O mercado brasileiro repercutiu na última semana a mudança dos ratings de crédito de longo prazo do Brasil pela agência S&P.
A agência mudou a perspectiva de estável para positiva e reforçou os ratings de crédito soberanos em “BB-/B” de longo e curto prazo. O rating soberano ficou em “brAAA”, com perspectiva estável.
Big players como o Goldman Sachs e o JP Morgan comentaram o relatório da S&P, enquanto a notícia reverberava nas mesas de operações dos tubarões. No entanto, os conceitos que envolvem ratings de crédito permanecem nebulosos para boa parte dos pequenos investidores.
O que é e qual a importância do rating
Segundo a própria S&P, um rating de crédito é uma opinião informada acerca da probabilidade de um emissor honrar suas obrigações financeiras de forma tempestiva e total.
As classificações auxiliam na obtenção de conhecimento sobre novos mercados e aumento de transparência, além de servir como benchmark universal e avaliar e demonstrar a qualidade de crédito.
Enfim, “a chave para um mercado de capitais eficiente”, diz a S&P em seu site oficial. Os ratings ofereceriam informações transparentes não apenas prospectivas, mas também padronizadas e voltadas à consistência.
A nota, resultado final de um rating, é geralmente representada por uma letra ou um conjunto de letras e números. Esse tipo de análise é desenvolvido nos mercados há mais de um século, ao longo do qual se formou a tradição de expressar estas notas pelas primeiras letras do alfabeto.
“Foi uma forma que o mercado estruturou para poder responder com o mínimo de acuracidade a qualidade de cada emissão de título de dívida”, explica Rodrigo Correa, estrategista da Nomos Investimentos.
Diante de emissões de CDBs ou debêntures – no exterior, são todos bonds – por bancos ou empresas, “alguém precisava avaliar esses casos para ter uma ideia do qual confiável a empresa era sob o ponto de vista do risco de crédito”. Em bom português, as agências verificam as chances de a instituição pagar o investidor.
Beto Saadia, diretor de investimentos da Nomos, explica a utilidade dos ratings do prisma da existência dos grandes fundos espalhados pelo mundo: independentes, institucionais, de pensão e, principalmente os fundos soberanos – que detêm a reserva dos próprios governos nacionais.
São justamente os ratings os balizadores para tais fundos aplicarem ou não fora do próprio país.
As três mosqueteiras
Junto à S&P – abreviação de Stand and Poor’s –, Moody’s e Fitch completam o trio das maiores agências de classificação de risco do mundo. Isso porque elas são as três casas homologadas por grande parte da indústria de fundos anteriormente mencionada por Beto, incluindo pelos governos das principais economias do globo.
As três possuem escala própria de notas, que normalmente vai de “AAA” (nota mais alta, que significa forte capacidade de honrar compromissos financeiros) até “D” (classificação mais baixa, que indica inadimplência do emissor).
Existem sim outras agências menores, mas cujas classificações não têm tanto peso, inclusive por questões burocráticas. O estatuto de muitos fundos valida somente os ratings das três maiores casas.
Outra dificuldade é o conflito de interesses. Rodrigo menciona que há empresas que contratam agências menores para emitir classificações de crédito, mas as casas por vezes ficam receosas de emitir notas negativas, “porque futuramente elas podem não ser chamas de novo para fazer essas análises”.
Margem de erro
Os ratings não são garantia ou medida absoluta, resguarda a S&P, “mas sim uma ferramenta crucial para o processo de tomada de decisões dos investidores”.
A margem de erro das classificações, entretanto, “é quase zero”, definiu Beto. “Porque o rating, na verdade, nada mais é do que uma decisão até de certa forma atrasada em relação ao que acontece com o risco-país”, o qual também pode ser medido pelo câmbio e taxa de juros.
A medida mais importante é o CDS, o qual consiste basicamente em um contrato que funciona como um seguro contra a quebra do próprio país em questão. Assim, explicou o especialista, primeiro acontece a mudança no preço do CDS, depois vem a decisão do rating.
Ainda assim, há um lado obscuro na história das agências de classificação de risco. Na crise de 2008, conta Rodrigo Correa, houve um grande erro “ou barbeiragem, no mínimo”. Muitos dos chamados títulos podres, principais elementos na crise, receberam notas altas das três casas.
O legado negativo, todavia, não permanece. “Fato é que elas são sim empresas sérias, que fazem avaliações sérias”, contrapôs o especialista.