Caros leitores, tenho conversado com diversos clientes nesse final de ano, e a pergunta do título tem aparecido com recorrência. Se essa é sua dúvida, escrevo esse artigo para te ajudar a repensar o portfólio e reposicioná-lo para 2023.
Vamos a alguns fatos, antes de entrar no mérito do que fazer:
1) Hoje, dezembro de 2022, a Selic encontra-se em 13,75% a.a., tutelada por um Banco Central legalmente independente. Isso significa que, pelos próximos dois anos, o novo governo eleito terá que trabalhar lado a lado com Roberto Campos Neto e sua equipe na direção da economia brasileira;
2) A Selic em patamares altos ao longo de todo 2022 acabou surtindo efeito e trouxe a inflação de volta a patamares mais palatáveis – IPCA de 12 meses de +10,06% em dezembro de 2021 vs. +5,90% em novembro de 2022;
3) O novo governo tem mirado uma postura mais gastadora:
Começou solicitando ao Congresso Nacional, via PEC, um waiver de R$ 200 bilhões por 4 anos de gastos acima da trava conhecida como “teto de gastos”. No momento que eu escrevia esse artigo, a Câmara tinha acabado de aprovar R$ 145 bilhões de exceção, apenas para 2023. Tendo a PEC sido aprovada com esses números finais, isso dá uma folga para o novo governo trabalhar e exige, que no período de um ano, seja apresentado um novo mecanismo para substituir o “teto de gastos” e controlar o fiscal, gerando credibilidade ao novo governo;
Tal PEC suportará os R$ 600 por mês do Bolsa Família, mais R$ 150 ao mês por criança, além de recomposições orçamentárias e pequeno espaço para investimentos;
O Congresso Nacional está em processo de aprovação aumentos generalizados para a cúpula dos poderes (entre 30-45%), que tem efeito de cascata para todo o funcionalismo público;
4) Estamos com um endividamento alto para padrões emergentes, em 76,8% de DBGG sobre o PIB. Só como comparação, no governo Lula 1, o mesmo presidente assumia o país com 71,9% de DBGG sobre o PIB.
Com esse cenário, o mercado espera que a Selic se mantenha em alto patamar, estável ao longo do ano. Esse comportamento é claramente percebido nas curvas pré-fixadas, que subiram muito (mais ou menos 2 pontos percentuais) nos últimos 50 dias. Se houver novas atitudes do governo no sentido de maiores gastos, poderemos até ver o BaCen precisar subir a Selic, mas esse cenário não é o mais provável hoje. Aposto na manutenção da taxa Selic no atual patamar.
Juros em alta indicam ativos de risco em baixa. Essa é a relação usual entre renda fixa e renda variável.
Do ponto de vista de produtos, temos visto situações que incomodam muito a nossos clientes. Dada a dinâmica da Selic nos últimos 2-3 anos, quando passamos um ano e pouco com Selic a 2,00%, e a inflação, naquela época, já incomodava com números acima desses, aqui na BRA BS/ sugerimos a alocação em pré-fixados em horizontes curtos (no máximo 2 anos), sabendo que a Selic a 2,0% era um momento de mínima dos juros e não um cenário de longo prazo.
Infelizmente, recebemos clientes de outras casas, onde alocações em pré-fixados longos com 5, 6, 7+ anos, a taxas entre 7-8%, que estão até hoje em suas carteiras. Recebemos também clientes com alocações substanciais em COEs de, na média, 5 anos, que estão “queimando na mão” por não terem nada além do “capital protegido”. Capital protegido em época de Selic altíssima é um problema… Por fim, há o natural desconforto com ativos de renda variável, dos quais, nesse último ano, muitos deles não têm performado bem, em função das incertezas e dos juros altos.
Assim, caso você que me lê nesse artigo se encontre em situação semelhante, creio que caibam duas avaliações de seu portfólio:
- Você carrega alocações erradas (como as que citei no parágrafo anterior – i.e. pré-fixados longos a taxas baixas, ou COEs que não performam) em quantidade significativa em seu portfólio?
- Você está incomodado com os ativos de renda variável que não performaram “a altura do CDI”?
No caso do primeiro questionamento, cabe avaliar se é possível uma saída no secundário de tais ativos e o reinvestimento em instrumentos de renda fixa pós-fixados. Além da cotação de saída dos ativos, é necessário uma simulação sobre o quanto se espera ganhar indexado ao CDI daqui para frente e ver se o resultado é melhor com a troca ou com a manutenção nos ativos que por hora não entregam retorno.
No caso do segundo questionamento, talvez você esteja alocado a um portfólio mais agressivo que seu perfil indicaria. Nesse caso, é importante reavaliar seu perfil de risco e se seus ativos se encaixam nesse perfil. Cabe aqui um disclaimer: lembre-se que ninguém gosta de perder dinheiro, ou deixar de ganhar. Mas essa é a natureza do jogo quando se investe em renda variável, e nem sempre se estará acima dos 100% do CDI em todos os ativos que compõem sua carteira e em todo tempo.
Descompasso no retorno de renda variável e renda fixa são comuns e um pequeno desconforto com tais situações é normal. No limite, pode não ser indicativo de nada, ou ainda, não seja o caso de mudança alguma no portfólio. Agora, se você está temeroso com o futuro, está desgostoso com o andar do CDI vs. seu portfólio, talvez aí seja questão de readequação do risco dos seus ativos para um perfil mais conservador.
De toda forma, caso esses não sejam seus questionamentos, e você seguiu esse texto até aqui, sugiro que aproveite o momento e reveja seus investimentos à luz de um novo momento, o qual, por hora, tudo indica que teremos retornos maiores e mais consistentes via renda fixa do que as rendas variáveis prometem.
Bom final de ano, boas festas, e que 2023 venha com dias melhores para todos!
Bons investimentos!