanto à deficiência do indicador, Rodrigo esclarece: “não é exatamente a geração de caixa, então, às vezes, têm algumas questões pontuais que você precisa ajustar para chegar a um número mais puro”.
Apesar de não ser o número exato do lucro de uma empresa, o Ebitda ainda é amplamente utilizado e é “uma boa aproximação aí de maneira geral”, segundo o especialista.
Um pouco de etimologia
Apesar de os primeiros termos do Ebitda – lucro, juros e impostos – serem amplamente conhecidos, a depreciação e a amortização podem ser estranhas ao grande público.
“Depreciação e amortização são formas de você contabilizar um gasto que a empresa teve, mas cujo benefício desse gasto vai se prolongar no tempo”, expôs Rodrigo Correa.
Na prática
Quando se fala de algum investimento físico, por exemplo, um novo prédio para a empresa, refere-se à depreciação. “Você investe, gasta naquele ano, constrói um prédio e vai usar aquilo pelos próximos vinte anos”, elucida o analista.
De acordo com Rodrigo, pelo fato de os frutos do gasto serem usufruídos posteriormente pela empresa e funcionários, ou seja, constituir em um benefício, o mais inteligente a se fazer pela companhia é deprimir artificialmente o valor a ser utilizado.
“Você se apropria do pedaço do custo proporcional ao período que ele vai durar […]. Se for vinte anos, um vinte avos por ano daquele investimento que se fez. Você vai abatendo do processo operacional para chegar num lucro mais estável.”
Já no caso da amortização, a situação é a mesma da depreciação, mas em relação a bens intangíveis, como uma marca ou uma patente.
Há ainda um terceiro termo dentro dessa lógica, a depleção. A prática é a mesma dos termos anteriores, mas refere-se a jazidas, minerais, isto é, meios relacionados à natureza.