As ações PN da Petrobras [PETR4] amargaram 6% de queda nesta quarta-feira (15), a R$ 38,40, com o mercado repercutindo a mudança na diretoria. As ações ON caíram 6,7%, a R$ 40. O conselho de administração da estatal aprovou o encerramento antecipado do mandato de Jean Paul Prates como CEO da companhia no início da tarde.
Magda Chambriard será a 43ª pessoa na presidência da petroleira, na sexta troca desde 2019. Ex-diretora da Agência Nacional de Petróleo (ANP) no governo Dilma, ela foi funcionária de carreira na Petrobras por 22 anos, e se reuniu na manhã de hoje com o ministro de Minas e Energia, Alexandre Silveira.
Comprar ou vender PETR4?
A movimentação de PETR4 hoje mostrou forte gap de queda por conta da novidade, explica o analista técnico João Tonello. Para ele, as ações continuam em patamar atrativo de preço, podendo retomar movimentação de alta. Ainda assim, não é o melhor momento para compras.
“Devemos aguardar o ativo mostrar movimentação simétrica para retomada de posições”, diz Tonello. O papel se encontra graficamente neutro, completa o analista.
“Na minha opinião, quem tem ações da empresa, não vale sair agora vendendo”, diz Rodrigo Cohen, analista e co-fundador da Escola de Investimentos. A Petrobras tem bom potencial “e o governo não fica para sempre”, justifica. Por piores que sejam as interferências do governo, prossegue, a estatal é uma empresa ligada ao petróleo, um ativo ainda muito relevante para o mundo.
Assim, “mesmo não ficando feliz com a situação, eu não sairia” da posição comprada em PETR4.
O que disse o mercado
Quanto à troca na diretoria em si, o mercado lamentou a decisão. Para o Goldman Sachs, Prates era um bom conciliador entre os interesses dos investidores e dos governos. Em relatório, os analistas Bruno Amorim, João Frizo e Guilherme Costa Martins disseram acreditar que a mudança pode reacender preocupações relativas à possível intervenção política nas operações da empresa.
“Observamos que a liderança da Petrobras mudou várias vezes no passado devido a desentendimentos entre a gestão e o governo – levando subsequentemente a uma queda no preço das ações nos dias seguintes aos eventos”, lembram.
Trocas na direção de uma empresa, seja pública ou privada, são normais, diz Eduardo Silva, presidente do Instituto ibero-americano Empresa. Assim, o inquietante na mudança anunciada na noite de terça-feira (14) são as motivações e, sobretudo, o que antecedeu a troca na Petrobras.
“Hoje, aliás, a imprensa registra abertamente que a queda de Prates tem origem em sua aproximação ao mercado. Mas não era exatamente isso que deveria fazer o gestor de uma empresa de capital aberto?”, questiona.
Enrico Cozzolino, sócio e head de análise da Levante, recorda que toda vez que acontece uma troca no comando na Petrobras, considerando que a média de tempo de duração do CEO na companhia é em torno de dois anos, a pergunta do investidor é justamente o que vai se dar com fatores importantes como a política de preço e de paridade. “Estamos às vésperas de alguns fins, de algumas dessas medidas que são positivas para a companhia até então.”
As ações da petroleira negociam descontadas por fundamento, em análise relativa frente aos pares, e “poderia estar vivendo um momento melhor de expectativa futura, até em virtude de eventos geopolíticos, de cortes na produção de barris, que são pressões altistas para o preço”. Entretanto, por conta dos riscos de ingerência, mais uma vez há um evento no qual as ações caem bastante pela preocupação do mercado.
“A meu ver, sim, é um conflito de interesse, mas que vai ser gerenciado”, defende. “Tanto o governo quanto Magda têm experiência no setor, em tudo que pode ser impeditivo ou não”, e devem gerenciar o conflito. Quanto à administração em si, Cozzolino prevê mais foco em políticas mais relacionadas à pauta do executivo, ao invés da pauta do minoritário ou da companhia propriamente dita.
“Por isso que a gente vê esses descontos frente a Pares e a companhia que poderia gerar muito mais receita, lucro, emprego, distribuir dividendos para o próprio governo investir na pauta social”, finaliza o especialista.
A mudança na presidência deixa claro que Lula quer trazer uma presidente mais “nacionalista” e menos pró-mercado, na visão de Rodrigo Cohen. Apesar de a nomeação de Prates, no início de 2023, ter repercutido negativamente também, as credenciais de Magda “são um pouco piores, não em termos de experiência, mas em termos de envolvimento com o governo, com a Dilma”.
Enquanto Prates fez uma “ótima presidência, entre trancos e barrancos”, a nova chefe da Petrobras teve envolvimento com a OGX, petroleira de Eike Batista, já tendo cancelado uma multa e elogiado publicamente a empresa, prossegue Cohen.
Comparando os dois perfis, ele destaca que o agora ex-diretor trouxe um dos melhores resultados da história da estatal. “O petróleo também ajudou, mas, na minha opinião, [Prates] fez uma boa gestão e a intervenção do governo foi muito menor do que a gente imaginava, principalmente no episódio dos dividendos extraordinários, em que tivemos a decisão de pagamento de 50% dos dividendos extraordinários.”
Por outro lado, o especialista cita falas de Magda no passado, nas quais diz acreditar que grande parte dos investimentos, dos resultados da Petrobras, deveriam ficar no Brasil. “Então, fica claro pra mim que é uma presidente muito mais pró-governo do que pró-mercado”, concluiu Cohen.
Max Bohm, estrategista de investimentos da Nomos, projeta piora na governança corporativa da Petrobras, mas não vê respingos para o Banco do Brasil [BBAS3]. As ações do banco recuaram 1,29% hoje, a R$ 27,65 no fechamento, sob efeito do ocorrido na petroleira.
“Pelo menos nesse primeiro momento, não vejo esse problema diante do management que hoje está lá no banco”, diz o especialista. Todavia, a mudança na direção da Petrobras “sem dúvida” impõe maior risco “de que o governo vá para cima do Banco do Brasil também, querendo interferir nas diretrizes do banco.”
“Que o risco aumentou, de fato, aumentou”, diz Max, “mas sigo o construtivo com a tese do banco”. O Banco do Brasil negocia com múltiplos descontados e paga bons dividendos.
Quanto ao setor de petróleo, Max Bohm recomenda sair de Petrobras e migrarem para Prio [PRIO3] ou 3R Petroleum [RRRP3], posições relevantes no portfólio de ações produzido pelo analista com exclusividade para a Nomos.
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Com um portfólio equilibrado, a Carteira Max Ações tem superado o Ibovespa. Elaborada por Max Bohm, a carteira é uma seleção de ativos diversificados e de fundamentos sólidos.